Por Adiberto de Souza *
Sergipe já teve um governador que assumiu o cargo de pijama. O relógio marcava 5 horas da madrugada, e o advogado Celso de Carvalho (PSD) acabara de acordar para atender quem batia em sua porta tão cedo. Era o major do Exército Lário Lopes Serrano convocando-o para assumir o governo de Sergipe em substituição ao titular João de Seixas Dória (PR), que acabara de ser preso no Palácio Olímpio Campos, centro de Aracaju. No dia anterior, tropas do 4º Exército tinham cercado o Palácio das Princesas, no Recife, e prendido o governador pernambucano Miguel Arraes (PST), porque ele não aceitou a proposta de renunciar ao mandato.
Alguns dias antes dessas e de tantas outras prisões, em 13 de março de 1964, o brilhante orador Seixas Dória se superou ao discursar no famoso Comício da Central, no Rio de Janeiro. Diante de uma multidão de 150 mil pessoas, e ao lado do presidente da República, João Goulart (PTB), o governador de Sergipe defendeu as chamadas reformas de base, a democracia e a liberdade sindical. Também prometeu fazer a reforma agrária no estado. No dia 31 de março, Seixas foi à rádio Difusora criticar o golpe militar que cassou o presidente Goulart e vários outros políticos. Foi a gota d’água para o Exército prendê-lo, na madrugada do dia 2 de abril.
Pois bem, voltemos à posse de Celso de Carvalho em roupa de dormir. Acordado em seu apartamento, ele quis saber o motivo daquela visita tão cedo, nos primeiros cantos dos passarinhos. Sem mais delongas, o major Lário contou sobre a prisão de Seixas Dória. Atordoado, o vice pediu para fazer algumas ligações, porém o militar o desaconselhou, informando que todos os telefones estavam grampeados. “Antes que eu argumentasse qualquer outra coisa, o major se perfilou e falou: ‘Diga o que Vossa Excelência deseja, pois estou aqui para servi-lo’. Pronto, eu já estava mandando. Virei governador antes de tirar o pijama”, contou o saudoso político simãodiense.
* É editor do site Destaquenoticias