A pandemia do novo coronavírus potencializou a parceria e o diálogo da Prefeitura de Aracaju com a Universidade Federal de Sergipe (UFS), instituição que tem realizado estudos e pesquisas, em várias frentes, e contribuído para a tomada de decisão da gestão municipal, pautada em dados científicos.
Para o prefeito Edvaldo Nogueira, isso tem feito toda a diferença nas ações empreendidas pelo município. “Desde o primeiro momento, temos tomado medidas a partir do embasamento científico. Neste sentido, a parceria com a Universidade Federal de Sergipe tem sido muito útil para nos dar as condições necessárias para chegarmos a decisões seguras”, reconhece.
O prefeito ressalta que, diante de uma pandemia como esta, a ciência se torna primordial no planejamento e nas ações de enfrentamento ao vírus. “Desse modo, é motivo de grande satisfação poder contar com os estudos e pesquisas desenvolvidas pelos professores, mestres e doutores da UFS”, ressalta Edvaldo Nogueira.
Secretária municipal da Saúde, a médica Waneska Barboza acredita que o estreitamento desse diálogo com a Universidade e, consequentemente, com especialistas como epidemiologistas e em Saúde Pública, tem resultado em decisões mais fundamentadas e assertivas por parte da gestão.
“A gente tem tido um suporte importante de professores da Universidade, que fazem algumas previsões e estudos que nos ajudam a definir as estratégias, como o estudo do professor Paulo Martins a respeito da relação entre a queda das taxas de isolamento social com aumento dos índices de contágio”, argumenta Waneska.
O epidemiologista Paulo Ricardo Martins Filho, doutor em Ciências da Saúde e chefe do Laboratório de Patologia Investigativa da UFS, é um dos docentes que têm dado suporte a essa parceria administrativo-acadêmica. O laboratório que ele conduz é interdisciplinar e trabalha com aspectos epidemiológicos de doenças de interesse regional e com a síntese das melhores evidências científicas para a tomada de decisão em saúde.
“A UFS tem tido papel fundamental nesse processo, abrindo um canal de comunicação importante entre a Universidade e os órgãos competentes, como o Governo do Estado e a Prefeitura de Aracaju, na tentativa de ajudar a fazer um planejamento estratégico em relação à epidemia, assim como à produção de insumos, equipamentos de proteção individual e o tratamento de pacientes, além da tecnologia da informação com relação aos dados”, explica Paulo Ricardo.
Estudos
O grupo de trabalho coordenado pelo professor tem atuado em duas frentes: a primeira, com estudos mais voltados para evidencia científica em relação à covid-19 para o pessoal da linha de frente, como estudos sobre os índices de mortalidade, a presença do novo coronavírus em fezes de crianças, os trabalhos junto à Organização Pan-americana de Saúde Pública, etc.
A outra vertente engloba a elaboração de notas técnicas que vêm sendo publicadas desde maio. Uma delas previu o colapso do sistema de saúde para meados do mês e sugeriu planejamento em relação aos leitos. “Nossa previsão foi ouvida pelos gestores, que obviamente já tinham esse planejamento, mas que precisou ser antecipado diante da confirmação da necessidade de número de leitos. Isso foi importante e mostrou como o laboratório tem uma comunicação efetiva com a gestão pública”, analisa o epidemiologista.
A segunda nota foi motivo de reunião com o próprio prefeito e teve como tema o isolamento social. “Na metade de maio, publicamos um estudo mostrando como a queda progressiva dos índices de isolamento, a partir de abril, contribuiu para o aumento também progressivo de casos”, ressalta. Esse trabalho, de acordo com Paulo, foi bastante discutido pela gestão de Aracaju com a finalidade de definir medidas a serem implementadas.
“Obviamente, a decisão é deles, é da gestão, mas a discussão foi em caráter científico para que as melhores decisões fossem tomadas”, reforça. Agora, outros estudos sobre esses temas estão em curso. “Estamos refazendo o estudo de isolamento por bairro, para vislumbrar medidas setorializadas, de acordo com a necessidade de cada local”, justifica.
Para isso, a equipe está em contato direto com a Prefeitura. “Principalmente com a parte administrativa e a que lida com o banco de dados. Estamos trabalhando em harmonia e essa harmonia tem dado bons frutos. Embora a pandemia seja difícil de ser controlada, todos os esforços acadêmicos e de gestão pública estão sendo feitos em conjunto e da melhor forma”, assegura Paulo.
Futuro
O professor Paulo Ricardo acredita que “nunca foi tão importante, na história mais recente do país, ter a ciência como base para a tomada de decisão”. “Costumo falar para os alunos que agora é o momento de muita ciência e muita prudência, no sentido de tomar decisões baseados em estudos da academia. Não adianta só politizar e não entender que a ciência tem papel fundamental”, reitera.
Diante disso, ele espera que esse entendimento, que essa harmonia, sejam mantidos daqui pra frente. “Espero que seja um divisor de águas para que esse entendimento mútuo continue, porque com a ampliação do diálogo entre a academia e as gestões de forma permanente, todo mundo tem a ganhar”, opina.
Ele revela que já está trabalhando em um novo projeto, com algumas ampliações de ação. “O EpiSergipe é uma parceria com o Governo do Estado que envolve 15 municípios, incluindo Aracaju, e visa, de maneira geral, acompanhar o grau de contaminação e os impactos do vírus no Estado”, define Paulo Ricardo.
Para isso, o projeto foi subdividido em três subprojetos: um de monitorização dos infectados; um dos impactos socioeconômicos e outro voltado à avaliação de populações vulneráveis. O estudo reúne diversos professores e será mais um indicador importante nesse momento, segundo Waneska. “Com esses projetos, a Universidade nos ajuda a discutir ações específicas de forma embasada, fundamentada, baseados em evidências concretas e em estudos de especialistas. Não é nada aleatório”, reitera a secretária.
Fonte e foto: Secom/PMA