Ela conhecia cada pedaço do palco. Como a palma das mãos, com a planta dos pés. Muito antes de o espetáculo começar, ela caminhava em círculos por aquele espaço que era como a sua casa. Passava para si mesma não apenas as próprias falas de sua personagem, mas também a de todos os colegas. Nesta terça-feira (6),comemora-se o centenário da grande dama do teatro brasileiro Cacilda Becker.
Ela morreu em 1969, com apenas 48 anos de idade, vítima de um derrame, mas deixou um legado imensurável para a cena cultural brasileira, com aproximadamente 70 espetáculos. A memória dos 100 anos da estrela é um dos principais fatos da semana que começa.Cacilda Becker era natural de Pirassununga (SP) e foi para Rio de Janeiro e São Paulo conquistar o estrelato. Ela foi a primeira atriz profissional do Brasil em uma época em que o elenco recebia apenas as próprias falas.
“Ela lutou a vida inteira pela classe artística”, afirma o neto da artista, Guilherme Becker Fleury, que reuniu móveis e objetos da avó, do marido dela, o ator Walmor Chagas , e da irmã, Cleide Yáconis (1923-2013), para exposição ao público. O último espetáculo de Cacilda – A Espera de Godot, de Samuel Beckett – foi no ano de morte dela. Foi em uma apresentação, inclusive, que ela teve uma dor na cabeça forte e pediu ajuda da plateia. Após o primeiro ato, precisou procurar um hospital, onde faleceu.
Homenagem de Drummond
Quando Cacilda Becker faleceu, o que causou comoção nacional, o poeta Carlos Drummond de Andrade escreveu o seguinte: “A morte emendou a gramática. Morreram Cacilda Becker. Não era uma só. Eram tantas…”. O registro do programa De Lá pra Cá (2011) explicou a trajetória da atriz e as inovações que ela trouxe para o palco. “A Cacilda tinha um tipo franzino e uma presença cênica extraordinária. Ela se transformava no palco”, recordou o diretor teatral Flávio Marinho, que chegou a assistir a dois espetáculos da atriz.
Biógrafo de Cacilda Becker, o historiador Luiz André do Prado explica que, desde a adolescência em Santos (SP), ela já demonstrava talento para a dramaturgia e dança. “Foi lá que ela foi descoberta e levada ao Teatro do Estudante, no Rio de Janeiro”, esclarece o autor de Cacilda Becker: Fúria Santa. Ele explica que depois a atriz foi para São Paulo. No programa, a crítica Barbara Heliodora explica que a atriz era um acontecimento em cena.
Fonte e foto e vídeo: Agência Brasil