Por José Vieira da Cruz*
O resultado da eleição para reitoria da Universidade Federal de Sergipe tem significados expressivos e importantes. A respeito chama atenção a sua realização no formato online, o universo de quase 15 mil votantes e a vitória da oposição, chapa 2 do candidato a reitor André Maurício e da candidata a vice-reitora Silvana Bretas, em todos os três segmentos da comunidade universitária: estudantes, técnicos e docentes.
Penso, a meu juízo, que decisões políticas não reavaliadas pesaram de forma desfavorável sob o legado administrativo, acadêmico e institucional da atual gestão. Aos que fizeram parte dela resta agora uma avaliação crítica.
A oposição, por sua vez, soube potencializar – através de outdoors, mídia convencional e, particularmente, através das redes sociais – críticas a atual gestão tanto junto à comunidade universitária quanto junto à opinião pública desde os embates do processo eleitoral decorridos em 2020. Um enfático exemplo de que no atual presente histórico política se faz na e através das redes sociais.
A oposição também se comprometeu com propostas e desafios administrativos: como resolver de forma ágil, rápida e eficiente os problemas das filas e da climatização dos restaurantes nos cem primeiros dias de gestão; resolver o problema de conexão de internet na universidade; agilizar os processos de flexibilização de jornada de trabalhos dos técnicos; reformar o estatuto da instituição, efetivar a equidade de gênero nos cargos de direção, garantir o número de bolsas estudantis, entre outras.
Algumas dessas propostas, para não dizer grande parte delas, para serem viabilizadas dependerão de recursos orçamentários, concessões para alguns dos segmentos da comunidade universitária, redefinições de prioridades e uma boa dose de negociação política.
Isto, como todos devem saber, é parte do jogo. Quem não critica, propõe e ousa lutar, não ousa vencer. Entretanto, criticar, propor e se dispor a fazer é diferente de administrar, cumprir prazos, normas e atender as demandas rotineiras, necessárias e prioritárias. E, ao mesmo tempo, manter atenção à legislação, fiscalização dos órgãos de controle (internos e externos), limitações orçamentárias para gerenciamento dos recursos humanos, capital e custeio. Além das conhecidas, esperadas e frequentes disputas político-partidárias, embates de grupos de interesse dos apoiadores e dos eventuais conflitos de egos.
A favor do novo grupo de gestão conta a postura mais responsável do atual governo federal. Mas, mesmo sob os auspícios do terceiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva, ainda são recorrentes, frequentes e persistentes restrições, contigenciamentos e cortes orçamentários. Uma realidade dura, mas menos severa do que a enfrentada por gestores anteriores durante os governos de Michel Temer e de Jair Bolsonaro.
Apesar deste outro cenário, a realidade dos fatos imporá a nova administração a necessidade de assegurar a continuidade da política de expansão da UFS: efetivação do novo campus de Estância, consolidação dos campi de Lagarto, Laranjeiras, Itabaiana e do Sertão/Nossa Senhora da Glória, e, oxalá de outros desejados, a exemplo do de Propriá.
Em outra frente, igualmente importante, o campus sede em São Cristóvão, assim como, o campus da Saúde em Aracaju, continuarão a exigir mais recursos para manutenção, custeio e investimentos.
Diante destes desafios não bastará dizer que a UFS é o terceiro orçamento de Sergipe, menor apenas do que o de Aracaju e o do próprio Estado, nem recorrer a prática do diagnóstico do caos deixado por gestões passadas, nem tão pouco protelar indefinidamente a tomada de decisões, ainda que algumas delas possam ser indesejadas.
É preciso, portanto, enfrentar a realidade de que os recursos para investimento (capital) e mesmo para custeio (funcionamento da instituição) estão, cada vez mais, em poder dos deputados federais e dos senadores. Será preciso também reconhecer que a autonomia da instituição está vinculada ao ordenamento jurídico do país. E que a instituição, apesar de ter crescido nas últimas décadas, tem um orçamento aquém de suas necessidades de funcionamento.
Desta forma, assim como aconteceu, na UFRJ, UFBA e UFAL, chegou a vez de um outro grupo político ocupar a gestão da UFS. Nos resta, acompanhar os trâmites quanto a homologação da eleição, indicação da lista tríplice e aguardar que a decisão da comunidade seja respeitada com a nomeação dos vencedores do pleito a reitoria da universidade.
Neste ponto, como já escrevi a respeito, a norma vigente além da exigência de que a lista tríplice seja validada por um Colégio Eleitoral Especial na proporção de 70% de conselheiros docentes, 15% de conselheiros técnicos e de 15% de conselheiros discentes, o mencionado regramento só garante a aprovação da lista dos três mais votados. Entretanto a prerrogativa final de escolha cabe a Presidência da República.
A respeito, penso que o atual presidente respeitará a lista tríplice, mas o ideal seria que a lei fosse alterada para garantir, sem os artifícios do Colégio Eleitoral Especial, que a consulta a comunidade universitária na proporção de 1/3 para cada um dos segmentos universitários fosse o suficiente, sem a necessidade de lista tríplice, para nomeação dos reitores e de seus vices. Afastando desta forma os riscos de eventuais mudanças de humor, preferências políticas ou ideológicas do mandatário de plantão no governo federal, como também, das correlações de forças políticas que o envolvem.
Enfim, só estamos no início de mais um novo capítulo da história de nossa querida UFS – um patrimônio da sociedade brasileira e única universidade pública de Sergipe. Aos vitoriosos deste processo desejo muita energia, esclarecimento e ponderação para tomarem as decisões mais acertadas para a instituição.
*Historiador, professor da UFS, membro do IHGSE e ex-vice reitor da UFAL.
2 Comments
*Onde está escrito “sob” leia-se “soube”
Digo, no terceiro parágrafo onde se lê “sob potencializar”, leia “soube potencializar “