Um estudo feito pela oceanóloga Pietra Dupont identificou as principais áreas de alimentação das tartarugas-oliva. Foram usadas na pesquisa 13 fêmeas adultas no momento da desova na praia de Pirambu, em Sergipe. Descobriu-se, por exemplo que nove delas se alimentam em regiões oceânicas e quatro em regiões costeiras.
As tartarugas marinhas são encontradas em diversas regiões do mundo. Passam longos períodos nos locais que se alimentam e na época de reprodução fazem extensas migrações, depois retornam às mesmas áreas de alimentação. Por isso, o conhecimento dos habitats utilizados nos ajuda a compreender como esses animais incríveis vivem, sendo fundamental para sua conservação e proteção.
O estudo foi feito pela oceanóloga Pietra Dupont na Universidade Federal do Rio Grande-FURG, sob orientação das professoras Danielle da Silveira Monteiro e Silvina Botta. E o objetivo foi identificar as principais áreas de alimentação das tartarugas-oliva a partir da análise de isótopos estáveis nas células vermelhas do sangue associada à telemetria satelital. A equipe da Fundação Projeto TAMAR realizou a amostragem de treze fêmeas adultas no momento da desova, entre julho de 2018 e fevereiro de 2019, na praia de Pirambu, em Sergipe. As tartarugas tiveram amostras de sangue coletadas para a análise de isótopos estáveis de carbono (ẟ¹³C) e nitrogênio (ẟ15N). E, por fim, foram equipadas com transmissores de satélite.
Dois grupos de tartarugas
A partir da análise de isótopos estáveis diferenciamos dois grupos de tartarugas. Das treze fêmeas, nove se alimentam em regiões oceânicas e quatro em regiões costeiras. Além disso, também identificamos com a telemetria o destino migratório pós-reprodutivo de doze tartarugas: metade apresentou um deslocamento oceânico em direção ao continente africano e o restante um deslocamento costeiro ao longo do litoral brasileiro. Das fêmeas costeiras, duas foram em direção ao norte/nordeste da costa brasileira e as outras quatro ao sul/sudeste da praia de desova.
Nesse estudo, a telemetria satelital também comprovou que a análise de isótopos estáveis teve uma eficácia de 83,33% na identificação e separação dos grupos de tartarugas que se alimentavam em áreas costeiras e oceânicas. Apenas duas fêmeas foram classificadas em grupos distintos pelos dois métodos.
Com a associação dos dois métodos, vimos que os animais costeiros apresentaram destinos e comportamentos particulares, com uma grande diversidade no modo que vivem e interagem com seu habitat. Enquanto as tartarugas com comportamento oceânico indicaram uma rota migratória semelhante, além de uma menor variedade de habitats e recursos utilizados. Portanto, o estudo também reforçou a fascinante complexidade das tartarugas-oliva e a diferença de comportamento entre indivíduos.
O que são isótopos estáveis?
Isótopos estáveis são átomos de um mesmo elemento químico, mas que se diferenciam pelo número de massa. A composição de isótopos estáveis em tecidos biológicos é medida através de uma razão entre a quantidade de isótopos com maior número de massa a respeito dos com menor número de massa.
Os tecidos dos seres vivos refletem a composição do seu alimento e cada região geográfica tem composições de elementos químicos diferentes, então é possível usar os isótopos estáveis para identificar e diferenciar locais onde o animal se alimentou. Além disso, conseguimos estimar qual a posição trófica do animal já que em níveis tróficos maiores os valores isotópicos tende a aumentar também.