José Vieira da Cruz*
Um amigo, observando o perfil acadêmico do governo de Fábio Mitidieri (2023), constatou que alguns membros de seu staff, inclusive ele, são egressos de instituições privadas de ensino superior. Esse fato não chega a ser uma novidade, já que, desde a administração de Belivaldo Chagas (2018-2019; 2019-2023), esse tem sido o novo perfil da elite política de Sergipe.
Explico, ao menos a partir da Nova República, especificamente, desde a primeira gestão de João Alves Filho (1983-1987; 1991-1995; 2003-2007), Sergipe vinha sendo administrada por políticos, tanto de direita quanto de esquerda, com formação superior adquirida em instituições públicas, seja em outro estado, a exemplo de Alves, formado na Universidade Federal da Bahia (UFBA), ou, como a maioria dos demais governadores, formados pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) – este foi o caso de Antônio Carlos Valadares (1987-1991), Albano Franco (1995-1999; 1999-2003), Marcelo Déda (2007-2011; 2011-2013) e Jackson Barreto (2013-2015; 2015-2018).
O fato dos governadores, tanto o anterior quanto o atual, terem sido formados no ensino superior privado não é nenhum impedimento, desqualificação ou mácula – mas, de modo claro, torna irrelevante na biografia desses herdeiros políticos tradicionais a formação universitária em instituições públicas. A meu juízo, esse novo perfil alimenta uma margem de dúvidas quanto a sensibilidade, envolvimento e compromisso deles quanto à formulação de políticas públicas e, sobretudo, sugere a inclinação do olhar desses gestores para o campo do “privado”, do “privatismo” e do modelo empresarial imposto sobre a administração pública.
Penso, à luz dos estudos sobre o papel do Estado para potencializar o bem-estar da sociedade, que a função fundamental da administração pública não é gerar superávit como uma finalidade em si, muito menos, gerar déficit sucessivos, desordenados e inconsequentes. A razão de ser do Estado é manter – de forma legal, eficiente, continuada, negociada e socialmente referenciada –, políticas públicas: de saúde, educação, segurança e de desenvolvimento econômico, tecnológico e sustentável. Dimensões que, sob meu ponto de vista, encontram bom ambiente de formulação, discussão e formação em instituições públicas de ensino superior.
Nesse sentido, diferente dos estados da Bahia e de Pernambuco – no qual o governador anterior e o atual, são formados em instituições de ensino superior públicas –, e do estado de Alagoas – no qual o governador anterior e atual Ministro dos Transportes também tem formação superior pública –, Sergipe caminha sobre os ombros de uma nova elite política, empresarial e administrativa.
Em síntese, seja em termos de constatação ou de alerta, à UFS e as demais instituições públicas de ensino, podem sentir a falta e o preço pela forma, ritmo e envolvimento político alcançados por seus egressos – sejam eles (as) ou não lideranças estudantis, acadêmicas, artísticas e/ou profissionais.
*Historiador, Professor da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGSE)