Por Alberto Oliveira *
Os professores de Jornalismo repetem, à exaustão, quando começam a falar sobre a estrutura clássica de um texto informativo: é preciso buscar respostas a 6 perguntas: O que aconteceu? Onde? Quando? Com quem? Por que? Como aconteceu?
Mas são apenas 2 as perguntas que se impõem no fazer jornalístico e elas separam o profissional do preguiçoso.
O jornalista deve, continuamente, diante de tudo, perguntar: “Por que?” E com todas as suas variáveis. Por que é assim e não de outra maneira? Por que não pode ser de outra forma? Por que isso aconteceu? Por que não ocorreu? Por que foi revelado? Por que se escondeu o assunto?
E, diante da resposta (apurada, conferida, checada), é fundamental (ou não se estará fazendo jornalismo) fazer-se a segunda pergunta: “Será?”
Ou seja: o jornalista precisa duvidar, ir em busca da opinião contrária, do contraditório. Para não correr o risco real de ser transformado pela fonte de informação em mero menino de recados.
Façamos, aqui, um desvio para tratar de outro profissional: o cientista e, por consequência, do seu campo de atuação, que é a ciência.
As duas perguntas fundamentais do jornalismo (“por que” e “será”) poderiam (e deveriam) ser integralmente aplicadas quando se trata de descobertas científicas?
Há um astrofísico nos Estados Unidos, virtualmente uma unanimidade (o que é uma burrice, segundo o antológico Nelson Rodrigues): chama-se Neil deGrasse Tyson.
Vejamos o que ele escreve no prefácio de sua obra Origens: “A ciência depende de um ceticismo organizado, isto é, de uma dúvida contínua e metódica”. E mais adiante: “A ciência encoraja e recompensa aqueles capazes de demonstrar que as conclusões de outro cientista estão simplesmente erradas”. Em resumo: “Para os outros cientistas, aquele que corrige o erro de um colega, ou cita boas razões para duvidar seriamente de suas conclusões, executa um ato nobre”.
Alinha-se, portanto, com o pensamento do astrônomo, astrofísico, astrobiólogo, escritor e cosmólogo Carl Sagan, autor de “O mundo assombrado pelos demônios”, onde se pode ler: “Aqueles que têm alguma coisa para vender, aqueles que desejam influenciar a opinião pública, aqueles que estão no poder, têm um interesse pessoal em desencorajar o ceticismo”.
E nos ensina Sagan: “Os argumentos de autoridades têm pouca importância – as autoridades cometeram erros no passado. Voltarão a cometê-los no futuro”.
Antes de deixarmos o desvio rumo ao fim dessa nova conversa, sugiro a leitura de 2 livros: “Medicina dos horrores”, de Lindsey Fitzharris, e “A assustadora história da medicina”, de Richard Gordon. Veremos os absurdos defendidos durante séculos, às vezes, por especialistas, cientistas, autoridades de todo tamanho.
Saiamos do desvio e retomemos as duas questões fundamentais ao exercício do jornalismo, para constatar, com horror, que os jornalistas brasileiros (sempre há exceções que confirmam a regra) diante da complexidade de uma pandemia, não se dão ao trabalho de fazer a pergunta que é uma exigência do fazer jornalístico: “Será?”
Aceita-se qualquer coisa – com a desculpa de que veio de um especialista, de uma autoridade, de um cientista.
Quando a ciência aceita os resultados de seus experimentos sem deles duvidar (sempre), faz-se má ciência. Quando o jornalista dissemina sem qualquer sombra de ceticismo o que lhe é dito (ancorando sua atitude no conhecimento da fonte), presta um péssimo serviço ao jornalismo, mas, principalmente, ao leitor, à sociedade.
E se você é estudante de Jornalismo, espero que diante de minhas conclusões faça a pergunta que se espera: “Será?”
* É jornalista, escritor e editor do site LEIAMAISba