Por Marcelo Rocha *
“Somos muito bem pagos para enganar países ao redor do mundo e subtrair-lhes bilhões de dólares. Grande parte do trabalho é encorajar os líderes mundiais a fazer parte de uma extensa rede de conexões operacionais que promovem os interesses comerciais americanos. No final das contas, tais líderes acabam enredados nessa teia de dívidas que assegura a lealdade deles”, disse John Perkins, numa entrevista concedida à revista “Caros Amigos”, matéria da jornalista Natália Viana.
Pode parecer absurdo e poderia falar de como se opera nos países ricos em recursos minerais e o que eles sofrem, inclusive os do oriente médio e, mais gritante, os países africanos. Mas, somente é preciso ter em mente o seguinte: você pode achar ser tudo besteira, mas, para tanto – e para ser coerente, é preciso duvidar que o Brasil foi explorado por Portugal e Inglaterra. Pura lógica.
“Impeachment não é golpe”
Claro que não é, é um instrumento utilizado quando os estados democráticos atingem seus limites, exatamente, em nosso caso, quando um presidente ou um ministro do STF extrapola os limites de sua atuação, em casos absolutamente bem delineados, como os crimes de responsabilidade. O impeachment não é remédio para destituir governo ruim. Democraticamente, governo ruim se muda no voto. Portanto, querer usar o impeachment para derrubar um governo ruim é golpe, puro e cristalino.
Além disso, complementando o quadro – misto de realismo fantástico com Kafka – temos a saída do PMDB do governo… como diria um ilustre professor cearense de Direito Civil: E pode?!?!?!?!?!?!?!
Ora, o PMDB é tão governo quanto o PT, tanto é, que tem o Vice presidente eleito. Portanto, só existe uma única opção de sair do governo: com a renúncia de Michel Temer da vice-presidência. Afora isso, assume o total e pleno casuísmo – óbvio que para os nossos golpistas de cada dia, não há nenhum conflito ético político – mas pudores não mais existem, já entramos no vale tudo, principalmente os que creem dogmaticamente no jornal nacional.
Mas o fato é que se “o PMDB” desembarcou do governo pra apoiar o “impeachment jamesdean”¹, sem a renúncia de Temer, independente de qualquer outro motivo que o partido alegue, temos simplesmente um partido se colocando contra um governo, buscando destitui-lo, para que o vice do próprio partido assumir. Casuísmo dos mais puros….vergonha bem longe.
“Mas a economia vai de mal a pior, isso é motivo suficiente!”
O açodamento nunca foi nem será bom conselheiro. Se a economia vai mal, é preciso saber por qual motivo ela vai mal. O mínimo conhecimento de macroeconomia vai lhe apontar duas questões gritantes: a primeira, a crise mundial e seus reflexos na economia de todos os países, principalmente nos exportadores de “commodities”. A segunda: há erros gritantes no governo, boa parte deles implementados para agradar o rentismo, o mercado financeiro – mercado financeiro que foi o próprio causador da crise de 2007/2008 e 2012. Ora, assim sendo, é esdrúxulo acreditar que basta trocar o governo que resolve, como se economia fosse igual a banco imobiliário. Só se acreditarmos no poder da fada mágica, que ao trocar de governo, irá acionar sua “varinha de condão” e dirá algo do tipo: “e agora vai embora, crise malvada!”
“basta de corrupção”
Tirar Dilma, através de um golpe paraguaio – sim, em 2012 houve algo semelhante, com uso da suprema corte de lá, que derrubou o governo em menos de 48 horas – para empoderar Eduardo Cunha, Aécio ou Michel Temer, sob a justificativa de que “basta de corrupção!” ou é uma piada de mau gosto ou desinformação elevada à milésima potência. Ai fica a pergunta: “É sério, isso?”
“agora vai, estamos vivendo um momento importante”
É verdade, desde 2012 ouvimos frases impressionantes de juristas/advogados, que nem na boca de rábulas se justificariam – ao menos dos bons rábulas: “vou condenar sem provas”, “o réu tem que provar sua inocência”, “a verdade (creio que é a processual penal) é uma quimera”, além de virmos um “mandado judicial de prisão em flagrante” e uma intimação com “medida cautelar” de condução coercitiva. É muita engenhosidade mesmo, parece aquela frase de 1º de Abril: “a revolução se legitima por ela mesma!”
Sim, está indo mesmo, o impeachment golpista de Dilma sem base jurídica está andando a passos largos, capitaneado por um Deputado – Eduardo Cunha – enrolado na justiça suíça, devido à movimentação ilegal de U$S 500.000,00 em contas bancárias naquele paíse com processos aqui no Brasil, que, por acaso se encontram parados. Comentário? São esses os heróis da luta contra a corrupção? PARABÉNS!
E sim, o desmonte do Estado de direito, sem nenhum motivo para comemorar, é um momento importante, infelizmente.
O que temos hoje?
O ódio que viceja dia a dia e parece ter atingido um nível assustador. Parece uma ação orquestrada, pois as delações premiadas vazam de forma parcial e coordenada. Quem conhece os detalhes da lava a jato, não reconhece-a no noticiário. Pois a operação avança em todas as direções partidárias, apesar de que nos vazamentos e no noticiário, só apontam em uma única. Fazendo o ódio refluir apenas nesta.
Pra lembrar, as delações premiadas não podem vazar, sob risco de anulação…
O fato é que, nas últimas manifestações pró-impeachment, algumas das que se julgavam lideranças, foram hostilizadas, o que ao menos mostra que a verdade começa a aparecer.
Mas, ainda assim, há um total descrédito na política. Mas a política não pode ser desacreditada, pois é algo necessário à vida em sociedade. Afora o fato de que, como diz Mauricio Dias: “…muito mais gente. Além daqueles que marcharam a 13 de março, desacredita da política. A política, no entanto, adora todas elas. É nesse mundo de cidadãos indiferentes que os interesses mais ocultos, os mais sinistros, normalmente buscam apoio.”
A estes, que se declaram indiferentes à política mas terminam lutando apenas contra um lado, em regra, Maurício Dias diz que:
“Pode-se dar a isto o nome de politização facínora dos despolitizados”
Infelizmente a Consciência do brasileiro foi tomada pelo jornal nacional, a prova é a pouca importância dada à lista da lava a jato, fornecida pela Odebrecht…..deixa pra lá…
É isto!
E se houver o golpe, fico a refletir sobre quem será o Auro Moura de Andrade, que irá declarar a presidência vaga? Quem será o Tancredo Neves, que chamará o Auro de “canalha”, duas vezes? E quem será o Rogê Ferreira, que dará, na cara de Auro, duas cusparadas cívicas?
Prefiro a Constituição…
* Marcelo Rocha é capitão da Polícia Militar de Sergipe.