Por Fátima Barros *
(Texto escrito em 30 de outubro de 2018. De lá pra cá atravessamos um longo e sofrido período de trevas. Mas ninguém soltou a mão de ninguém. E vencemos!)
“Sei que aprendi e sofri muito nesses últimos tempos. Sei que a descoberta de parentes, amigos e colegas identificados com o fascista eleito ontem é uma ferida que vai doer por muito tempo ainda. Doeu muito assistir, impotente, um povo ignaro, desassistido, invisível, ser conduzido feito manada para o matadouro, aplaudindo seus condutores como quem aplaude um Messias. Sei que foi assustador perceber o altíssimo grau de desconhecimento sobre a história recente do nosso país, pelos nossos jovens. Tão assustador quanto, no mesmo patamar, se assenta o apedeutismo de parcela majoritária da população sobre qualquer assunto que fuja ao cotidiano do mastigado pela imprensa massiva. Não tão assustador, porém, quanto assistir, atordoada, a facilidade que se tornou vilipendiar a Deusa Têmis, em todas as Instâncias, sem o menor pudor, com sofismas floreados de erudição para acalantar ouvidos moucos.
Não foi fácil, nesses últimos tempos, controlar a indignação sem perder as estribeiras, diante de legítimos representantes daquela Deusa vangloriando-se pelos ultrajes a ela impostos. Mas, e nada como uma conjunção adversativa nessas horas, a dor das dores, aquela que emana da injustiça mais torpe, aquela perpetrada num dia 07 de abril, essa, mãe de todas as outra dores, pariu ontem uma nova filha. Uma filha de outro pai, uma filha de outra natureza. Uma filha robusta. Gestada na cumplicidade dos que se uniram em torno de uma ideia, dos que ousaram perseguir um sonho. E que nasceu do tamanho dessa ideia, com o peso desse sonho. Uma filha chamada RESISTÊNCIA!
Continuemos juntos, companheirxs! A luta está só começando!”.
* É juíza de Direito aposentada
1 Comments
Que texto lindo. Sentido, vivido por uma pessoa que transborda sentimento. Uma brasileira que traduz o pensamento de uma maioria que esteve, durante os últimos anos, engasgada pela barbárie. Você Fátima Barros, nos representa.