Por Antônio Samarone *
O Poder Público defronta-se com uma contradição: precisa retomar a economia, com a doença em crescimento. O governo não testa, não monitora, não isola os transmissores, não conhece as taxas de contágios, não identifica os focos, em suma, anda no escuro.
Sem informações, perdido, o Governo de Sergipe anda em zigue-zague. Não ata, nem desata.
Apresentou um “plano de reabertura das atividades econômicas” fictício, com protocolos inventados, sem nenhuma relação com a transmissão da doença. Eu sei, a doença é nova, desconhecida, mas não precisava tanta bobagem.
O governo fez um cronograma: a partir de tal dia pode-se cortar o cabelo, mais na frente está autorizado a se fazer a barba. Os restaurantes podem abrir com a metade das mesas, sem música ao vivo. As pedicures e manicures só em Shoppings. Comércio de Rua das 10 às 14 horas.
Passando a impressão que tudo isso foi estudado, avaliado por gente experiente, que conhece os segredos da Peste.
A lógica é simples, como o governo não faz testagem, não sabe, por exemplo, quantos músicos estão infectados e transmitindo a doença, proíbe-se a todos de trabalharem. Uma estupidez conveniente.
Ninguém reage, pensando que essas medidas são determinações científicas, sacrifícios necessários para evitarmos as mortes.
O “Plano” Atribuiu a cada etapa uma cor, por recomendação dos físicos. Legalizou esse besteirol por decretos, publicados no diário oficial. E a Imprensa encarregou-se da divulgação solene.
Como parte da encenação, o governo mobilizou as forças de segurança, para garantir o necessário cumprimento da Lei.
Salvos as recomendações óbvias, evitem aglomerações, usem máscaras e lavem as mãos, a maioria dos protocolos são exigências, restrições e rituais simbólicos, visam iludir a sociedade, acalmá-la, passar uma sensação de segurança.
Em cada esquina, as empresas colocarão funcionários medindo a temperatura do povo, com aqueles termômetros digitais, que aparecem na televisão. Fiquem tranquilos, o governo está zelando por vocês.
Enquanto isso as pessoas continuam morrendo nas enfermarias, sem acesso as UTI públicas.
O Governo mente, faz de conta!
Nesse momento, milhares de pessoas testadas positivas, estão em suas casas, acompanhadas por telefone, transmitindo a Peste livremente para familiares e vizinhos.
li na imprensa, que a prefeitura de Aracaju mandou, a partir de ontem, uma equipe de saúde para visitar esses infectados. Eu fiz duas perguntas básicas: essas equipes estão devidamente protegidas e equipadas para realizar testes em todos os comunicantes. A resposta foi negativa.
Sem testagem em massa, nada feito, não existe controle. Não se enfrenta a pandemia com decretos e propaganda. A sociedade está cansando. Não se engana a todos por muito tempo.
Um exemplo didático: um edifício com 48 apartamentos, todo mundo entra e sai pelos mesmos elevadores. Com o fim confinamento, se não houver testagem periódica, os moradores ficarão com medo uns dos outros. Todos passarão a ser suspeitos.
Como retornar as aulas sem testagem em massa de professores e alunos? Isso será necessário por muito tempo. A doença deixará de ser epidêmica, mas o vírus permanecerá entre nós, causando surtos localizados e, não havendo controle, podendo acontecer uma segunda rodada.
Nenhuma saída da Pandemia é viável sem a ampla participação da sociedade. Todos envolvidos, colaborando, repassando experiencias bem sucedidas. Procurando caminhos inteligentes de superação.
A transição será dolorosa e sofrida. As sequelas serão imensas para todos, mas em especial, para os idosos. A discriminação com os idosos será insuportável. Vamos reagir?
Respondendo à pergunta do título desse artigo: em Sergipe, o poder público atrapalha mais do que ajuda. Não tenho dúvidas! Precisamos revogar os poderes imperiais que delegamos a essa gente.
Trocamos a liberdade pela segurança, e ficamos sem as duas!
* É médico sanitarista e professor da Universidade Federal de Sergipe.