Quem vai a São Cristóvão, município da Grande Aracaju, não pode deixar de visitar a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Localizado na rua Erundino Prado, no Centro Histórico da quarta cidade mais antiga do Brasil, o templo guarda em suas paredes a história do nosso país. Construída no século 18, por e para que os escravos alforriados pudessem frequentar, já que a presença deles era limitada em outros espaços religiosos por conta da segregação racial à época, a Igreja foi tombada em 1943 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
Na época, irmandades religiosas se formaram em todo o país durante o Brasil colônia, incluindo entre os escravos trazidos da África, que eram obrigados a se converterem ao catolicismo. Em São Cristóvão, as missas na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Vitória eram restritas aos brancos, enquanto que aquelas realizadas na Igreja de Nossa Senhora do Amparo eram restritas aos pardos. “Quando a fé começou aqui em São Cristóvão, existia uma segregação racial, então cada igreja tinha a sua etnia. Temos a Igreja da Matriz, que era frequentada pelos brancos, a igreja do Amparo, frequentada pelos pardos e a do Rosário, utilizada pelos negros alforriados”, explica Luciano Silva, zelador da igreja.
Arquitetura simples
Comparada às outras seis igrejas históricas da cidade, a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos é simples na sua arquitetura, mas possui grande valor sentimental pelo que sua história representa. No acervo, estão presentes as imagens de Nossa Senhora do Rosário, Jesus Cristo e São Benedito, além da gruta com a imagem de Nossa Senhora de Lourdes. “Dentro da sua arquitetura barroca, ela tem um diferencial quando comparada as outras da cidade, não tem tanto ouro, afresco, justamente porque os alforriados não tinham um poder aquisitivo como as outras igrejas tinham. Apesar de ser a mais simples, para nós é a mais bela, porque exprime o querer de um povo de expressar sua fé”, detalha Luciano Silva.
Apesar de seu tamanho reduzido, a igreja possui fachada e detalhes arquitetônicos interessantes, o que fez com que o IPHAN a considerasse como um patrimônio material do Brasil em 1943. Após cinquenta anos desse título, o prédio passou por reformas para a recuperação de seu piso e telhado. “O piso da igreja é feito com madeiras e tijolo cozido sem polimento e é uma das últimas igrejas da cidade que possuem esse piso semelhante ao original. Além do piso, os bancos são muito simples, assim como os altares, mas eles possuem uma beleza sem igual, e São Cristóvão se orgulha em preservar essa cultura”, conta o zelador.
Ligação com os negros
A ligação da igreja com os negros da época está expressa em vários pontos da edificação. Desde a fachada, onde é possível verificar a presença de imagens que remetem as religiões de matriz africana, até os eventos festivos realizados no local. A festa de Nossa Senhora do Rosário, realizada em outubro é exemplo disso, onde até hoje existe a participação do grupo folclórico Chegança durante a missa em homenagem a padroeira da igreja.
Fonte e foto: Secom/PMSC