A escassez de chuvas nos últimos meses, agravada pelo fenômeno climático El Niño, que se estendeu até o primeiro semestre deste ano, tem causado uma redução significativa no nível do Rio São Francisco. Após registrar cheias históricas entre 2019 e 2022, o “Velho Chico” agora enfrenta uma drástica queda em seu volume de água, revelando extensos bancos de areia ao longo de seu leito.
A falta de chuvas expõem um problema que já prejudica o rio há muitos anos, o assoreamento causado pelo desmatamento das margens e outras intervenções humanas. Em algumas áreas, as dificuldades para a navegação têm prejudicado pescadores e comunidades ribeirinhas, que dependem do rio para subsistência. Além disso, caso não volte a chover de forma significativa na bacia nos próximos meses, a reprodução dos peixes pode ficar comprometida.
Seca severa
No trecho entre as cidades de Malhada e Carinhanha, localizadas na divisa entre Bahia e Minas Gerais, o nível do São Francisco chegou a 90 centímetros, marca que não era observada desde 2018, quando a região enfrentou uma severa seca. Em Bom Jesus da Lapa, o nível é de 2,5 metros, 1,2 metro a menos do que o registrado na mesma época do ano passado. A diferença na medição entre as duas cidades se ocorre pela geografia do Rio.
Essa baixa disponibilidade de água já compromete o abastecimento de várias cidades e projetos de irrigação ao longo do rio e seus afluentes. O Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) declarou situação crítica de escassez hídrica superficial em diversos municípios da Bacia do Rio das Velhas. Projetos como o de Jaíba, no norte do estado de Minas Gerais, têm enfrentado dificuldades devido ao baixo nível do rio e ao assoreamento dos canais de irrigação que levam água às plantações.
A situação preocupa especialmente as comunidades ribeirinhas e agricultores que dependem diretamente do “Velho Chico”. Embora o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) tenha previsto o início das chuvas para esta semana em parte da bacia do São Francisco, os volumes esperados são baixos e restritos ao Centro-Oeste e à Região Central de Minas Gerais, o que não deve trazer alívio imediato.
A continuidade da seca reforça a necessidade de monitoramento constante e medidas urgentes para mitigar os impactos da crise hídrica no São Francisco, um dos rios mais importantes para o abastecimento e agricultura no Brasil.
Texto e foto: Tiago Marques, da Agência Sertão