Por Antonio Samarone *
Flagrei dois saruês na janela da cozinha comendo a ração dos gatos. Saruês de condomínio, semi-domesticados.
O nosso saruê é o gambá, sariguê, timbu, tem vários nomes, um bichinho saboroso e inofensivo. Não é um roedor, como se pensa. Ele é da distinta família dos marsupiais, parente próximo dos cangurus. Um mamífero sem placenta.
Saruê não é parente dos ratos. A ignorância humana persegue os saruês pela feiura e pelo fedor.
Quando um mal-assombrado tinha daquelas sovaqueiras
encruadas, que não acaba nem passando limão, se dizia que ele carregava um saruê debaixo do braço!
Uma bobagem, extraindo-se a glândula fétida do saruê acaba-se o mal cheiro, e a carne é tenra e deliciosa. Mais saborosa que carne de gia.
Se diz que os Tupinambás embebedavam os gambás com cauim, para facilitar a retirada das glândulas. Pelo sim pelo não, um saruê defumado tem o seu valor.
Na bodega de Seu Mané Barraca, no Tabuleiro dos Caboclos, o tira gosto de saruê era disputado. Já experimentei, mas esqueci o gosto.
Existe a crença que o saruê ataca os galinheiros. Não é verdade, no máximo come os ovos. Saruê não é parente das raposas.
Outra fama mal posta é que os gambás adoram cachaça. Se diz, “fulano está bêbado como um gambá.” Eu nunca vi um gambá bêbado, acho uma calunia.
O País de São Saruê é um documentário brasileiro de 1971, dirigido por Vladimir Carvalho, sobre as secas constantes na região de Rio do Peixe, na Paraíba.
* É médico sanitarista