Em um pequeno espaço improvisado no assentamento Rosa Luxemburgo II, em São Cristóvão, na Grande Aracaju (SE), um grupo de 14 mulheres trabalha apressado. Entre assadeiras, formas e fornos, as agricultoras correm para produzir um catálogo com 12 tipos diferentes de bolo, vendidos semanalmente na Central Estadual de Abastecimento (Ceasa) e em feiras de Aracaju e São Cristóvão.
A produção, iniciada há poucos meses e ainda realizada de forma artesanal, já começa a ampliar a renda das famílias e a alimentar os sonhos das agricultoras. “Tudo que a gente leva para as feiras vende e tem meses em que o que a gente ganha já ajuda bastante em casa. A nossa idéia é fazer isso aqui crescer cada vez mais, para melhorar a renda de todo mundo”, explicou Maria Gilda Alves, uma das líderes do grupo.
A poucos metros dali, no mesmo assentamento, um segundo grupo, formado por seis agricultoras, acompanha o nascimento de outro projeto. Em seus quintais, na agrovila do assentamento, começam a surgir as primeiras minigranjas, materializando uma proposta que pretende conciliar os afazeres domésticos com a criação de galinhas para a produção de ovos.
“É uma oportunidade para a gente crescer. Eu já estou envolvendo minha filha, que vai me ajudar aqui. Tenho muita confiança e uma expectativa enorme de ver o trabalho caminhando e a gente conseguindo melhorar a renda das nossas famílias”, afirmou Frankeline Chagas Chaves, membro das “granjeiras” do Rosa Luxemburgo II.
Ambos os projetos, que começam a modificar a rotina das famílias, refletem uma tendência crescente nas áreas de reforma agrária de Sergipe: o surgimento de grupos femininos com participação cada vez mais relevante na composição econômica dos assentamentos.
Com um vasto leque de atividades, que vai do cultivo de hortaliças e ervas medicinais à produção de roupas, sorvetes e biscoitos, os grupos, espalhados por todo o estado, começam a romper barreiras, transformando o papel feminino nos assentamentos e alavancando a renda de centenas de famílias.
“Os grupos femininos que temos aqui em Sergipe apresentam um nível de organização bastante interessante. As mulheres, geralmente, precisam enfrentar barreiras, como o machismo e a resistência dos maridos, por isso, acabam formando grupos mais unidos. Elas são muito dedicadas e determinadas a melhorar a participação na renda das famílias”, analisou Evelyne Carvalho, membro da coordenação do programa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) do Incra, que atua junto aos grupos femininos.
Investimento estratégico
Vistos como instrumentos importantes para a melhoria da renda das famílias assentadas em Sergipe, os grupos femininos são parte da estratégia adotada pelo Incra para promover o desenvolvimento das áreas de reforma agrária no estado. “Temos muitos exemplos bem sucedidos em Sergipe e é visível a importância cada vez maior que as agricultoras estão alcançando na dinâmica econômica dos assentamentos. É um trabalho que, aos poucos, está modificando não apenas a renda, mas toda a estrutura social das famílias, com a valorização da mulher”, explicou o superintendente regional do Incra em Sergipe, André Luiz Bomfim Ferreira.
Além do trabalho realizado pelas equipes de assistência técnica, que auxiliam na formação, organização e capacitação dos grupos femininos, o Incra investe diretamente na estruturação produtiva dos mesmos.
Por meio de uma linha de crédito, o “Fomento Mulher”, a autarquia oferece R$ 3 mil por agricultora, para aquisição de ferramentas, máquinas ou produtos que possam alavancar uma atividade econômica. O crédito é pago mediante a aprovação de um projeto produtivo.
Somente este mês, em Sergipe, foram investidos por meio dessa linha de crédito R$ 297 mil, contemplando 99 agricultoras, em três assentamentos do estado. A previsão é de que até o final de 2015, outras duas mil agricultoras sejam beneficiadas.
Entre os beneficiados estão os dois grupos do assentamento Rosa Luxemburgo II. Os recursos estão sendo aplicados na construção das minigranjas e na aquisição das primeiras galinhas do grupo de granjeiras e na compra de novos fornos e equipamentos para alavancar a produção do grupo de boleiras.
Agroindústria
Outra aposta do Incra para promover o desenvolvimento dos assentamentos em todo o país, a implantação de agroindústrias, encontrou nos grupos femininos sergipanos um sólido alicerce.
No estado, além da ainda embrionária unidade de bolos do assentamento Rosa Luxemburgo II, todas as outras quatro agroindústrias já consolidadas nasceram, se mantêm e são geridas por grupos femininos.
No caso de maior destaque, a agroindústria Doce Lar, no assentamento Caraíbas, em Japaratuba, um grupo feminino, atuando sob modelo cooperativo, consolidou a produção de bolos, biscoitos e doces típicos que, por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), são fornecidos a escolas de Pirambu, Canindé do São Francisco e do próprio município.
Esse e os outros três projetos, que consolidaram agroindústrias em assentamentos de Pirambu, Poço Redondo e Estância, foram financiados com recursos do Programa Terra Sol, mantido pelo Incra.
Fonte e foto: Ascom/Incra