Por Antônio Samarone *
A Peste, a guerra, a fome, a violência, a solidão, a obesidade e a morte são as Sete Bestas do apocalipse. Caminham próximas!
O fim do mundo sempre foi um patrimônio das religiões. No entanto, a ciência vai acumulando dados e começa a levar a sério os riscos de que um fenômeno natural ou provocado pelos humanos possa acabar com a civilização.
Entre os riscos reais do fim do Homo sapiens estão um conflito nuclear, choque da terra com um asteroide, aquecimento global e, por que não, as Pestes.
O cientista francês Patrick Zylberman, em seu clássico “Tempêtes microbiennes”, faz a previsão que o mundo será crescentemente atacado pelas Pestes.
A Pandemia já matou no mundo, até ontem (24/05), 350 mil pessoas. Os negacionistas minimizam: morrem 56 milhões de pessoas por ano no mundo, 350 mil não é nada, menos de um por cento. Acidente de trânsito mata um milhão e duzentas mil pessoas por ano, e ninguém está preocupado com os automóveis. Ninguém tem medo de carro.
Oitocentas mil pessoas se suicidam por ano, e ninguém nota. A Pandemia matou trezentos e cinquenta mil e é esse alvoroço. O mundo está parado, dizem os negacionistas.
O número de vítimas assassinadas em atentados terroristas é pequeno. Mas se trata de uma ameaça endêmica, que alterou profundamente a vida cotidiana.
Ocorre que não sabemos qual porcentagem de pessoas contagiadas perde a vida por culpa do coronavírus SARS-CoV-2. Se for 0,1% e todos os seres humanos puderem se contagiar, o número total de mortos poderia, hipoteticamente, alcançar a ordem de 7 milhões.
Eu sei que você está pensando, mas toda a população não será contaminada, em breve teremos uma vacina, eu sei. Mas o percentual de mortes é superior a 0,1%. Os estudos atuais apontam em torno de 0,5%.
O negacionismo é uma ideologia brasileira, não encontra sustentação científica. Outra esquisitice nossa é o uso da cloroquina no tratamento da covid. Nossa e de Trump.
Os negacionistas apresentam três alternativas ao atual modo de isolamento social:
Esses três modelos, com as suas variantes, são alternativas que visam preservar a economia e o mundo atual. Visa manter a atual normalidade.
O isolamento social genérico, com ou sem lockdown, é quem está destroçando a economia, segundo o ponto de vista negacionista.
Acho, que quem está desmontando o atual modo de vida, não só a economia, é a própria Pandemia. independente da estratégia de combate.
Grande parte de nossa forma de vida anterior ao vírus já é irrecuperável. O distanciamento físico, por exemplo, será obrigatório assim que se saia de casa.
O isolamento social genérico, com uma cobertura de 70%, indicado pela OMS, foi o caminho seguido pela imensa maioria dos países.
Sergipe resolveu seguir um caminho próprio: o isolamento social do faz de conta, cumpre quem quer. Essa opção não retarda a propagação da Pandemia.
Sergipe encerrou o final de semana (24/05) com 93 óbitos, 132 pessoas internadas nas UTIs, e 5.314 casos notificados. A incidência de 236/100.000 e a taxa de mortalidade de 4,1/100.000. Os dados epidemiológicos são trágicos. Se não bastasse, o isolamento social em Sergipe é o menor do Brasil.
Em Aracaju, o isolamento social relaxou. Só cumpre quem quer. Limitando-se a propagação da doença evitaremos mortes.
Nesse momento, precisamos de posturas responsáveis das autoridades, para evitarmos mais mortes e um provável saturamento dos serviços de saúde.
Precisamos de ações corajosas, mesmo que desagradem. O populismo não é uma boa companhia, nessa hora.
Vamos aguardar o pronunciamento do Governador. Ainda hoje?
* É médico sanitarista e professor da Universidade Federal de Sergipe.
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