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Forças volantes em Sergipe, seus chefes e comandantes gerais da PM

Por Eduardo Marcelo Silva Rocha *

Nos estudos do cangaço, o trato acerca das forças Volantes é ainda um assunto muito em aberto. Isso ocorre devido a vários fatores, do que citamos aqueles decorrentes dos registros oficiais que não mais existem ou que não foram anotados com o devido cuidado – ao menos pensando pelo viés histórico.

Outro elemento que ajuda a confundir é o acordo feito – necessário, frise-se – entre os governadores que permitiu o trânsito de tais forças entre os estados, como forma de melhorar a efetividade da perseguição aos cangaceiros, uma vez que mitigava a questão da competência funcional dos policiais, que até então era limitada pelas divisa dos Estados. Por isso, às vezes nos deparamos com volantes homônimos, mas integrando forças diferentes – gerando algumas dificuldades de identificação.

Nesse sentido, cito o caso do Sargento Epaminondas, o qual temos um registro de um integrante de Volante pernambucana, conforme levantamento feito por Bismarck Martins em seu livro sobre o tema. Ao mesmo tempo em que temos registros de um Epaminondas que chefiava uma Volante do nosso Estado.

Volante do sargento Epaminondas em Sergipe. Fonte: lampiaoaceso.blogspot.com

Neste caso, existem ao menos duas imagens referenciadas como sendo da Volante do Sgt Epaminondas, em Sergipe. Ambas (figuras 1 e 2) em momentos diferentes.

As duas imagens guardam profundas semelhanças, como o Serrote ao fundo, a baixa e a tropa agrupada. É possível que seja no mesmo local. No caso, Pernambucano de Melo afirma ser em Carira.

O que é razoável, uma vez que existia uma Volante sergipana comandada pelo Sargento Epaminondas e que de fato era sediada no povoado de Carira.

Há poucos anos, Robério Santos defendeu que o registro da primeira foto não ocorreu em Carira, mas em outro Município sergipano, salvo engano, Nossa Senhora das Dores.

Volante do sargento Epaminondas em local semelhante ao da imagem 1, que segundo Frederico Pernambucano de Melo, seria no Município de Carira. Acervo de Pernambucano de Melo.

Conforme a imagem 3, realmente há semelhança entre os locais. Além disso, considerando que as Volantes se movimentavam até entre Estados, é possível sim que a Volante de Carira (Epaminondas), tenha feito registros fotográficos em outra cidade diversa da sua sede.

Em resumo, não podemos cravar se os registros foram feitos de fato em uma cidade ou em outra, por falta de informações preliminares mais precisas. O que sabemos de modo mais contundente é que a referida Volante sediava-se em Carira, sendo Comandada pelo Sgt. Epaminondas, em 1934.

Reforçando o entendimento, notícias de época apontam a participação de Epaminondas na caravana oficial do Departamento de Segurança (hoje Secretaria de Segurança Pública), sob Comando do Chefe de Polícia, o Maj Oswaldo Nunes, acompanhado do Comandante da Polícia Militar, o Coronel Rivaldo Brito e do Médico Carlos Menezes (IML), responsável pela exumação do cadáver de Zé Baiano e seu grupo.

Colagem comparativa da Volante de Epaminondas e uma localidade no Município de Dores, por Robério Santos. Fonte: Grupo de Facebook.

Como se vê na figura 4, a Volante de Epaminondas saíra de sua sede, Carira – local onde efetivamente era sediada uma Volante da Polícia de Sergipe – e deslocara-se ao Alagadiço, juntando-se ao efetivo desta povoação, em apoio à Caravana acima mencionada.

Não se encontrando registros sobre as andanças do Epaminondas da Polícia de Pernambuco em Sergipe, tendemos a crer que o Epaminondas das fotos é de fato comandante de Volante da Polícia sergipana.

Voltando ao contexto dos chefes de Volantes, podemos citar alguns comandantes  como o Capitão João Lins (em Poço Redondo), os Tenentes Stanley Fernandes da Silveira (Destacamento volante de Serra Negra, depois Cipó do Leite), Agnaldo Alves Celestino (Cipó do Leite), Luiz de Carvalho Costa, Edilberto de Almeida Menezes, Manoel Ramos dos Santos (Destacamento volante de Santa Brígida), José Vieira de Matos Ten comissionado do 28º BC (Destacamento de Canindé), Hermeto Rodrigues Feitosa (Destacamento volante de Carira), Ten comissionado 28º BC Carivaldo (ainda sem o sobrenome) e o Civil Baltazar, da família dos Cearás.

Para não gerar dúvidas, havia rotatividade no preenchimento das funções acima.

Excerto da notícia da exumação do grupo de Zé Baiano, indicando a participação do sargento Epaminondas junto à equipe da Chefatura de Polícia de Sergipe.

Aqui cabe tomar Baltazar para esclarecer outra questão. Ele, membro destacado da família dos “Cearás”, não integrava os quadros do 28º BC ou da Polícia Militar. Ele fazia parte de uma outra solução existente à época: os contratados, que nada mais eram civis que eram aceitos como Volantes, para reforçar temporariamente os quadros de combate ao banditismo, sem tomar parte efetivamente das Forças.

Outro aspecto interessante que observa-se, é que alguns desses destacamentos parecem ter sido sediados no Estado da Bahia – Santa Brígida, Serra Negra, o que demonstra quão complexo eram essas ações contra o banditismo, bem como a necessidade de soluções incomuns.

O próprio acordo dos governadores assegurando trânsito livre às Volantes pelas divisas estaduais é um forte indicativo.

Voltando aos militares efetivos.

Da lista de efetivos da Polícia Militar, podemos destacar dois nomes que merecem um olhar mais específico: Stanley Fernandes da Silveira e Hermeto Rodrigues Feitosa.

O primeiro, comandou destacamento Volante até início da década de 30. Stanley também, antes, participou da defesa do Palácio do Governo do Estado em 1924, por ocasião da Revolta do 13 de Julho, da qual sairia morto o Soldado José Rodrigues de Oliveira. Stanley  deixaria as forças Volantes em 1932 e assumiria  o Comando Geral da corporação de Novembro de 1946 à Abril de 1947. Não por acaso, hoje tem seu nome marcado no Bairro São José, especificamente em uma das ruas em que se acessa o Hospital São Lucas.

Hermeto Rodrigues Feitosa na galeria da Comandantes Gerais da PMSE. Fonte: PMSE.

Já Hermeto iria um pouco mais longe. Em 1931 (provavelmente) integra as forças volantes no estado e, mo ano seguinte, compôs o efetivo da Polícia que foi acantonado em São Paulo, integrado às forças legalistas que combateram a insurreição de 1932.

O 2º Ten Hermeto, na ocasião em São Pualo, destaca-se como comandante da 3ª Cia, onde teria seu destaque premiado com 2 promoções por bravura, alçando  em poucos meses  o posto de Capitão.

Promoções estas ratificadas, no retorno a Sergipe, pelo Interventor Augusto Maynard Gomes. No dia 1º de Janeiro de 1946, Hermeto é nomeado Comandante Geral da PMSE, função na qual seria exonerado a pedido 11 meses depois. Hermeto sai da corporação para ser Deputado Constituinte e  sua carreira política deslancha e da qual só se afastaria nos anos 1970.

Curiosamente, o sucessor de Hermeto no Comando da Polícia Militar seria, exatamente, o  Cel Stanley  da Silveira.

Dois volantes que se tornaram Comandantes Gerais.

PS. Não postamos foto do Cel Stanley, por não termos nenhuma disponível. Precisamos de uma para compor uma documentação histórica, caso algum leitor, amigo ou familiar tenha alguma disponível, ficaria grato em recebê-la em meu e-mail eduardomarcelosilvarocha@yahoo.com.br.

* É tenente coronel da PM/SE e membro da Academia Brasileira de Letras e Artes do cangaço (eduardomarcelosilvarocha@yahoo.com.br)

 

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