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Jackson e o curso de direito da UFS

Por Marcos Cardoso *

(Texto publicado em 25/4/2011, republicado em homenagem a Laete Fraga)

Ao chegar ao tão sonhado cargo de governador de Sergipe, mesmo que interinamente, mas num ato carregado de simbolismo, Jackson Barreto encerra uma verdade incômoda: daqueles considerados os quatro grandes políticos de Sergipe da sua geração, somente ele nunca havia experimentado o gosto de conduzir os destinos do seu povo. João Alves Filho, que fará 70 anos no dia 3 de julho, foi governador três vezes (1983/86, 1991/94 e 2003/06); Albano Franco, 70 anos completos, foi duas vezes consecutivas (1995/2002); e Antonio Carlos Valadares, 68 anos, governou por um mandato (1987/90). Jackson, o caçula deles, prestes a completar 67 anos agora, dia 6 de maio, tem tudo para assumir a titularidade do cargo em 2014, se o governador Marcelo Déda se licenciar para concorrer ao Senado.

Mas o que vem ao caso aqui é uma boa coincidência. Com exceção de João, todos os governadores sergipanos desde que o Brasil voltou a ser um país democrático são oriundos de uma mesma escola – que não é necessariamente uma escola política –, o curso de Direito da Universidade Federal de Sergipe. Ali estudaram, principalmente na efervescência dos anos 60 e 70, futuros proeminentes homens públicos, e não só Jackson, Albano, Valadares e, depois, o próprio Déda. E não só eles. E algumas vezes como colegas na mesma turma.

Para contextualizar, o ensino superior passou a funcionar efetivamente em Sergipe em 1950 com a criação da Faculdade de Direito e das Escolas de Ciências Econômicas e de Química. Em 1951, surgiu a Faculdade Católica de Filosofia, em 1954 criou-se a Escola de Serviço Social e, em 1961, a Faculdade de Ciências Médicas. Esse foi o núcleo gerador da Fundação Universidade Federal de Sergipe, criada pelo governo do Estado em 11 de julho de 1963 e depois autorizada pelo governo federal.

Assim, da turma de 64 saíram Fernando Ribeiro Franco, raro caso de homem que viria a ocupar a chefia dos três poderes – foi presidente da Assembleia Legislativa, cargo que o levou à interinidade do governo do Estado e depois, já desembargador, foi presidente do Tribunal de Justiça –, Guido Azevedo, presidente da Assembleia Constituinte que elaborou a Carta estadual de 1989, e a procuradora de justiça Maria Eugênia da Silva Ribeiro.

Da turma de 65 saíram a procuradora de Justiça Maria Luiza Vieira Cruz, o advogado e jornalista Stefânio de Farias Alves e a advogada progressista Zelita Correia, dentre outros.

A turma de 66 foi pródiga em formandos que viriam a ser famosos: além do deputado estadual, deputado federal, senador, presidente da Confederação Nacional da Indústria e governador Albano do Prado Pimentel Franco, estudaram juntos a senadora Maria do Carmo Alves, o ministro do STF Carlos Ayres de Britto, o professor, poeta e acadêmico Hunald Fontes Alencar, o delegado “do amor” Clélio Lins Baptista, a advogada Maria Laete Fraga, o professor, poeta e acadêmico Wagner da Silva Ribeiro, a desembargadora e presidente do TRE Josefa Paixão de Santana, e os desembargadores e presidentes do Tribunal de Justiça José Antonio de Andrade Goes e José Alves Neto, atualmente no cargo máximo do Judiciário local.

Da turma de 67 são a desembargadora e presidenta do TJ Marilza Maynard, a procuradora de Justiça Maria Creuza Britto Figueiredo, o juiz José Emídio do Nascimento, o advogado Evaldo Fernandes Campos e o professor Francisco Rosa Santos.

São da turma de 68 a presidenta da Legião Brasileira de Assistência e ministra da Ação Social no governo Itamar Franco, Leonor Barreto Franco, a desembargadora Geni Rodrigues Schuster, o deputado federal Manuel Messias Goes e os advogados Jeferson Fonseca de Moraes e Joaquim Gonçalves Neto.

Foram colegas na turma de 69 o conselheiro do Tribunal de Contas Carlos Alberto Sobral de Souza, o juiz e depois presidente da Academia Sergipana de Letra José Anderson Nascimento, o juiz José Emídio da Costa Sobrinho e o empresário da comunicação Walter do Prado Franco Sobrinho.

Outra boa turma colou grau em 1970: dois prefeitos de Aracaju, João Augusto Gama da Silva e Wellington da Mota Paixão, o vice-governador, deputado federal e secretário de Estado Benedito de Figueiredo, o presidente do TJ José Artêmio Barreto, a desembargadora Suzana Maria Carvalho Oliveira, o procurador de Justiça Moacyr Soares da Mota e os advogados Abelardo Silva de Souza e Wellington Dantas Mangueira Marques.

Por fim a turma de 71, a do vereador, deputado federal, prefeito de Aracaju duas vezes e agora vice-governador Jackson Barreto. Ele foi colega do desembargador Osório de Araújo Ramos Filho, do professor Fernando Lins de Carvalho, do procurador de justiça José Carlos de Oliveira Filho, da jornalista, artista plástica e agitadora cultural Lânia Duarte, do vereador e deputado estadual Jonas da Silva Amaral e do advogado Antonio Jacintho Filho.

Naquela época, Valadares formou-se em Química e, depois, nos idos dos anos 70, também fez Direito. Na política foi quase tudo: vereador, prefeito de Simão Dias, deputado estadual, deputado federal, vice-governador, governador e senador no terceiro mandato. O deputado estadual, deputado federal, prefeito de Aracaju duas vezes e agora no segundo mandato de governador Marcelo Déda formou-se em 84.

A importância dos mestres deve explicar, pelo menos em parte, a profusão de homens públicos de relevo que saíram do curso de Direito da UFS naquela quadra do século passado. Dentre outros, foram professores do curso Bonifácio Fortes, Luiz Pereira de Melo, Manoel Cabral Machado… Mas o clima de efervescência cultural e política que enriquecia o momento histórico certamente contribuiu na formação jurídica e política daquela geração. É de se pensar.

Marcos Cardoso é jornalista, autor de “Sempre aos Domingos: Antologia de textos jornalísticos”.

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