Por Adiberto de Souza *
Em julho de 1968, o presidente da República, marechal Artur da Costa e Silva – o segundo da ditadura militar – veio a Sergipe exclusivamente para visitar o campo petrolífero de Carmópolis. Para prestigiar o ditador, autoridades e militares às centenas inundaram o acanhado município, localizado a 49 quilômetros de Aracaju. O governador biônico Lourival Baptista esbanjava nos salamaleques ao marechal: só faltou mandar estender tapetes vermelhos nas ruas da cidade para Costa e Silva pisar.
E Lourival Baptista tinha razões de sobra para cortejar o ditador, pois fora indicado governador pelo antecessor do visitante, o também marechal Castelo Branco, morto num suspeito acidente aéreo. Aliás a indicação contrariou a lista tríplice eleita pela Assembleia, uma exigência do Ato Institucional nº 3 (AI-3). Em seu segundo mandato de deputado federal, Lourival não teve força política para incluir o nome na relação a ser votada pelos deputados estaduais e, segundo dizem, até “trabalhou” para que o aliado Augusto Franco fizesse parte da lista.
Os indicados pelos deputados foram Leandro Maciel, Augusto Franco e Arnaldo Garcez, mas nenhum foi escolhido para administrar Sergipe. Motivo: o chefe da Casa Civil, Luís Viana Filho – baiano tal qual Lourival e muito amigo deste – fez a cabeça do marechal-presidente. Ao chegarem à audiência no Palácio do Planalto, em Brasília, para a indicação do novo governador, os três “eleitos” pelo Legislativo estadual foram indagados por Castelo Branco por que o nome do deputado federal não constava da lista tríplice?
Nem precisa dizer que o AI-3 foi deixado de lado, a lista tríplice jogada na cesta de lixo e Lourival Baptista indicado governador biônico naquela mesma audiência, com a concordância de Leandro Maciel, Augusto Franco e Arnaldo Garcez. Ora, quem iria discordar da vontade do ditador-presidente, ainda por cima um marechal do Exército?
Voltemos a Carmópolis:
Após a visita às instalações da Petrobras, exibição de amostras de petróleo ao sisudo e desinteressado marechal Costa e Silva e desafinados cânticos por um improvisado coral da escola municipal, chegou a hora do falatório. Discurso em mãos, o governador Lourival Baptista passou a descrever as potencialidades de Sergipe para um público silencioso e uma imprensa nervosa com a quantidade de laudas que restava para ser lida.
Lá pras tantas, o empolgado governador saiu com essa: “Sergipe é o maior produtor de petróleo do Nordeste, cuíca do Brasil”. Foi aquele espanto: “Como essa cuíca entrou aí?”, indagavam todos. Finda a solenidade, o impagável e saudoso jornalista Santos Santana, competente mestre de cerimônia do evento, pede o discurso a Lourival Baptista e verifica que não havia cuíca nenhuma naquele longo “improviso”. A frase correta era: “Sergipe é o maior produtor de petróleo do Nordeste, quiçá do Brasil”. Tenho dito!
* É editor do site Destaquenoticias