Por Antonio Samarone *
Esse ano não houve brilho. Não é crítica, apenas uma constatação.
A bienal de Itabaiana espantava o mundo cultural de Sergipe pela força, diversidade e riqueza dos seus artistas, poetas e escritores. Esse ano, as coisas murcharam.
A bienal desse ano ignorou a cultura de Itabaiana. Os palestrantes, a temática e os artistas quase todos de fora. Uma contradição: essa Bienal foi organizado pela Academia de Letras e deu as costas a própria Academia.
Não houve uma Bienal de Itabaiana, o que houve foi uma Bienal em Itabaiana.
A centralização, mesmo as bem intencionadas, é inimiga das manifestações culturais.
A Bienal de Itabaiana era um evento coletivo, uma manifestação espontânea de sua gente, dos seus estudantes, professores, escritores, poetas, cordelistas, cantores e músicos. Esse ano, eu soube, foi preciso trazer estudantes de fora, para não deixar os auditórios vazios.
Um palestrante ilustre, meu amigo, disse-me de forma peremptória: “Itabaiana vai ter dificuldade em recuperar o brilho da sua Bienal. Talvez, o erro desse ano pode ter sido fatal.”
Outro intelectual, profundo conhecedor da vida cultural de Itabaiana, justificou: “se não fosse assim, centralizada, a Bienal corria o risco de não acontecer. Por isso, todos os erros são perdoáveis. Na próxima, vamos consertá-los!”
Manifesto a minha preocupação como membro da Academia que organizou a Bienal, como itabaianense e Secretário de Cultura do Município. Não busco culpados, não é isso. Humildemente, espero somação, reflexão sobre o que deu errado, para não repetirmos na próxima Bienal.
Existe um esforço em mostrar ao mundo a força cultural de Itabaiana. Não somos fortes somente na economia, no comercio, nos caminhões, no futebol, no ouro, nas castanhas e na religiosidade. Também somos muito fortes na cultura.
A Bienal de Itabaiana não tem dono, nem padrinho. Não precisa de tutela.
A Bienal de Itabaiana é patrimonio imaterial dos ceboleiros. Viva a nossa Bienal.
* É médico e está secretário da Cultura de Itabaiana.