Antonio Samarone *
Depois do famoso gesto de Pilatos, o médico húngaro, Ignaz Semmelweis, revelou ao mundo (1861) que, lavar as mãos era indispensável para evitar-se contágios e a transmissão de doenças.
Foi um choque para a Medicina, que defendia a teoria miasmática, saber que a assombrosa mortalidade materna se devia à imundice nas mãos dos médicos e das parteiras.
Lavar as mãos com água e sabão foi uma das grandes descobertas da Saúde Pública.
A explicação de Semmelweis foi rejeitada! Ele foi enclausurado num hospício de doidos, onde veio a falecer em 1865, aos 47 anos. A tese só foi aceita depois de sua morte, quando o cirurgião escocês, Joseph Lister, passou a usar a assepsia em sua prática.
A simples receita de Semmelweis de lavar as mãos, necessária no combate a Covid-19, não é bem aceita no Brasil. Por aqui, não se lava as mãos nem antes das refeições.
Só lavamos as mãos depois que usamos os sanitários em restaurantes e Shopping Center, mesmo assim, se passa uma aguinha. Cuidamos mais da aparência das unhas, que da limpeza das mãos.
As pessoas aceitam mais lavar as mãos com álcool em gel, do que com água e sabão.
Não é por ignorância. É puro desmazelo cultural.
Durante muito tempo, as professoras cobravam a higiene pessoal dos alunos. Em minha escola primária, só assistiam às aulas os alunos limpinhos. Antes, passava-se por uma inspeção de unhas, orelhas, sovacos e virilhas. Agora é bullying!
No Brasil, operação “mãos limpas” significa combate a corrupção.
* É médico sanitarista