Por Antonio Samarone *
Na seção 590 da 2ª Zona do Aracaju, no Colégio Americano Batista, naquela urna, faltou um voto para Lula. Não foi um voto qualquer, foi o voto da combativa líder popular e intelectual Ana Côrtes (77 anos).
No dia 30 de outubro de 2022, domingo, Ana Côrtes saiu para votar acompanhada do esposo Bosco Rollemberg e do filho Marquinhos. Enfrentou a fila e na hora, nada! Ana não lembrou do treze (13). Tentou uma, duas, várias vezes. Não houve jeito, mesmo com a colinha na mão, treinando antes, Ana não lembrou e ninguém conseguiu lembrá-la.
A fila inteira, os mesários, os curiosos por perto, o seu anjo da guarda (Bosco), Marquinhos, todos torcendo: lembra Ana! É treze, treze de Lula, dos trabalhadores, dos oprimidos, treze da luta que você dedicou uma vida, sofreu, foi torturada.
Eu sei, Ana Côrtes sempre foi 65 (PC do B), mas é tudo a mesma coisa. 65 é 13X5, ou seja, 13 cinco vezes.
Ana Côrtes faz parte dos imprescindíveis – “Pero los hay que luchan toda la vida: esos son los imprescindibles”, do poema de Bertolt Brecht. Mas não lembrou do treze, não houve jeito. Faz parte da condição humana.
Estava ali uma líder destemida, consciente, lutadora, impedida de votar em Lula por uma limitação do corpo, do cérebro, da memória. As proteínas beta-amiloide e tau fosforilada apagaram o treze. É o que diz a medicina.
O povo nordestino votou por você, minha amiga Ana Côrtes.
Eu conheci Ana Côrtes no movimento sergipano pela anistia, nas lutas sociais, na gestão das políticas públicas da assistência social. Sempre ativa, fronte erguida, voz firme e coerente. Por onde você passava, Ana, uma energia de dignidade lhe acompanhava.
Ana Maria Santos Rollemberg Côrtes, nasceu em Frei Paulo, em 1945. Filha de Chiquinho do Sal e dona Caçula, numa família de dez irmãos. Casada com Bosco Rollemberg.
Ana Côrtes, foi presidente do Diretório Acadêmico da Faculdade de Serviço Social em 1967, graduou-se na Faculdade de Serviço Social em 1968.
Ana viveu na clandestinidade como operária metalúrgica em São Paulo e na zona canavieira de Pernambuco de 1969 a 1974; foi presa política no DOPS em Recife 1974.
Com a redemocratização em 1986, Ana dirigiu a Secretaria de Assistência Social com forte atuação nos bairros mais pobres. Já em 2001, foi coordenadora do programa “Toda Secretaria é da Criança”, da Prefeitura de Aracaju (PMA).
Ana Côrtes foi presidente do Sindicato das Assistentes Sociais, membro do Conselho Fiscal do Conselho Federal das Assistentes Sociais e Secretária de Assistência Social entre 1986 e 2002, na Prefeitura de Aracaju.
Ana, a sua história elegeu Lula, elegeu a democracia, elegeu a liberdade, elegeu a vida. Como diz a sua filha Joana, em um belo poema: Ana é uma mulher que sempre cuspiu fogo e querosene.
* É médico sanitarista.
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Conheci a Ana nos comícios dos universitários, eu fazendo Economia (1966/69), ela Serviço Social. Muito ativa, discursos bem estruturados. Amigo também de Bosco, de vez em quando nos encontrávamos no bar Mãe Gorda.