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Internacionalizando a pesquisa na UFS através de parcerias estratégicas com a França

Lucindo Quintans*

As colaborações históricas entre Brasil e França na pesquisa científica de produtos naturais têm desempenhado um papel fundamental no avanço do conhecimento e na descoberta de novos compostos bioativos, fortalecendo a relação fraterna entre essas nações. Essa parceria estratégica tem sido marcada por uma troca genuína de experiências e conhecimentos entre renomadas instituições de ambos os países, impulsionando a investigação dos ricos biomas brasileiros e das espécies marinhas dos litorais, em busca de soluções inovadoras e terapêuticas para doenças complexas e de difícil tratamento, como câncer, fibromialgia e doenças negligenciadas.

Nesse contexto, é inegável o impacto positivo dessas colaborações para a ciência brasileira. As universidades e centros de pesquisa do Brasil têm se beneficiado da expertise e dos avanços científicos alcançados pela comunidade científica francesa, de forma bilateral, enquanto compartilham seus próprios conhecimentos e descobertas, enriquecendo o campo da pesquisa de produtos naturais em ambos os países. Essa relação fraterna tem sido essencial para enfrentar os desafios científicos e tecnológicos contemporâneos, buscando soluções inovadoras de forma conjunta, especialmente na área de produtos naturais e no desenvolvimento de pesquisas usando a “química verde”, também conhecida como química sustentável, é uma abordagem científica e tecnológica que tem em vista desenvolver processos químicos e produtos para reduzir ou eliminar o impacto negativo no meio ambiente e na saúde humana.

O desenvolvimento sustentável e a chamada “química verde”, de maneira geral, estão intrinsecamente ligados na busca por um futuro mais equilibrado e consciente. A intenção dessa abordagem é desenvolver produtos e tecnologias que sejam economicamente viáveis, socialmente responsáveis e ambientalmente amigáveis é uma tendência mundial, e o Brasil como detentor de cerca de 15 – 20% da biodiversidade mundial possui um protagonismo importante nessa área. Assim, ao adotar a “química verde”, pode-se buscar uma produção mais sustentável, uma melhor preservação dos ecossistemas e, consequentemente, a melhoria da qualidade de vida.

Recentemente pesquisadores da Universidade Federal de Sergipe (UFS), membros dos Programas de Pós-Graduação em Ciências da Saúde (PPGCS) e Ciências Farmacêuticas (PPGCF) realizaram encontros científicos em Paris e La Rochelle, nas universidades de Paris Cité (UPCIté) e La Rochelle, renomadas universidades francesas, buscando ampliar os laços técnicos entre as universidades francesas e a UFS, que tem contribuído nos indicadores quali e quantitativos da universidade e do próprio estado de Sergipe. Os encontros foram considerados, pelos pesquisadores, como marcos históricos porque evidenciam o comprometimento e a colaboração mútua entre as instituições de pesquisa e, igualmente, fazem parte da rede de pesquisa Franco-Brasileira de Estudos com Produtos Naturais (FB2NP — https://fb2np.univ-lr.fr/). A rede FB2NP foi criada em 2017, mas apenas em 2021 ela foi institucionalizada através de convênio de cooperação entre as universidades no Brasil e na França, ela coordenada pelos Professores Jackson Guedes Almeida, do Colegiado de Farmácia da UNIVASF (Brasil); e na França pelos Professores Laurent Picot, da Universidade de La Rochelle; e Raimundo Oliveira Júnior, da Faculdade de Farmácia da UPCité. A UFS possui 6 pesquisadores inseridos na rede, contando com a minha participação e dos professores Adriano Antunes, Mairim Serafini, Jullyana Quintans, Marcelo Duarte e Márcio Roberto Viana.

De fato, esses eventos têm a oportunidade de promover um intercâmbio intelectual e cultural valioso, reunindo pesquisadores, estudantes e especialistas de diferentes origens em um ambiente propício para a troca de ideias e o estabelecimento de parcerias duradouras, portanto, ampliando a qualificação dos pesquisadores e igualmente ampliando a capacidade científica dos grupos de pesquisas e das universidades envolvidas. Essa relação fraterna é construída não apenas por meio de projetos e pesquisas conjuntas, mas também por meio de um diálogo contínuo e da construção de uma rede de colaboração que fortalece os laços entre Brasil e França, fortalecendo a área de produtos naturais.

Lógico que além dos benefícios científicos, essa parceria estratégica tem um impacto significativo no fortalecimento dos laços culturais e diplomáticos entre os dois países. A colaboração científica é um importante pilar para o desenvolvimento de relações mais estreitas, baseadas no respeito mútuo e igualitário, no compartilhamento de conhecimentos e na construção de um futuro comum. Através dessas colaborações, as universidades brasileiras e francesas têm a oportunidade de se destacar como líderes na pesquisa de produtos naturais, contribuindo para o avanço da ciência global e para a promoção do desenvolvimento sustentável.

Em um mundo cada vez mais interconectado, a pesquisa científica transcende fronteiras e fortalece a fraternidade entre nações e abre a oportunidade da criação de redes internacionais. Destaca-se que a parceria entre Brasil e França na pesquisa de produtos naturais é um exemplo vivo dessa fraternidade, com a formação de grande quadro de pesquisadores que atualmente desenvolvem atividades de pesquisas na área nos dois países e em diferentes instituições, inclusive na indústria.

Não obstante é fundamental valorizar e fortalecer essas colaborações históricas, que representam uma aliança científica de excelência e um exemplo de cooperação internacional bem-sucedida, mas por outro lado é urgentemente necessário que as agências de fomento como Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e, em Sergipe, a Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica do estado de Sergipe (FAPITEC/SE) possuam estratégias de financiamento para pesquisadores e estudantes. A CAPES possui um importante programa, chamado de CAPES/Cofecub, que anualmente financia alguns projetos (poucos), contudo, prestigia, na esmagadora maioria das vezes, as universidades já consolidadas internacionalmente (USP, UFRJ, UFGRS, entre outras), negligenciando as universidades que possuem uma pós-graduação em fase de consolidação como a UFS e outras das regiões nordeste e norte. Ora, se um programa tem como objetivo fundamental reduzir as assimetrias regionais, é essencial que uma parcela significativa dos recursos seja direcionada às universidades localizadas nas regiões mais distantes dos grandes centros. Essas instituições muitas vezes enfrentam desafios adicionais para se desenvolverem plenamente, como a falta de infraestrutura adequada, menor acesso a recursos e dificuldade em atrair e reter talentos.

Por outro lado, agências como CNPq e FAPITEC/SE são quase que inócuas em ações mais assertivas na internacionalização das universidades, especialmente para estados como o nosso. Fora os programas de indução de bolsas individuais e outros escassos programas bilaterais, quais são as iniciativas consistentes destas duas agências? Muito poucas! É hora de resgatar programas indutores como o Ciências Sem Fronteiras (CsF) que foi injustamente rechaçado por governo negacionista sem a apresentação de um relatório técnico convincente e consubstanciado. Programas como CsF precisam ser perenes e continuamente aperfeiçoados, mitigando os problemas que podem porventura ocorrer, e otimizando a utilização de recursos públicos. Por outro lado, esse tipo de programa permite uma internacionalização da ciência brasileira como jamais foi visto e qualifica melhor nossos mais promissores quadros de recursos humanos. Destaca-se que ações como CsF devem fazer parte de uma cadeia que começa na formação e termina na retenção destes talentos.

A FB2NP é um dos exemplos virtuosos de uma ciência “sem fronteiras”, de apoio bilateral, que reduz assimetrias e coloca universidades brasileiras para dialogar com universidades europeias que desenvolvem pesquisas que mudam paradigmas científicos e reconstroem o estado da arte na área de produtos naturais especialmente buscando o desenvolvimento sustentável, a redução de assimetrias e ampliando a fraterna relação entre Brasil e França que foi perversamente maculada no tempo da terra plana. Que os bons ventos da mudança tragam mais ciência e relações simétricas para universidade como a UFS, a UNIVASF, entre outras. La lutte continue et les chercheurs brésiliens et français sont en première ligne! – A luta continua e os pesquisadores brasileiros e franceses estão na linha de frente!

*Pró-reitor de Pós-Graduação e Pesquisa da Universidade Federal de Sergipe (Posgrap/UFS)

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