Por Eduardo Marcelo Silva Rocha *
Quando surgiu o Corpo Policial Provincial, em 1835, a Capital de Sergipe era a cidade de São Cristóvão, onde funcionava toda sede administrativa da Província, embora não tenhamos ainda confirmação fidedigna da localização. Com a mudança da capital sergipana, em 1855, para Aracaju, transfere-se ali, junto com a administração da província, a sede do Corpo de Polícia.
Apesar de ainda não sabermos exatamente qual imóvel foi designado para sua sede em 1855, sabemos que a Batalhão Policial em algum momento ocupou um prédio situado à Av. Ivo do Prado, 396, aí permanecendo até o ano de 1924. Esta edificação, após a desocupação, foi demolida e reconstruída para abrigar o então Colégio Atheneu Dom Pedro II, até fins dos anos 1950. Por isso mesmo, ficou conhecido como “Atheneuzinho” e hoje, após ter sido usado por outros fins ligados à educação estadual, abriga o Museu da Gente Sergipana. Em 1924, portanto, o Quartel do Comando Geral da Polícia Militar do Estado de Sergipe passa a se localizar à Rua Itabaiana, 336, Centro de Aracaju, até os dias atuais.
O palacete hoje tombado, foi inaugurado em 15 de março de 1914, sob o nome de Grupo Escolar Central, em fins da gestão do Presidente Siqueira de Menezes, aquele que dera início à consistente reforma educacional que marcaria o início do século XX, em Sergipe, e, coincidentemente, completa 110 anos agora neste 2024.
Por ocasião da inauguração do imóvel em 1914, que foi abrilhantada com a presença da Banda de Música do então Corpo Policial, após a fala do Presidente do Estado, o General Siqueira de Menezes, o médico Helvécio Ferreira de Andrade, então Diretor da “Instrucção”, discursou e sugeriu que por dever de justiça o nome do Grupo fosse modificado para Grupo General Siqueira de Menezes, o que terminou acontecendo ainda naquele ano.
De “arquitetura urbana de caráter institucional”, o palacete funcionaria como uma das escolas mais modernas do Estado por pouco tempo. Um dos motivos foi a reforma do Palácio Olímpio Campos que se deu entre os anos de 1918 e 1922, nos governos de General Valadão e Joaquim Pereira Lobo, ocasião em que o prédio recebeu os serviços administrativos que funcionavam no Palácio do Governo.
Já na presidência de Maurício Graccho Cardoso, o prédio sofreu obras de readequação para efetivamente receber o Batalhão da Força Pública em 1924. Ou seja, 10 anos após sua inauguração e no contexto efervescente da Revolta Tenentista do 13 de Julho daquele ano.
Vale o destaque de que o Projeto Modernizador de Graccho Cardoso, no que tange à “Instrucção Pública”, seguia matizes daquele iniciado por Siqueira de Menezes, ambos construíram e/ou reformaram prédios escolares. Em levantamento realizado em 1926, o prédio onde funcionara o Grupo Escolar e passou a sediar a então denominada Força Pública, figurava como o 4º mais caro daqueles pertencentes ao Estado de Sergipe. Há relatos, ainda necessitando de verificação mais acurada, dando conta também da construção de uma capela no Batalhão Policial, que seria dedicada a São Maurício.
Desde então, o imóvel da Rua Itabaiana, 336, sedia a Polícia Militar do Estado. E nesse período, para não dizermos que não houve interrupção, voltemos à 1932 quando, por ocasião da Revolta Paulista, a então Força Pública de Sergipe integrou as tropas legalistas.
A ordem de mobilização do Batalhão Policial, única unidade da Força Pública, deu-se em 16 de julho daquele ano e o efetivo embarque rumo ao teatro de operações na região Sudeste, no dia 19 do mesmo mês, no vapor “Campinas”.
Naquele tempo, o Batalhão da Força Pública foi mobilizado como Batalhão Expedicionário, tendo se acantonado na região entre Rio de Janeiro e São Paulo, conforme as necessidades de movimentação do Destacamento Coronel Daltro Filho, ao qual se subordinava, perfilado ao 20º Batalhão de Caçadores e a 3ª Regimento de Infantaria.
Na figura 3, vemos um bilhete do Tenente Stanley da Silveira ao Ten Cel Theodoretto Camargo (Comandante da Força Pública de Sergipe entre os anos de 1931 e 1934), dando conta que, sob ordem do Major Souza Lima, conduziu sua tropa pela Fazenda Garcez, apoiando o efetivo do 20º BC, em 4 de agosto de 1932.
Do total do efetivo, somente permaneceu em Sergipe a 3ª Companhia, a Companhia Extranumerária e a Seção de Bombeiros. Essa tropa remanescente ficou sob Comando do Major Rodomarque Barros Mendonça, então Subcomandante e futuro Comandante Geral. É importante frisar esta passagem, pois de fato o comando da corporação – na figura do Ten. Cel. Theodoreto, seguiu para combater na Revolução Paulista frente ao efetivo.
Voltando ao QCG, outra intervenção de importante no referido imóvel deu-se na segunda metade do séc. XX. Naquela ocasião, foi construído um prédio de 4 pavimentos (contando o térreo), anexo às instalações já existentes, com vistas ao atendimento das novas demandas administrativas, principalmente a necessidade de acomodar a Escola de Formação de Oficiais, que já funcionara em endereços como Avenida Hermes Fontes e Praça Camerino. A inauguração, em 1970, ocorreu com uma solenidade na presença do Governador Lourival Baptista e outras autoridades, na manhã de 21 de abril, marcando as festividades do Dia de Tiradentes, patrono das polícias militares. A programação do evento estampou os jornais da época.
O prédio foi considerado Patrimônio Material Cultural de Sergipe, tendo este tombamento sido materializado no Decreto 18.775 03 de maio de 2000. Hoje, às vésperas do início da reforma do imóvel, o conjunto arquitetônico será restaurado, mantendo o prédio histórico conforme suas características. Certamente teremos uma sede moderna e melhor ajustada às demandas institucionais de um quartel sede da Polícia Militar.
Assim, a realização das obras modernizantes no que é possível, bem como a restauração da construção histórica, serve a um caráter dúplice. Em um momento, permitirá o melhor aproveitamento do espaço, suprindo demandas administrativas da corporação sergipana, no outro, proporcionará o resgate da cultura do nosso Estado, devolvendo à sociedade sergipana uma edificação histórica importante tanto para a Segurança Pública, quanto para a Educação Pública do nosso Estado.
* É tenente coronel da PM/SE e membro da Academia Brasileira de Letras e Artes do cangaço (eduardomarcelosilvarocha@yahoo.com.br)
* Com a colaboração da major Jucimary Pires.