Marcelo Alves Mendes*
O regime militar refere-se a um período da história política de alguns países, incluindo o Brasil, em que as Forças Armadas assumiram o controle do governo exercendo com autoritarismo o destino sobre a sociedade.
No próximo dia 1 de abril o país refletirá sobre os 60 anos do golpe civil militar e suas consequências na história do Brasil. Em Sergipe, teremos vários eventos, marcando uma data e uma memória que não deve ser esquecida e refletida, com a devida profundidade, para que jamais ocorra de novo. Sobre o golpe civil militar de 1964, há centenas de livros, documentos, registros, filmes, documentários, locais de memória, relatórios finais das Comissões da Memória, dentre outros.
Em Sergipe temos os estudos de Ariosvaldo Figueiredo, Ibarê Dantas, José Vieira da Cruz, Zelita Batista, o relatório da Comissão da Verdade, coordenada pelo ex-reitor da UFS, Josué Modesto dos Passos Subrinho, depoimentos registrados de lideranças estudantis da época, a exemplo de Marcélio Bonfim, Jackson Barreto, Bosco Rolemberg, Zelita Correia, Alexandre Diniz, na época, estudantes jovens da Universidade Federal de Sergipe.
Com o endurecimento do regime, a partir de 1968, atividades estudantis foram monitoradas, vigiadas, acompanhadas. A UFS recebeu na época, uma listagem de alunos que deveriam ser expulsos, por supostas atividades contrárias ao regime. Por coragem e determinação do reitor, professor João Cardoso, a ordem foi colocada em banho-maria sem uma solução imediata, até a conclusão dos cursos dos mesmos.
A altivez da UFS, presente nos primórdios, via a personalidade e ação do Reitor naquele momento, possibilitou que mentes brilhantes não fossem proibidas de cumprir sua missão, a exemplo do professor Ibarê Dantas, cientista social reconhecido no país, da professora Adelci Figueiredo (in memória), irmã de Ariosvaldo Figueiredo, uma Mestra no campo da geografia na graduação e na pós-graduação na UFS, assim como Alexandre Diniz, um dos maiores intelectuais da geografia agrária no Brasil, professor do Departamento de Geografia da UFS, entusiasta e criador da pós-graduação na nossa Universidade. O professor Alexandre Diniz, vivo e lúcido entre nós, é um dos comprovados perseguidos políticos do regime, fato reconhecido pelo estado brasileiro.
A passagem dos 60 anos do golpe civil militar nos delega o papel de homenagear os resistentes do regime e defensores da democracia, dentre os quais se destacaram estudantes da UFS, de vários cursos, como também, dos que faziam o ensino da geografia sergipana, representada nas ações políticas contestatórias, práticas e discursivas, dos jovens Adelci Figueiredo e Alexandre Diniz, a quem expressamos nosso respeito e gratidão.
A resistência estudantil foi parte significativa da oposição ao regime militar no Brasil, particularmente dos estudantes universitários e secundaristas, em defesa da democracia brasileira, desempenhando um papel importante na conscientização da sociedade sobre os abusos dos direitos humanos cometidos pelo regime militar. Seus esforços ajudaram a construir a pressão pública interna e externa que eventualmente contribuiu para o fim do regime militar e o retorno do Brasil à democracia.
* Professors do Departamento de Geografia do Campus Itabaiana, Pró-Reitor de Assuntos Estudantis da UFS.