Por César Henriques Matos e Silva
Dizem que o Campus de Laranjeiras é o mais bonito da UFS devido à sua bela estrutura arquitetônica às margens do Rio Cotinguiba e inserida no centro de uma cidade com grande valor histórico e paisagístico. Os cursos de Arqueologia, Museologia e Arquitetura e Urbanismo não poderiam estar melhor localizados, apesar dos grandes desafios em um país que não protege nem valoriza devidamente seu patrimônio arquitetônico e histórico. O curso de Licenciatura em Dança é o quarto curso que integra o nosso campus, mas a sua vinculação é apenas administrativa, pois suas atividades acontecem no também belíssimo Centro de Cultura e Arte (Cultart) da UFS em Aracaju.
Este artigo busca esclarecer melhor alguns fatos pontuados pelo professor do Departamento de Dança (DDA), prof. Daniel Moura, em artigo aqui publicado no dia 14 de setembro, intitulado “Sem dar passos para trás: expectativas para a licenciatura em Dança na UFS”.
A frágil relação entre o Departamento de Dança e o Campus de Laranjeiras (Campuslar) – haver uma vinculação administrativa apesar do curso estar fisicamente em outro local – se arrasta desde 2015 e foi um dos desafios que me coube ao assumir a direção do Campus em agosto de 2021. Ao contrário do que coloca o professor do DDA, entretanto, a vontade do Departamento de Dança de se desvincular do nosso campus sempre foi reconhecida pela direção do Campuslar, mas sob quais condições?
É preciso compreender melhor a situação para não se iludir com a sua afirmação descontextualizada de que “nenhuma das propostas postas à mesa para viabilizar a saída por completo do curso de Dança de Laranjeiras foi aceita”. É importante deixar claro que a decisão final de não aceitar a saída do DDA sob as condições colocadas pela Reitoria e PROGRAD foi tomada pelo Conselho de Centro, no qual o Departamento de Dança tem assento.
A UFS é composta por Centros que aglutinam departamentos com cursos afins. Com a expansão e interiorização da universidade, os campi do interior também receberam o status de Centro à medida em que foram criados. Pelo estatuto da universidade, os Centros precisam ter pelo menos quatro departamentos. Assim, uma saída do DDA significaria que o Campus de Laranjeiras perderia o status de Centro, pois passaria a ter apenas três departamentos. Quais as consequências disso?
Em seu artigo, o prof. Daniel Moura admite que o Campuslar não pode ficar “desprovido” de quatro departamentos, mas não explica ao leitor que este foi o motivo para que a direção e o Conselho de Centro não aceitassem as “propostas colocadas à mesa”. Seria uma temeridade aceitar algo que nos colocaria em risco. Havia ali naquelas reuniões um grave ameaça para o nosso campus: deixando de ser Centro, todos os atuais departamentos de Laranjeiras teriam, obrigatoriamente, que se vincular a algum outro Centro, provavelmente no Campus de São Cristóvão, o que, em última instância, levaria à extinção do campus, pois os cursos de graduação em Arquitetura e Urbanismo, Museologia e Arqueologia deixariam de funcionar nas nossas instalações.
O parecer da Procuradoria Federal, em memorando de 14/06/2022 encaminhado à PROGRAD, deixa isso bem claro: “Eventual saida do Departamento de Dança da estrutura do Campus de Laranjeiras, conforme indicado, ensejará a extinção do Centro e sua incorporação a outro Centro da estrutura da UFS, face os termos do Estatuto vigente”. Apesar disso, embora a Reitoria da UFS e a Pró-Reitoria de Graduação (PROGRAD) tivessem plena ciência destas consequências nefastas para o Campuslar, houve insistência para que aceitássemos a desvinculação do DDA.
Bem antes das conversações com o MEC para a criação de um novo curso de graduação, como mencionado pelo prof. Daniel Moura, a direção do campus já havia tomado a iniciativa e elaborado em 2022 uma proposta embrionária para a criação de um novo curso. A proposta não teve boa receptividade na PROGRAD e não seguiu adiante. Para se ter uma ideia, a Pró-Reitoria apresentou até mesmo os custos com combustível do transporte para estudantes entre São Cristóvão e Laranjeiras, deixando implícito que Laranjeiras teria um custo alto para a UFS e por isso seria supostamente inviável.
Apenas em 2023 abriu-se a perspectiva, com o novo Governo Federal, de ampliação das universidades federais com a criação de novos cursos e novos campi. Se a nossa proposta tivesse sido desenvolvida desde 2022, já teríamos naquele momento um documento pronto e bem fundamentado. Tivemos que recomeçar do zero.
Sobre novos cursos, não temos boas notícias. Ao contrário da afirmação que “as conversações junto ao MEC, mantidas pelo professor Valter, surtiram efeitos e Laranjeiras deverá, em breve, ganhar uma nova graduação”, a direção do Campuslar não recebeu da atual gestão nenhuma informação sobre as negociações com o MEC para a criação de um novo curso de graduação.
Mas temos outras boas notícias: além dos três cursos de graduação e a pós-graduação em Arqueologia (mestrado e doutorado), temos agora também dois cursos de especialização lato sensu: a Residência Técnica em Arquitetura e Urbanismo (HabCidade), com foco em habitação de interesse social, a pleno vapor com trabalhos em uma comunidade de baixa renda de Laranjeiras e com financiamento do Ministério das Cidades por meio do projeto Periferia Viva, e em breve um curso de especialização para mediadores em educação patrimonial. São dois novos cursos extremamente aderentes à realidade local. Como se vê, o Campus de Laranjeiras segue forte.
* É diretor do Campus de Laranjeiras da Universidade Federal de Sergipe.