Por Gilvan Manuel *
Aos que já incluem o nome do prefeito reeleito de Aracaju, Edvaldo Nogueira (PDT), como candidato natural a governador do estado em 2022, ele mesmo tem dito a assessores e pessoas próximas que só há uma condição para isso: “Se um cavalo passar selado” perto dele, ditado popular que recomenda nesses casos, a montar, “porque pode ser que ele passe apenas uma vez”.
E como isso poderia ocorrer? Se o bloco aliado, no comando do estado desde 2007, viesse a rachar no período previsto para a desincompatibilização – mês de abril – e o seu nome passasse a ser consenso para unificar o grupo. Hoje, além do nome de Edvaldo, estão na pauta também os dos deputados federais Fábio Mitidieri (PSD) e Laércio Oliveira (PP), além do conselheiro do TCE Ulices Andrade, ligado ao PSD, que também precisaria de tempo hábil para renunciar ao cargo. Isso só aconteceria se houvesse previamente uma definição em torno do seu nome.
No caso do PT não existe dúvidas de que o partido se afastará em função da candidatura do senador Rogério Carvalho ao governo. Ele participou ativamente da campanha municipal de 2020 de olho em 2022. O racha na eleição de Aracaju, quando Márcio Macêdo fez uma campanha atacando Edvaldo e denunciando suposto uso da máquina do estado na campanha pela reeleição, foi uma prévia do rompimento. Da mesma forma que foi a substituição da secretária estadual da Inclusão e Assistência Social, Lêda Lúcia, pela técnica Lucivanda Nunes Rodrigues. A vice-governadora Eliane Aquino, responsável direta pela indicação, disse que foi em comum acordo, passando panos quentes e adiando o afastamento definitivo para abril de 2022. Nem a vice e muito menos o presidente estadual do PT, deputado federal João Daniel, que controla a Secretaria da Agricultura, querem o racha neste momento.
O deputado Laércio fala da candidatura ao governo, mas poderia ser acomodado com a vaga de senador, mesmo sendo uma disputa acirrada já que a senadora Maria do Carmo Alves (DEM) vem dando sinais de que vai mesmo disputar a reeleição. Ela é uma liderança forte e ainda tem o simbolismo de ser a viúva do ex-governador João Alves Filho, morto recentemente. O DEM apoiou a candidatura de Edvaldo no segundo turno, mas em muitos municípios participou do pleito ao lado do PT, estimulado por Rogério Carvalho.
No âmbito do PSD – o partido do governador Belivaldo Chagas – a disputa interna se dará mesmo entre Ulices e Fábio Mitidieri. O conselheiro tem um intenso trabalho de bastidores e força entre os aliados. Foi responsável pela a eleição de vários prefeitos, mas o seu sobrinho Kaká Andrade perdeu em Canindé do São Francisco, município mais importante em disputa no seu âmbito. Fábio trabalha sem parar, participou de campanhas em todos os municípios, diz abertamente o que pensa, mas não parece disposto a ir ao tudo ou nada para ser o candidato a governador. Um exemplo foi dado na disputa pelo candidato a vice-prefeito na chapa de Edvaldo. Fábio defendia a indicação de Jorge Araújo Filho, mas acabou cedendo à pressão do governador para que a candidata fosse a delegada Katarina Feitoza.
Somente num confronto interno forte é que o nome do prefeito de Aracaju poderia entrar no jogo. Quando os personagens em disputa são Ulices, Mitidieri e Laércio, no entanto, o risco de isso acontecer é praticamente zero. O que pode provocar uma mudança no quadro é o julgamento de Belivaldo e da vice-governadora Eliane Aquino pelo TSE. A chapa foi cassada no TRE por 6 X 1 e, com a volta dos julgamentos presenciais, é possível uma decisão ainda no primeiro semestre do 2021.
Para Edvaldo, com juízo e bom senso o grupo vai sair ainda mais fortalecido em 2022. Mesmo sem ter mais a força de lideranças marcantes, como o ex-governador Marcelo Déda.
* É editor do Jornal do Dia
(Texto publicado Originalmente no Jornal do Dia