Sergipe ainda é um estado endêmico para a hanseníase e os casos mais graves são detectados nos laboratórios públicos, confirmando que a prevalência da doença é mais preocupante entre os sergipanos de baixa renda.
É o que constata uma pesquisa de mestrado desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Biologia Parasitária da UFS. A autora da pesquisa, Rosiane Santana Andrade Lima, analisou as características de laudos da hanseníase no estado, no período entre 2007 e 2016, em três laboratórios privados e no laboratório público do Hospital Universitário da UFS.
“Por esse tipo de diagnóstico [anatomopatológico], percebemos que os casos eram muito mais graves nos laboratórios públicos. Já nos privados, menos graves”, atesta a pesquisadora.
“Observamos que as pessoas que têm um poder aquisitivo maior, com condições de ter um plano de saúde, procuram ajuda logo e são diagnosticadas com a forma menos grave da doença. Por outro lado, as que têm um baixo poder aquisitivo dependem do SUS, ou não têm acesso a uma unidade de saúde. Por isso, só recebem atendimento quando já estão com a forma muito mais grave da doença”, explica o professor Diego Moura Tanajura, que é doutor em Patologia Humana pela Fundação Oswaldo Cruz, orientador da dissertação.
De 2008 a 2016, segundo o Ministério da Saúde, foram notificados 301 mil casos de hanseníase em todo Brasil, que se tornou o segundo país do mundo em número de casos da doença. Dados do MS publicados em 2018, mostram que os coeficientes de detecção mais altos por região geográfica ocorreram no Nordeste, Norte e Centro-oeste.
Em Sergipe, a Secretaria de Estado da Saúde revelou que, de 2018 até março de 2019, foram registrados 399 novos casos. Isso confirma que o estado continua endêmico, mesmo se tratando de uma doença que possui tratamento e cura.
O estudo identificou, também, que a região metropolitana da grande Aracaju apresentou a maior concentração dos pacientes, com 76,3% dos laudos do HU e 73,05% nos laboratórios particulares.
“Há um predomínio de casos na região metropolitana em relação ao interior devido a questão dos aglomerados, condições de vida, muita casa próxima da outra, muita gente dentro da mesma casa”, informa o professor Diego Tanajura.
Panorama preocupante
O professor Diego observa que a hanseníase é uma doença negligenciada, de país pobre ou em desenvolvimento, como a Índia e o Brasil, que possuem o maior número de casos da doença no mundo. “Isso acontece porque pessoas de baixa renda geralmente vivem em aglomerados, então é muito mais fácil o parasito ser transmitido entre essas pessoas. Em uma casa, por exemplo, que abriga 5, 6 pessoas, a transmissão é mais alta, justamente por essas pessoas viverem aglomeradas”, explica.
Para Rosiane, as políticas de combate à doença existem, mas não estão sendo tão eficazes como deveriam. “Existem as políticas muito bem colocadas no papel, mas não estão conseguindo chegar nas pessoas eficientemente. No caso de Sergipe, apesar de ser um estado pequeno, há muitas diferenças culturais e pobrezas”, pontua.
“Além de o Brasil ser o segundo maior do mundo [em número de casos], ele teve um decréscimo muito inferior do que teve a Índia, por exemplo. Na verdade, nosso panorama parece estar pior do que o da Índia. Se não for feita uma política pública de saúde eficiente para erradicação da doença, corremos o risco de nos tornarmos o primeiro colocado de prevalência da doença”, adverte a pesquisadora.
(Com informações da Ascom UFS. Foto: Divulgação)