Por Alonso Gomes Campos Filho *
Pra mim, a eleição presidencial de 2022 é a mais importante que acompanhei em toda a minha vida. Não faremos opção entre um candidato ou outro, e sim se queremos ou não a continuidade da democracia, que foi conquistada com o sacrifício da vida de muitas pessoas, anos atrás. Não podemos esquecer isso. Não resta dúvida que existe o iminente risco de termos uma ditadura implantada por Bolsonaro. Aliás, não será novidade, pois ele vem prometendo isso. Depois não venham reclamar.
Nós vamos escolher o modelo de Estado e não apenas de governo, que será implantado não apenas para quem votará, mas sobretudo para o futuro de nossos filhos e netos. Não esqueçam isso. As crianças e jovens do país precisam crescer em liberdade, com dignidade e sem medo.
Se Lula for eleito, tirá-lo do poder em eventual fracasso do seu governo será fácil; seja pelo voto daqui a 4 anos, ou pelo impeachment. Ao contrário, apear Bolsonaro, com suas atitudes antidemocráticas e com o apoio do Congresso eleito, será impossível. E ninguém poderá dizer que ele não avisou, pois já anunciou o que fará. O preço a pagar é incomensurável.
Tenho lembranças negativas do governo Lula e do PT como um todo. Mesmo assim, Lula possui melhores condições de resguardar o nosso sistema democrático. E a manutenção das instituições democráticas é o que importa neste momento. O meu voto em Lula, mesmo com ressalvas, é mais por isso. O objetivo é retirar quem só prega a desunião e o ódio.
Ademais, não obstante os desmandos que vimos, Lula governou com moderação e foi um período de muitos avanços, em várias questões. Ele não é extremista. A prova maior é que, mesmo com 87% de aprovação ao final do seu governo, nunca fez nenhuma ameaça autoritária ou tentou interferir nas instituições, como as que se vê constantemente por parte de Bolsonaro, que tem uma aprovação pífia e uma rejeição que ultrapassa os 50%.
A propósito, Lula é inocente? Para o Direito, é, pois não tem nenhuma condenação contra si. E a Constituição Federal anuncia, em seu artigo 5º, inciso LVII, que “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatório”. Nada mais precisa ser dito, pois presunção de inocência significa presunção de inocência. Simples!
E sobre Bolsonaro, o que dizer? Muita coisa.
Ele não tem sentimentos de remorso e de compaixão. Frente ao sofrimento alheio quando das milhares de mortes na Pandemia da Covid-19, soltou frases do tipo “eu não sou coveiro”, “chega de frescura, vai ficar chorando até quando” etc. Sem esquecer que chegou a imitar, de forma sádica e jocosa, uma pessoa sofrendo com falta de ar, à espera de um leito de hospital. Que manifestação cruel, meu Deus!
Por sua vez, enquanto as pessoas morriam por falta de vacinas, ele andava de jet ski e de motocicleta, sem utilizar a recomendável máscara e incentivando os seus seguidores a não a usarem. Além de prescrever medicamentos que reconhecidamente não serviam para combater o vírus.
Por irresponsabilidade do governo Bolsonaro, uma vez que atrasou a vacinação por meses, vários brasileiros morreram durante a pandemia. Quantos teriam permanecido vivos se tivesse agido prontamente, como lhe era insistente e veementemente cobrado?
Nunca vi momento mais assustador em toda a minha vida, do que no período da Pandemia. Muitos perderam familiares e amigos, enquanto cada um de nós estava como que esperando sua vez. Não posso esquecer isso. Mas parece que muitos esqueceram. Lamentável mesmo!
Se sequer a morte de um semelhante, asfixiado pela falta de ar, não conseguiu comover Bolsonaro, o que esperar dos seus correligionários que foram eleitos para o legislativo? Sinceramente, você teria coragem de indicar uma pessoa desqualificada dessa como exemplo para um filho seu?
Ele tem uma vaidade exagerada. Por se sentir superior, não tolera contrariedades e reage com expressões “quem manda aqui sou eu”, “eu sou o chefe supremo”, “eu faço o que quero”, “cala a boca”, e outras de conteúdo nitidamente ególatra e ditatorial. Ele tem mente autoritária, pensa como ditador
É preguiçoso, embusteiro, descontrolado, transgressor, paranóico e favorável à tortura (disse que o grande erro da ditadura militar foi ter apenas torturado, e não ter matado uns 30 mil).
É preconceituoso contra mulher, negro, índio, negro, nordestino etc. A propósito, você, meu caro nordestino e eleitor de Bolsonaro, não se toca com o que ele tem dito sobre você? Acha que, por ter votado nele, está imune aos seus desmandos? Não coloca as “barbas de molho”?
Com críticas irresponsáveis às urnas eletrônicas, não apresentou uma prova sequer de sua vulnerabilidade.
São essas algumas das qualidades ou características negativas (ou defeitos) de Bolsonaro, dentre muitas outras. Nunca vi uma pessoa mais perniciosa em minha vida!
Os fatos que apontei acima não são novidades para ninguém, pois todos foram acompanhados por meio dos veículos de comunicações do país.
No entanto, mesmo não sendo uma pessoa que sirva de exemplo, conseguiu impor um comportamento idiota em algumas pessoas, muitas delas bem formadas e esclarecidas, e que não entendemos como seguem um homem desumano, agressivo e perverso como ele.
As características que Bolsonaro possui são encontradas nos psicopatas. É dominante entre os especialistas que psicopatia não tem cura, pois entendem que não é uma doença mental (uma vez que não há lesão no cérebro), mas uma maneira de ser. Já nascem com esse comportamento, e jamais mudarão. Assim, não tenham esperança, pois ele não melhorará.
Entre o “Lula é ladrão”, como se diz por aí, e todas as qualidades negativas acima indicadas, vou escolher o “Lula ladrão”. O outro é do mal.
O deputado federal mais bem votado do país se chama Nikolas Ferreira, declaradamente antivacina e seguidor de Bolsonaro. O General Pazuello, o homem que foi um desastre na pandemia enquanto ministro da Saúde, também teve uma estrondosa votação. Já Luiz Mandetta, ministro da Saúde que tentou trazer a vacina para salvar as pessoas contra o coronavírus, não foi eleito. É assustador!
Bolsonaro interfere nos órgãos federais e nas instituições a todo momento. Por exemplo, trocou os superintendentes e delegados da Polícia Federal que ousaram investigar seus correligionários. E disse que sempre faria assim. Incentivou a separação de poderes, sendo o ponto mais representativo nesse aspecto a incitação à ocupação, pela força, do Supremo Tribunal federal. Já quis calar a imprensa diversas vezes e a afronta quase diariamente.
Portanto, Bolsonaro está pronto para implantar a tirania e a autocracia (governo de mando único, ou seja, uma ditadura). Só não enxerga quem não quer.
Mas, o que é o bolsonarismo mesmo? Entendo como um movimento de extrema direita, que nasceu baseado no ódio ao PT e a Lula, marcado por uma adesão fanática a um político. Ora, não é porque se tem restrição à maneira que o PT governou, ou mesmo ódio ao PT ou a Lula, que, obrigatoriamente, a pessoa tenha que ser bolsonarista! Dá para separar as coisas.
Alguns chegam a dizer que não tem corrupção no governo. Como não?! E a intermediação de verbas por parte dos pastores no Ministério da Saúde? E a revelação, pelo TCU, da prática de fraude milionária envolvendo um cartel de empresas em licitações na Codevasf? Como definir a compra de dezenas de imóveis em dinheiro “vivo” por parte dos familiares de Bolsonaro? Qual o sentido do orçamento secreto? E a decretação de sigilo de cem anos em assuntos bem particulares, quem tomará conhecimento disso daqui a cem anos?
O que alivia é que nunca vi, em tempo algum, tantos segmentos muito bem conceituados da sociedade civil se unindo e se manifestando contra uma eventual ditadura. E estou junto, pois não quero ser cúmplice de uma farsa que está destruindo o Brasil e que está fazendo com que o fascismo seja aqui instalado.
As pessoas que o apoiam vão eleger um fascista de verdade, achando que é de brincadeirinha, por causa de um inexistente comunismo, que acham que é de verdade. Pelo amor de Deus, quem diabos quer ser comunista neste nosso Brasil? Não conheço ninguém.
Por conseguinte, o voto será a favor ou contra a democracia. Neste momento, eu só tenho uma opção: LULA. Ainda que seja alguém que eu tenha reservas. Quero ter um papel que me cause orgulho. Temos que virar essa página repulsiva, embora jamais seja esquecida.
É o que tenho a dizer, pelo menos enquanto posso, pois, mais à frente, poderá não haver ninguém para tentar se manifestar e defender as pessoas, como disse o poeta brasileiro Eduardo Alves da Costa em seu poema “No caminho com Maiakovski”.
Tudo está a indicar que, se Bolsonaro for eleito, não teremos eleições tão cedo. Lembrem do que estou dizendo, mas queira Deus que eu esteja enganado.
* É ex-policial federal, promotor de Justiça na Bahia e em Sergipe e advogado criminalista militante.