A história e a cultura afrodescendente no Brasil teve seu desenvolvimento de forma silenciada e invisibilizada, já que sempre foi vista com preconceito e racismo por grande parte da sociedade. Portanto, a existência das religiões de matriz africana também não saiu ilesa da ignorância social e da intolerância religiosa, fazendo com que os adeptos tivessem que vivenciar sua religiosidade de forma abafada e amedrontada. No entanto, o mundo está em constante mudança e diferentes vozes hoje estão sendo ouvidas e discutidas de forma mais democrática.
Um dos motivos para essa visibilidade e busca por direito à diversidade religiosa é o aumento de jovens seguindo religiões afro-brasileiras, por serem pessoas ativas socialmente e digitalmente. A disseminação de discussões sobre as vivências com a fé está fazendo com o que o tabu seja quebrado.
Ilzver Matos, filho do Abassá Pilão de Oxaguian, no Aloque, é da família do Abassá São Jorge de Mãe Marizete. Ele avalia que as religiões afro têm despertado interesse em muitos jovens em Aracaju. “Há maior concentração de terreiros na zona Norte, mas com a Zona de Expansão em desenvolvimento muitos estão surgindo nessa área”.
Presença na zona norte
Ele explica que Aracaju não tem um mapeamento completo. Há poucos dados, mas as religiões originárias da África sempre ocuparam bons espaços nos bairros América, Siqueira Campos, Santos Dumont e Bugio. Tem presença forte na zona Norte da capital.
Segundo Díjna, o crescimento de jovens na crença afro-brasileira é importante para a construção de uma sociedade antirracista
Para entender melhor sobre o crescimento dos adeptos jovens à religião e a visibilidade que vêm construindo atualmente, a equipe do Jornal da Cidade conversou com Díjna Torres, que é jornalista, doutora em Antropologia Social.
Segundo Díjna, o crescimento de jovens na crença afro-brasileira é importante para a construção de uma sociedade e juventude antirracista, rica historicamente, socioculturalmente e de resistência. Na visão dela, há uma maior liberdade em expor a crença. “Eu acredito que o que existe é uma exposição maior dos adeptos, uma vez que são religiões estigmatizadas desde os tempos da escravidão no Brasil. Atualmente, com a inserção dos terreiros nas redes sociais, apresentando informações sobre as casas, sobre Orixás e conhecimento acerca dessas religiões, podem dar a entender que o número de adeptos esteja aumentando”, explica.
Como prova do preconceito ainda existente para com as religiões de matriz africana, é o fato da maior parte dos terreiros ainda se concentrar na periferia. Sobre a caminhada e dificuldades encontradas, a doutora em Antropologia declara que é árdua, mas há pequenas vitórias.
“Seria melhor se a Constituição e o Estatuto da Igualdade Racial fossem, de fato, respeitados. Ainda é muito difícil, sobretudo quando não há o respaldo do Governo Federal, que não prega o Estado laico, apesar de ser constitucional, e ainda há a incitação da intolerância religiosa por parte da bancada evangélica, isso dificulta demais a liberdade de culto. Ainda há muito o que avançar. Porém, há luta e há resistência sempre”, finaliza.
Jovens e o Candomblé
Yasmin Cristinne de Santana tem 20 anos e costuma dizer que não chegou ao Candomblé, mas que nasceu dentro dele. Para ela, fazer parte trouxe mudanças positivas para a sua vida e que a fé nos Orixás representa a vida, o amor e a compaixão.
“Eu encontro nos Orixás, nas cantigas e em cada ritual a paz que a minha vida precisa. A fé no meu Orixá que me faz forte, é quem me ajuda a vencer as minhas ansiedades e medos. Eu tenho a força para buscar e o meu Orixá me mostra o caminho”, diz.
Sobre o preconceito e a intolerância religiosa, a jovem também teve que lidar com os episódios. “Já sofri e acredito que não tenha ninguém dentro da religião que nunca tenha sofrido algum tipo de preconceito. Durante toda a minha vida recebi olhares preconceituosos e piadas sem graça, desde a escola. Hoje moro ao lado de uma igreja evangélica e é horrível ouvir o tamanho desrespeito nas falas sobre os Orixás, chamando de “macumba”, desabafa.
Texto publicado originalmente no Jornal da Cidade, edição de fim de semana