Por Adiberto de Souza *
Quando escreveu “Saramandaia” e o “O Bem Amado” o dramaturgo Dias Gomes não imaginava que suas novelas seriam imortalizadas pelos políticos de Lagarto, município localizado na região Centro-Sul de Sergipe. O nome da primeira obra literária foi usado para distinguir um grupamento político, enquanto o “Bem Amado” se constituiu num pequeno pesadelo para o ex-prefeito arenista João Almeida Rocha, um dentista graduado na Faculdade Nacional de Odontologia da Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Unidas em torno do ex-vice-governador Dionízio Machado – homem de bem e do bem, a ponto de não ter oposição – as famílias Reis e Ribeiro romperam politicamente em 1976, justo no ano em que a TV Globo exibia a novela Saramandaia. A obra de Dias Gomes conta a história da fictícia cidade de Bole-Bole, onde duas facções políticas se digladiam: uma querendo preservar o nome do município e a outra propondo a mudança para Saramandaia. Essa “briga” foi a deixa para os lagartenses batizarem os dois grupos com os nomes da polêmica televisiva. Desde então, os Ribeiro são identificados como Bole-Bole, enquanto os Reis são os Saramandaia.
Obra sem inauguração
Por muitas noites, O “Bem Amado” tirou o sono do honrado ex-prefeito João Almeida Rocha. Esta novela do baiano Dias Gomes apresenta como personagem principal o prefeito Odorico Paraguaçu, um político cheio de artimanhas, que tem como meta prioritária em sua administração, na cidade fictícia de Sucupira, a inauguração do cemitério local. O enredo termina com a morte do dito cujo e o seu sepultamento no campo santo zero quilômetro. Desde então, todos os prefeitos evitam prometer, e muito menos, construir cemitérios, com medo de participarem da inauguração acondicionados em vistosas urnas funerárias.
Pois bem, voltemos ao doutor João Almeida Rocha. Eleito prefeito de Lagarto em 1972, este Saramandaia raiz prometeu aos moradores do povoado Rio das Vacas construir um cemitério na localidade. Objeto da monografia de Alainson Pereira Modesto, graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Sergipe, o saudoso prefeito narra o seu tormento: “Fiz a obra como o povo pediu, mas não inaugurei. Não dizia nem que fui eu quem construiu o cemitério para evitar as brincadeiras e comparações com o prefeito Odorico Paraguaçu”. Pelas graças de Deus, o doutor João Almeida morreu bem depois do primeiro sepultamento em Rio das Vacas. Bem que os lagartenses poderiam homenagear o romancista Dias Gomes por ter inspirado com suas novelas a política daquele próspero município sergipano. Misericórdia!
* É editor do site Destaquenoticias
2 Comments
O engraçado é que lagarto até hoje, nao houve renovação política, a nao ser um pequeno espaço ocupado por valmir da madereira. Portanto, sao mais de 40 anos essas familias mandando em lagarto. O coronelismo ainda persiste nao só em.lagarto, mas em muitos municípios nordestino.
Sim, o coronelismo ainda comanda a política em grande parte dos municípios em nosso Estado, onde esta prática persiste. E assim será, enquanto “eleitores” seguirem brincando de votar.
A matemática é simples: não haverá mercadores de compra de votos se não houver quem não se disponha a se vender. Ponto.