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Feijoada ao óleo de fuzil

A história que se segue é da lavra do jornalista Luiz Eduardo Costa, que a ouviu do memorialista Murilo Merlins: Corria o ano trágico de 1964. O mês deveria ser junho ou julho. Os presos políticos da primeira fornada logo após a vitória da redentora, em primeiro de abril, já estavam quase todos soltos. Embora ameaçados de perderem os empregos, alguns funcionários dos Correios resolveram fazer uma comemoração num dia de sábado.

Num bar do centro de Aracaju mandaram preparar uma portentosa feijoada, que foi colocada em dois grandes caldeirões e transportada para a praia de Atalaia. Lá estavam o próprio Murilo Mellins, Gil Natureza, Paulo Barbosa, Maurino Ramos, Gervásio Careca e outros. Nisso, chegam duas viaturas do Exército conduzindo soldados e um sargento. Foram todos empurrados contra uma parede, ficando de costas para os militares, que, com a ponta dos fuzis, futucaram-lhes o corpo, fazendo um inovador baculejo.

Como não havia ninguém armado, se voltaram contra a feijoada. Enfiaram as baionetas nos caldeirões e puseram-se a mexer a suculenta. Como só encontrassem tripa, costelinha, jabá, mocotó e muito feijão, investiram contra as garrafas de vodka, cachaça e cerveja, e quebraram todas, lançando-as contra o paralelepípedo da rua. Depois de cumprida a missão, certamente relacionada à segurança nacional, os militares voltaram às viaturas e foram saindo. Ai, o grupo não conteve uma sonora e coletiva gargalhada.

O sargento retornou colérico: “Por acaso vocês estão rindo do glorioso Exército Brasileiro, seus comunistas de merda?”. E ouviu uma temerária resposta: “Não, senhor, é porque disseram que uma feijoada mexida com baioneta fica bem mais gostosa”. Perderam toda a comida, pois o óleo dos azeitados fuzis ficou sobrenadando nos panelões da feijoada. Depois, ficaram sabendo do motivo da Operação Pé de Porco. Algum dedo duro telefonou para o quartel do 28º Batalhão de Caçadores e passou a informação: “Tem uns subversivos aqui preparando uma feijoada e dentro dela vão esconder uns coquetéis molotov”. Pode uma coisa dessa?

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