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Gente sergipana: doutor Walter Cardoso

Por Antonio Samarone *

Até meados do século XIX, a medicina praticada no Brasil era a coimbrense. Uma medicina medieval nascida nos mosteiros, mais atrasada do que as medicinas dos Jesuítas, Pais de Santos, Curandeiros e Pajés.

A medicina brasileira só passou para a influência francesa, na segunda metade do Dezenove, com a reforma Visconde de Saboia, no ensino das Faculdades de Medicina da Bahia e do Rio de Janeiro.

Em Sergipe, a tradição francesa durou até a segunda metade do século XX. O livro de anatomia adotado na Faculdade de Medicina de Sergipe, era um clássico de Jean Léo Testut, em sua versão francesa.

Fui aluno de doenças infecciosas e parasitárias, do Dr. Walter Cardoso, um sanitarista formado em Manguinhos. Em seu bureau na sala de aula, se destacava um busto de bronze de Pasteur. Rezava a tradição francesa, que ao final da aula, houvesse uma calorosa salva de palmas.

Dr. Walter Cardoso, um conservador, católico militante e médico humanista, foi Secretário da Saúde e Diretor da Faculdade de Medicina. Deixou livros publicados e editou uma revista de Saúde Pública em Sergipe.
Entre os livros publicados destacam-se: “A luta contra a fome”, “Perspectiva da Saúde Pública em Sergipe”, “História da Saúde Pública em Sergipe”, “Vida, tempo e memória” e Retrato de Garcia Rosa”.

Como Diretor da Saúde Pública, no governo Arnaldo Garcez, Walter Cardoso foi o inspirador da criação do Conjunto Agamenon Magalhães em Aracaju, para transferir as populações faveladas do Curral e da Ilha das Cobras, no Morro do Bonfim. O novo Conjunto foi planejado com os princípios da sustentabilidade sanitária.

Walter Cardoso foi o primeiro Secretário da Saúde, na criação da Secretaria da Saúde por Celso de Carvalho, em 1965.

Walter Cardoso faleceu em 25 de maio de 2001, ao 89 anos.

Na reta final, eu conseguir autorização da família para visitá-lo em sua casa. Ele já muito doente, mas com a memória perfeita. Em sua conversa comigo ele fez duas revelações: que era conservador, mas nunca foi anticomunista e que as suas tias não negaram água a Fausto Cardoso, quando ele saiu baleado do Palácio.

A sua afirmação de nunca ter sido anticomunista, talvez tenha sido em consideração a minha fama de militante do credo vermelho, no movimento estudantil. Eu sempre admirei o professor catedrático e colega sanitarista Walter Cardoso, um batalhador pelas reformas na Saúde Pública.

As tias de Walter Cardoso eram “olimpistas” e moravam numa bela casa na esquina da Rua Pacatuba com a Praça do Palácio. Existia a fofoca que elas negaram um copo de água a Fausta Cardoso baleado. Ele cuidava da memória das tias.

Eu sou do tempo em que tinha-se gratidão aos mestres e professores. Sempre considerei meus professores de Saúde Pública na UFS: Walter Cardoso, José Leite Primo, Alexandre Gomes de Menezes, Cleovansóstenes Pereira de Aguiar e João Cardoso do Nascimento.

Em Sergipe, o Dr. Walter Cardoso foi o último grande mestre inspirado na medicina francesa. A atual influência da medicina americana é contemporânea a medicina de mercado

* É médico sanitarista

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