O maestro Erlon Chaves deixou-nos uma obra fantástica. Além de pianista, possuía outras habilidadesque lhe fizeram ser lembrado como “Maestro Erlon Chaves”.
Se buscarmos a história recente de nossa música, veremos que Sergio Mendes – artista contemporâneo do Maestro – consagrou-se fora do Brasil fazendo música brasileira, que era chamada de “world music”, enfim…
A lembrança de Sérgio Mendes interessa, na medida em que se é possível estabelecer uma comparação – por mais torta que possa ser – para situar o Maestro junto ao público de hoje que, exceto raros segmentos, nunca ouviu dele falar. O fato é que em determinados momentos, em termos de qualidade, a obra de um é muito parecida com a do outro.
Precisa ficar claro que a comparação plena entre os dois é algo impossível e totalmente descabido, afinal, o Maestro morreu em 1974 e Mendes continua entre nós. A pontuação é feita, no sentido de mostrar a proximidade entre dois dos nossos grandes talentos.
Pois bem, Erlon Chaves nos presenteou com uma obra atemporal – quem quiser “ir noyoutube” e procurar suas músicas, poderá perceber quão agradável é ouví-lo – em sua última fase musical foi, ao lado de Simonal um dos grandes cantadores da “pilantragem”, movimento musical criado por Carlos Imperial e Wilson Simonal.
Já falamos aqui, além do Maestro, em Sérgio Mendes, Wilson Simonal e Carlos imperial. Os anos 60/70 foram profícuos em termos de MPB, notadamente os 60. Foi nesse período que, além dos demais, tivemos Jorge Ben, Tim Maia, Gilberto Gil, Nara Leão, Elis Regina, dentre tantos outros.
Ou seja, falamos de um grupo de artistas talentosíssimos, cada um com sua peculiaridade e extrema criatividade. Era uma época em o lançamento de umLP – (long play) era um universo particular, pois as músicas não se repetiam – era precedido de grande expectativa, pois cada disco constituía um universo particular, fruto do talento e da criatividade dos artistas. Essa era a regra. Afinal, falamos de uma época em que até os cantores de música popular
“brega”, eram, no mínimo, intérpretes fabulosos, dotados de vozes de rara beleza.
O fato de ser outra época, outros tempos ou o que o valha, não pode ser desculpa para justificar a ausência de criatividade. E isso não é de hoje, quando a “oxentemusic” surgiu (era assim que se chamava o forró elétrico, em inícios dos anos 90), era impossível diferenciar as diversas bandas que surgiram. E isso é o que vigora hoje.
Se a marca dos anos 60/70 era a criatividade individual que diferenciava os cantores, hoje temos o contrário: busca-se uma uniformização “das atrações”. Parece que, em cada segmento, todos tocam e cantam exatamente a mesma coisa, tal qual uma linha de produção. Certamente, em um contexto desses, o artista vira peça descartável, pois, na medida em que não se franqueia espaços à criatividade. Ao tornar todos iguais, tornam-se todos facilmente substituíveis por outro.Igual!
E o mais interessante, é que esse processo de “linha de produção”, parece deixar ninguém escapar. É nesse ponto que surge Paula Fernandes.
Com todo o respeito que ela e seus fãs merecem.
Vejamos a artista, ela não apenas é uma hábil cantora, mas dona de uma excelente voz, de timbre mais grave, que lhe garante uma série de possibilidades no seu mister de cantar.
Logo, deveríamos vê-la interpretando músicas mais elaboradas, que lhe permitissem explorar seu dom vocal, o que não ocorre. Dessemodo, ela parece optar – mesmo inconscientemente – por uma “zona de conforto”, ou seja, se enquadrando no padrão “móveis& utensílios”.
Móveis e utensílios podem ser trocados de lugar a qualquer momento ou definitivamente descartados.
Pois, se por um lado temos artistas da qualidade de Erlon Chaves, esquecidos, por outros, artistas talentosos parecem moldar-se a um padrão limitado de produção. E é isso que se está posto como o “fino da bossa”. Parece ser desolador.
P.S. taí o caso do menino João Pedro, que explorou bem seu potencial vocal. Espero que consiga fazer mais sucesso que aquelas que exploram o falsete…
Eduardo Marcelo Silva Rocha é Capitão da Polícia Militar de Sergipe