A deputada estadual Linda Brasil (Psol) desfilou, nessa terça-feira (4), pela Escola de Samba Paraíso do Tuiuti, uma das agremiações que se apresentaram no último dia do Grupo Especial do Carnaval do Rio de Janeiro. Com o enredo “Quem tem medo de Xica Manincongo?” a escola da Zona Norte do Rio levou para a Marquês de Sapucaí a história da primeira travesti documentada do Brasil.
Pelas redes sociais, Linda Brasil afirmou que “Xica Manicongo abre o caminho, e a gente vem atrás, brilhando, pulsando, tomando de volta o que sempre foi nosso. Hoje [terça-feira], o patriarcado desaba, porque quem desfila somos nós, travestis, mulheres trans, filhas da resistência, prontas para fazer história”, frisou. Pelo Instagram, a delegada de polícia Meire Mansuet parabelizou a parlamentar sergipana: “A senhora sempre representando com maestria o nosso estado, e todas nós mulheres!”, escreveu. Por sua vez, a jornalista Aldaci de Souza sugeriu que Linda “arrase muito. A escola tá lindaaaa!”, atestou.
A comissão de frente da Escola de Samba Paraíso do Tuiuti contou com 15 mulheres trans para representar essa história de Xica Manicongo. Entre elas, a deputada federal Erika Hilton (Psol), que participou do desfile. No Instagram, a escola afirmou ter feito a Marquês de Sapucaí “pulsar com um desfile histórico e necessário! Xica Manicongo atravessou a avenida como símbolo de resistência, orgulho e liberdade, mostrando que o Carnaval também é um ato político e de afirmação”.
Pedido de casamento
Um integrante do desfile da Paraíso do Tuiuti foi pedido em casamento durante a concentração da escola. O casal, que desfilou na ala 4, é gaúcho e foi para o Rio de Janeiro especialmente para desfilar na escola de samba. O pedido, no entanto, foi totalmente surpresa para Jeferson Zaparoli. Segundo o apaixonado Rodrigo Vilanova, o enredo era perfeito para “divulgar e multiplicar o amor”. Esse foi o primeiro desfile do namorado Jeferson, mas Rodrigo já desfilou outras quatro vezes.
Quem foi Xica Manicongo
Xica Manicongo foi trazida do Congo para ser escravizada em Salvador no século 16 e se recusava a vestir trajes ligados ao imaginário do guarda-roupa masculino da época. Documentada como um homem homossexual, a africana teve sua história relida e foi classificada como travesti apenas na década de 2000, pela ativista negra Majorie Marchi.
Desde então, Manicongo foi abraçada pela comunidade de travestis e transexuais como símbolo de resistência. Ela trabalhou como sapateira na capital baiana e, como suas roupas e modos não eram considerados adequados a um homem, foi acusada de sodomia e de fazer parte de uma quadrilha de feiticeiros sodomitas.
Após ser denunciada, Xica foi julgada pelo Tribunal do Santo Ofício da Inquisição, instituição da Igreja Católica responsável por punir crimes de heresia, e condenada à pena de ser queimada viva em praça pública e ter seus descendentes desonrados até a terceira geração. Em uma tentativa de escapar da pena imposta pela Igreja, Xica abdicou de sua identidade feminina e passou a se vestir e se comportar como um homem da época.
Com informações da Rede CNN Brasil (Fotos: Instagram)