Por Gilvan Manuel *
Chegou setembro, mês em que o governador Belivaldo Chagas (PSD) marcou para abrir a discussão sobre a sua sucessão, entre os aliados. Isso não significa que o nome do candidato a governador do bloco será definido imediatamente. A previsão é de que as negociações sejam lentas, em função do número de pretendentes e o martelo seja batido somente em abril de 2022, 90 dias antes do prazo previsto para a realização das convenções partidárias que formalizarão candidaturas e coligações.
Como sabe que um nome do PT nunca seria escolhido por Belivaldo, o senador Rogério Carvalho trabalha a sua candidatura a governador desde o momento em que foi eleito em 2018. Percorre todo o estado e nas eleições de 2020 apoiou candidatos em todos os municípios, independente de siglas partidárias. Até o ex-presidente Lula já anunciou a candidatura de Rogério, que conseguiu pacificar o PT sergipano e é visto com simpatia por muitos aliados do bloco governista.
Além de Rogério, que deverá ser candidato com ou sem o apoio de Belivaldo, os deputados federais Fábio Mitidieri (PSD) e Laércio Oliveira (PP) trabalham com o mesmo objetivo. O conselheiro do TCE Ulices Andrade e o prefeito Edvaldo Nogueira (PDT) também estão no páreo, mas são discretos nas conversas.
Muitos aliados torcem o nariz para uma eventual candidatura de Mitidieri, não por falta de confiança, mas pelos seus 44 anos de idade. É considerado muito jovem para a empreitada e que poderia aguardar pleitos futuros.
Entre os conselheiros, a candidatura de Ulices é considerada certa e já foi até tema de debate em plena sessão do pleno transmitida pelos canais do TCE. Aos 65 anos, Ulices foi deputado estadual por cinco mandatos consecutivos, líder do governo, secretário de estado e presidente da Assembleia Legislativa por dois mandatos. Depois que foi nomeado conselheiro, elegeu o filho Jeferson para três mandatos seguidos na Alese, onde ocupa a primeira secretaria, cargo mais importante depois do presidente. Ulices é tido como um bom articulador, transita bem em todo o estado, tem forte influência eleitoral no sertão e baixo São Francisco e no TCE transformou o seu gabinete num instrumento de orientação a administradores, principalmente de municípios pequenos.
Laércio Oliveira (PP) está no quarto mandato de deputado federal, é afinado com o presidente Bolsonaro e defende o setor produtivo. Foi relator do projeto que regulamentou a terceirização de mão de obra no Brasil, precarizando o emprego. Aliados acreditam que mesmo dizendo que é candidato a governador, ficaria satisfeito se recebesse indicação da maioria do bloco para disputar a única vaga para o Senado Federal que estará em jogo em 2022.
O prefeito Edvaldo Nogueira ainda enfrenta a pandemia da covid-19 e dificuldades naturais de quem acabou de ser reeleito. Há dúvidas se o eleitorado compreenderia uma eventual renúncia tendo exercido menos da metade do mandato. Em 2004, quando Marcelo Déda foi reeleito prefeito de Aracaju todo mundo já sabia que ele renunciaria em abril de 2006 para disputar o governo do estado. Na época, Déda era uma unanimidade entre todos os que eram contrários ao então governador João Alves Filho.
Hoje, a exceção do PT, o governador parece ter o controle da sua sucessão, mas isso pode mudar caso o TSE rejeite o recurso da chapa Belivaldo/Eliane Aquino (PT), cassada pelo TRE em 2019. Não há data prevista para o julgamento. Existe também a possibilidade de Belivaldo ser mordido pela mosca azul e decidir se desincompatibilizar do cargo em abril de 2022 para disputar o senado federal, como ocorreu em 2018 com Jackson Barreto.
A disputa majoritária em 2022 se dará no âmbito governista. O senador Alessandro Vieira (Cidadania), eleito na enxurrada policialesca de Bolsonaro, hoje faz oposição e na semana passada anunciou a sua pré-candidatura a presidente em função da boa repercussão de sua atuação na CPI da Pandemia.
Pode até ser que apareçam nomes novos, mas não com visibilidade eleitoral suficiente para atrapalhar a disputa entre Rogério Carvalho e o candidato de Belivaldo.
* É editor do Jornal do Dia
(Texto publicado Originalmente no Jornal do Dia)