Por Antonio Samarone *
“Eu só peço a Deus, que a injustiça não me seja indiferente, que a morte não me encontre um dia, solitário e sem ter feito o que eu queria.” Mercedes Soza.
Raspamo a cabeça há meio século. Passamos no vestibular de medicina da UFS. Não existia a cota oficial, mas fizemos a nossa cotinha. A turma tinha a ala dos pobres e remediados.
Rompemos a barreira da injustiça social e estamos aqui, comemorando 44 anos de formados.
Cada um seguiu o seu caminho. Sobrevivemos a Peste da Covid, vencemos e perdemos, criamos a familia, a maioria está cheia de netos.
Lembramos dos professores, dos bons e dos ruíns, dos colegas que não foram, dos causos, das gafes e dos bons momentos.
Estamos aqui na Praia do Forte, cheios de esperança: ainda teremos outras comemorações. Cada um espera ser o último da fila inexorável.
Gente, o turismo na Bahia está seiscentos anos na frente de Sergipe. A Praia do Forte está um brinco, pronta para receber gregos e troianos. A Praia fica no Município Mata de São João. Sabe quem é o Prefeito? O filho de João Padre, um Itabaianense que venceu na vida.
A minha diabete descontrolou, parei no SUS. O generoso SUS estava de portas abertas pela madruguda. Eu estava lá, na fila, misturado com os que sofrem e ainda encontram consolo.
A emergência do SUS funciona bem, na Praia do Forte.
Só sabe o que é o SUS quem precisa. A classe média paga uma fortuna nos Planos de Saúde, para receber um atendimento meia boca e as vezes desumano.
Claro, o SUS é pequeno para tanta gente, tem fila, mas faz de tudo para acolher. Meninos, eu vi! Um coisa é falar do SUS em tese, teoricamente, outra coisa é ir para a fila.
Percebi que a fila é uma forma pacata de resistência. Não pode ser agora, mas eu espero. Cada sofredor espera receber o atentimento de imediato, mas outros também esperam. Na medicina de mercado também se espera, as vezes mais.
Fui muito bem atendido, eu e todos os que estavam na fila. Palmas para os trabalhadores da saúde, que me acolherem com um sorriso na face. A mim e a todos da fila.
Sobre os colegas de turma, após meio século, os encontrei melhores, mais humanos, mais amigueiros. A velhice ensina a bondade, tira a empáfia, a arrogância, nos traz humildade.
Ninguém estava pior do que na época de estudantes. Melhoramos!
Um velho canalha é um monstro.
Colegas, obrigado pela companhia breve e profunda.
* É médico sanitarista e está secretário de Cultura de Itabaiana.