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O Bando de Mulheres

Por Neu Fontes *

Em 1991 lancei meu último trabalho, ‘Trilhos da Lua’ era o nome do disco, e com esse trabalho decidi parar de fazer show e dá um tempo na minha carreira artística musical. Foram mais de 12 anos produzindo discos e shows, em diversos palcos pelo país, um tempo de muito trabalho, tristezas, aprendizados e alegrias. O encerramento se deu quando fui convidado pela professora Eugenia Teixeira para assumir a diretoria técnica da Fundesc – Fundação Estadual de Cultura e achei que não conciliava meu trabalho na Fundação com minha carreira artística.

Nesse período em uma conversa com Jorge Lins sobre a minha decisão ele fez um comentário: – Você vai parar de compor e produzir? Acho que você deve produzir alguns artistas ou criar uma banda. O tempo passou e reencontrei Jorge Lins que me disse que tinha uma ideia e como sempre muito boa: criar uma banda de forró só de mulheres e se chamaria Bando de Mulheres, uma ideia genial na época. Topei na hora e começamos a procurar as componentes e montar repertório.

Fui pedindo informações aos amigos e descobrindo vários talentos femininos. A primeira foi uma indicação de um cantor da noite Barbosa Lima, que me falou de uma menina que cantava com ele em um barzinho na Atalaia Nova. A cantora tinha vindo de Alagoas da cidade de Palmeira dos Índios. Marcamos no bar “Vou levando” aqui em Aracaju pois ele tocaria lá e traria a moça.

Cheguei cedo e conheci a cantora, muito tímida e bem jovem, Marilda era o nome dela, conversamos algum tempo e soube algumas coisas: ela morava na casa de umas amigas na Barra dos Coqueiros e que precisava trabalhar para se sustentar e ajudar a família dela. Ela foi cantar. Era afinada, uma voz forte, uma intérprete em construção, pois muito jovem ainda não acreditava em todo seu potencial. Convidei de imediato a ser a primeira cantora do Bando de Mulheres.

Mirá uma cantora de Lagarto e que fora cantora da Banda Los Guaranis, irmã de um dos donos da banda o também cantor e ótimo trompetista conhecido por Foguinho, a referência fora do empresário da banda Seu Bosco. Cantora excelente, com agudos inacreditáveis e muito afinada. A terceira cantora eu conhecia o pai dela, Luciana Linhares sempre fora uma cantora estilosa com boa presença de palco, bonita e com experiência no canto e na dança.

Completei o time das cantoras e fui buscar mulheres musicistas, encontrei a sanfoneira uma mulher madura, simpaticíssima uma alegria que contagiava a todos no palco e na plateia:  Geonice Pereira de Souza conhecida como Madrinha. Pois é, ela era madrinha da cantora Amorosa, quando acompanhava a cantora era chamada carinhosamente por todos de Madrinha e assim ficou seu nome artístico, hoje é componente da orquestra sanfônica…

A procura ia ficando cada vez mais difícil e quando já estava desistindo um amigo me disse que conhecia uma menina que estava tocando percussão, ainda era muito verdinha mas tinha talento, na mesma hora fui em busca desse tesouro: Elisa Nunes é o nome dela, uma menina, que tinha esse sonho de tocar e ser ritmista, convidei-a para o projeto pois além de tocar era bonita e falava muito bem, com posicionamento e assim completei a primeira formação do Bando de Mulheres. Elisa depois tocou com vários artistas entre eles Alex Santana, hoje ela mora no Rio de Janeiro.

A dificuldade na época de encontrar mulheres tocando bateria, baixo, guitarra e teclado era grande e tive que me contentar em convidar homens para formar essa banda base, assim convidei o que tínhamos de melhor na cidade. Para os teclados e direção musical Peta alagoano de penedo que o Baterista Ednor outro penedense me indicou, Baixo Manguito e na guitarra Ronaldo Heitor, a Banda estava formada e pronta para os shows.

Nesse mesmo período gravaria com as cantoras o primeiro LP do Bando em Recife, nos estúdios Estação do Som com Antônio Mariano, o mestre Tovinho, os músicos foram escolhidos a dedo, Genaro na sanfona, João Lira violões, Lulu Guitarra, Carlinhos Bateria, e a lenda viva da Zabumba, Quartinha Zabumbeiro de Luiz Gonzaga. O repertório era recheado de xotes, baiões, forrós e canções, música tradicional nordestina de muita qualidade.

Tinha músicas de minha autoria, Jorge Lins, Tonho Baixinho, Petrúcio Amorim, Marron, Val Macambira, Ismar Barreto e Paulo Lobo e Ceceu. O nome do LP Marianos fora em homenagem ao Mariano Antônio ator do grupo Imbuaça que falecera em um acidente de carro no dia do São João, artista que me influenciou e nas minhas pesquisas na cultura popular. Logo depois uma gravadora do Rio de Janeiro do produtor Jorge Reis se interessou em produzir o CD. O trabalho gravado não ficou como Jorge Lins queria, ele gostaria de um trabalho mais popular no estilo das bandas eletrônicas da época e se retirou do projeto.

Depois da primeira temporada algumas mudanças foram ocorrendo, cantoras saíram como Luciana Linhares que foi para Calcinha Preta e a Mirá que voltou para Lagarto, outras chegaram, Malba sobrinha do Ednore, Luana Machado uma pernambucana arretada, Sonia Omena uma indicação às avessas do Macedo Brilho, que me disse essa moça não canta nada, logo fiquei interessado pois o não canta nada dele era por que ela não tinha se encaixado na linha prega que ele produzia. Assim pedir o contato e constatei que estava certo, a menina cantava muito e contratei.

A Sandra Moreno também conheci de forma inusitada, estava precisando de uma cantora para o espetáculo “Opera do Milho”, uma voz bem nordestina e do interior que imitasse as lavadeiras. Em um concurso de Quadrilha Junina estava eu como jurado, de repente ouvir a tão bendita voz que precisava, era uma menina magrinha cantando como uma velhinha, convidei na hora para fazer o espetáculo. Ela aceitou e trabalhou comigo no espetáculo por algum tempo, depois coloquei ela para fazer vocal na banda. A menina se entrosou com as outras e a cada show melhorava sua performance até eu colocar como cantora também.  Outras ótimas cantoras passaram pela banda

Os músicos de base também foram mudando. Passaram pela banda, Hugo Leonel, Miltinho Goulart, até a banda se firmar em um grupo que perdurou até o fim dos trabalhos em 2003, ficaria assim a banda base: Valdo França Teclados e arranjos, Gilson Batata baixo e direção musical, Bruno Bateria e na guitarra Miltinho Goulart.

A Banda gravou três trabalhos sendo o último inédito que não foi lançado. Fez mais de 90 shows por ano com muito sucesso e vale ressaltar a presença permanente da Sanfoneira Madrinha e da Cantora Marilda, que durante os anos se transformou em uma referência de estúdio, gravando vocais e cantando em jingles e gravações de várias bandas até lançar seu trabalho solo como Marilda, Nega Forrozeira. E aqui vai uma homenagem muito especial a minha cunhada Cléa Gama que durante muito tempo foi a produtora da Banda, muito obrigado.

Esse bando de mulheres e homens que guardo com muito carinho na memória e no coração.

* É cantor, compositor, publicitário e gestor cultural.

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