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Gente sergipana: doutor José Lima (Zequinha Babão)

Por Antônio Samarone *

José Lima nasceu em 18/01/1914, filho do alfaiate Messias Francisco Fagundes, do Beco Novo, e dona Josefa Francisca Nunes. Órfão muito cedo, os pais morreram em 1918, com a suspeita da Gripe espanhola.

A alfaiataria de Seu Messias era vizinha a loja de Manezinho Priscina.

Zequinha foi criado desde os 8 anos, pelo fidalgo Esperidião Noronha.

Que eu saiba, em Itabaiana tinha dois dentistas práticos: Zequinha Preto (ou Babão) e Zequinha Branco. Tinha um dentista formado, Dr. Pedrinho, mas que não exercia a profissão, era professor no ginásio. Os outros chegaram depois.

Se arrancava o mal pela raiz, nem se falava em restaurações. A norma era arrancar os dentes, ficar logo livre, para se usar as dentaduras postiças, conhecidas como “chapas”.

Quem já sofreu, sabe o que é a dor de dente, só perde para dor de ouvido e pedra no rim. Quando o dente doía, se botava guaiacol. Queimava-se o boca, e esperava-se uma oportunidade para arrancá-lo. Não adiantava insistir. Era arrancar para botar chapa.

As chapas eram vendidas na feira, já prontas, numa urupema. De vários tamanhos e formatos. O freguês ia experimentando. Olhava-se num espelho, até se agradar de uma. Se fosse folgada, usava-se corega em pó, para fixar; se ficasse apertada, com o tempo ia folgando, como sapato.

Zequinha Preto era o dentista mais acessível, o mais barato.

As dentaduras eram lindíssimas, pareciam um teclado de piano. Quando as dentaduras não eram completas, só com alguns dentes, chamavam-se de pererecas. Quando escapavam da boca, saia aos saltos.

Itabaiana teve um gênio em dentaduras: o doutor Olavo. Ele chegou a sofisticação de produzir dentaduras tamanho único, adaptava-se em qualquer boca.

Não me perguntem que eu não conheço a tecnologia. Nem eu, nem ninguém. Olavo morreu sem ensinar o seu mistério. Eu cheguei a conhecer as dentaduras tamanho único, serviam para qualquer boca.

O doutor Zequinha Babão foi soldado de polícia, passando para reserva como sargento. Aprendeu a arte de arrancar dentes com o doutor Alfredo Ventinha, também prático.

Seu Zequinha Preto tinha o talento dos cirurgiões barbeiros da idade média. Resolvia quase tudo a ferro e a fogo. Partejava, encanava braços, sangrava e arrancava dentes.

Prestou um grande serviço ao povo pobre do agreste, durante muitos anos. Não existia SUS. Doutor Zequinha Preto morreu em 10/10/2001, aos 87 anos, deixando cinco filhos.

Conta-se que certa feita, um rico, daqueles, mão de figa, levou um filho para arrancar dois dentes. Cada dente custava 200 reis, ele deu uma nota de 500 e esperou o troco de 100 reis. Como Seu Zequinha não tinha o troco, se combinou, e ele arrancou outro dente pelo cem, aproveitando a força da anestesia. O terceiro dente foi arrancado, pelo troco.

Vamos reconhecer: a odontologia avançou muito, nos últimos 70 anos.

Esses profissionais, humildes, com pouca instrução, merecem o reconhecimento. Resolveram muita dor de dente.

* É médico sanitarista e está secretário da Cultura de Itabaiana.

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