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O dito pelo não dito

Por Antonio Samarone *

Filipe da Macedônia contratou o filosofo Aristóteles como preceptor do filho, Alexandre Magno. O Rei, queria o filho bem formado. Filipe resolveu levar o filho a um conclave da realeza mediterrânea, acompanhado do novo mestre.

Dias de debates. Discursos e mais discursos, teses e mais teses, argumentos e mais argumentos. Uma torre de Babel. Ao final, Alexandre perguntou ao preceptor, Aristóteles: “quem estava com a verdade?” O filosofo respondeu sobriamente, ninguém. Não avalie a política pelo dito, as palavras servem para ocultar os interesses.

A política guia-se por interesses não revelados, em boa parte, interesses pessoais. Alexandre nunca esqueceu a lição e conquistou o mundo.

A política em Sergipe segue uma tradição centenária: os grupos no poder governam sem oposição. Sergipe é muito pequeno, uma Província conservadora. Foi sempre assim!

As eleições em Sergipe são decididas nos palácios!

Como dizia um antigo Vereador do Aracaju: “O poder é como um jegue carregado de rapadura, até o rabo é doce.”

As eleições municipais se aproximam, e o grupo no poder reúne-se em convescotes frequentes, para ratear o Poder. Escolher o eleito.

Vários pleiteiam. São reuniões onde todos sabem que todos estão mentindo. Os derrotados internamente, conformar-se-ão. Qualquer discordância será tratada como rebelião.

A escolha do candidato situacionista a Prefeito do Aracaju é um exemplo perfeito. Todos querem. Uma disputa com único critério: o escolhido não pode ameaçar a reeleição do Governador, em 2026.

Nessa lógica aristotélica, o candidato do atual Prefeito do Aracaju, Luiz Roberto, é visto com desconfiança. Edvaldo Nogueira, potencialmente, pode ser uma ameaça na sucessão, em 2026. Por isso, não pode continuar comandando a Prefeitura. Todos conspiram contra.

Por mais que Edvaldo negue, eles não acreditam. Geralmente, os políticos sabem o que os outros políticos estão pensando. Os ingênuos não sobrevivem.

Resta a Edvaldo, um gestor público qualificado, bem avaliado na opinião pública, procurar outras saídas políticas para o seu candidato.

Edvaldo Nogueira é o último político em Sergipe, com mandato, da geração que chegou ao poder com Jackson Barreto, na vitória para a Prefeitura do Aracaju, em 1985. São 39 anos! Os atuais áulicos, tem outros métodos e outros objetivos.

Edvaldo Nogueira (PDT) chegou ao Poder em Aracaju, numa grande demonstração de habilidade. São raros. Guardando as proporções, um exemplo na linha de Flávio Dino (PSB do Maranhão). O próprio PT em Sergipe, nunca aceitou.

Os novos políticos que governam Sergipe, olham Edvaldo com desconfiança. E não escondem. A principal crítica ao Prefeito é que ele não cumpre os acordos. Nunca dizem que acordos são esses.

É evidente que a traição em política é velada, muitas vezes, encoberta por declarações públicas de apoio. O chamado apoio de boca para fora.

Não precisa ser profeta para avaliar a política. As reuniões de cúpula, os conchavos, o disse-me-disse, é tudo blá-blá-blá. Na política, só existe gratidão se for conveniente aos interesses dos envolvidos.

A pergunta central é a quem interessa tal ou qual candidatura? Essa é chave de qualquer análise científica. E o eleitorado onde entra? Bem, essa é outra discussão.

No caso do Aracaju, são muitos os interessados do lado da situação. Todos querendo convencer ao Governador que, em sua sucessão (2026), eles não serão concorrentes. Talvez, por isso, o martelo somente será batido para valer no segundo turno.

Vamos aguardar. Em pouco tempo, saberemos se o método aristotélico continua valendo.

* É médico sanitarista e está secretário da Cultura de Itabaiana.

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