O PSOL está orientando seus filiados e simpatizantes a não votarem na candidata a prefeita de Aracaju, Danielle Garcia (Cidadania). O partido sugere “o voto crítico em Edvaldo, o voto nulo ou branco”. A decisão da legenda foi anunciada, nesta sexta-feira (20), durante entrevista coletiva. O partido informou que seguirá sendo oposição de esquerda tanto nas ruas, quanto na Câmara de Aracaju, através da atuação da vereadora eleita Linda Brasil (PSOL).
“É necessário escolher o terreno para as próximas batalhas de nossa cidade. Para seguirmos firmes na luta contra o avanço da extrema direita, para derrotar Bolsonaro nas ruas e para acumularmos melhores posições na disputa política que segue nas ruas, orientamos nenhum voto na delegada Danielle Garcia”, afirmou o candidato a prefeito Alexis Pedrão.
O partido aproveitou a coletiva para denunciar os ataques sofridos por Linda Brasil nas redes sociais, logo após a divulgação do resultado. Ela foi a vereadora mais votada da cidade, com 5.773 votos, e é a primeira mulher trans eleita para o Legislativo de Aracaju. A professora Sônia Meire também teve uma votação expressiva, logrando 3.343 votos, mas ficou na primeira suplência em virtude da legenda.
Participaram da coletiva Alexis Pedrão, a candidata a co-prefeita, Carol Quintiliano, Linda Brasil e a primeira suplente professora Sônia Meire.
Leia abaixo a nota completa na íntegra
“Em meio à pandemia da Covid 19, desemprego e muita dificuldade para o nosso povo, o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) arrancou vitórias eleitorais e políticas importantes nas eleições municipais de Aracaju e em todo Brasil, com muito esforço e muita militância de base. Em primeiro lugar, nosso muito obrigado ao povo de Aracaju.
Alexis Pedrão e Carol Quintiliano qualificaram o debate público sobre as prioridades de uma “Aracaju da Maioria”, demarcando corretamente com os governos Bolsonaro, Belivaldo e Edvaldo. Uma campanha militante, coletiva e propositiva. O PSOL amplia sua força política para discutir os rumos de Aracaju e da política sergipana. Saudamos os movimentos sociais que somaram nesse processo, em especial ao Coletivo Afronte e a Frente Favela Brasil (FFB).
A votação fenomenal da companheira Linda Brasil foi o grande fato político deste pleito, com repercussão nacional e internacional. A primeira vereadora trans da história de Aracaju obteve 5.773 votos, sendo a mais votada da cidade. Um “sopro de esperança” – como a própria companheira declarou à imprensa – contra o autoritarismo, o conservadorismo e a extrema direita. Também foi expressiva a votação da professora Sônia Meire, oitava candidatura mais votada da cidade com 3.343 votos, que por limites da legenda ficou na primeira suplência.
O PSOL demonstrou diversidade e riqueza em sua chapa proporcional, com candidaturas coletivas, candidaturas negras, de mulheres, LGBTQIA+´s, pessoas com deficiência (PCD), sindicalistas e jovens. Que o salto político agora se reflita em maior organização popular.
Em nossa opinião, nenhum dos dois projetos contempla os interesses da classe trabalhadora e do povo oprimido no segundo turno. São campanhas milionárias, que defendem uma política de privatização e alinhadas à velha política do “toma lá, dá cá”, da troca de favores, do fisiologismo. São muitas as semelhanças entre os dois projetos. Independente de quem vença, seremos oposição de esquerda nas ruas e na Câmara de Vereadores e Vereadoras!
Acabamos de passar por quatro anos de gestão Edvaldo, nunca tivemos ilusões. Contudo, não faremos coro com o discurso autoritário representado diretamente no projeto de Danielle.
Farinha do mesmo saco?
Edvaldo Nogueira fortaleceu composições mais à direita e a agenda privatista como a PPP da Iluminação, a privatização do Nestor Piva, o não cumprimento do Piso Salarial do Magistério, não organizou a Licitação do Transporte Público e atrasou ainda mais o debate do Plano Diretor. A lógica militarizada e autoritária da Guarda Municipal segue a todo vapor, em perseguição à juventude negra da periferia e criminalização dos movimentos sociais.
Além de não se posicionar sobre as atrocidades do Governo Bolsonaro, afirmou em sua campanha que fazia uma “gestão sem ideologia” a fim de esvaziar o debate político e jogar uma cortina de fumaça sobre seus verdadeiros interesses. Edvaldo aglutinou antigas lideranças do ex-governador João Alves, como os vereadores Nitinho e Vinícius Porto, compõe com a base de apoio aos deputados do “centrão” que sustentam o governo Bolsonaro no Congresso: Gustinho Ribeiro (Solidariedade) é vice-líder do governo Bolsonaro no Congresso, Fábio Reis (MDB), Laércio Oliveira (PP), principal articulador das Reforma Trabalhista e autor da PEC das Terceirizações, Fábio Mitidieri (PSD) que votou favorável à Reforma da Previdência. Importante também ressaltar o apoio político do ex-deputado federal André Moura, ex-chefe da Casa Civil do governador deposto do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, líder do governo golpista de Michel Temer (MDB) no Congresso Nacional.
De outro lado temos a delegada Danielle Garcia (Cidadania), representante inconteste do “lavajatismo” no território sergipano, um dos setores estratégicos no golpe parlamentar contra Dilma Roussef em 2016, na prisão política do ex-presidente Lula e na eleição de Jair Bolsonaro em 2018. O bloco liderado pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania), conta com representantes enfraquecidos das velhas oligarquias sergipanas: o ex-senador Eduardo Amorim (PSDB) o ex-deputado federal Valadares Filho (PSB) – o vice da chapa – o empresário ultraliberal Milton Andrade (Novo) e o delegado Paulo Márcio (PSDC), derrotado no primeiro turno.
Danielle trabalhou no governo Bolsonaro junto ao ministro Moro até o início do ano. Apesar de não ser uma candidatura abertamente neofascista como a de Rodrigo Valadares (PTB), Danielle guarda forte identidade com setores da extrema direita e deverá se alinhar ao governo federal na primeira oportunidade. Seu programa de austeridade e “combate à corrupção” se conecta diretamente ao discurso histórico da direita brasileira: a policialização da política, retórica autoritária e forte componente moralista.
Se Edvaldo se movimenta para construir uma relação pragmática com o bolsonarismo, Danielle Garcia foi forjada por parte dele e seu realinhamento pode trazer consequências catastróficas para a nossa cidade. Portanto, afirmamos que os projetos e blocos representados por Danielle e Edvaldo não são iguais, apesar de guardarem muitas semelhanças.
No segundo turno, nenhum voto na Delegada Danielle!
É necessário escolher o terreno para as próximas batalhas de nossa cidade. Para seguirmos firmes na luta contra o avanço da extrema direita, para derrotar Bolsonaro nas ruas e para acumularmos melhores posições na disputa política que segue nas ruas, orientamos nossa militância, simpatizantes, amigos e amigas do PSOL Aracaju para NENHUM VOTO NA DELEGADA DANIELLE GARCIA, seja para o voto crítico em Edvaldo, seja para o voto nulo ou branco. Esta posição independe de qualquer contrapartida de Edvaldo, não aceitaremos cargos ou faremos qualquer exigência, já que seu programa de governo não está em disputa.
Ratificamos nossa posição em seguir na oposição de esquerda ao governo municipal em 2021 seja ele qual for, nas ruas e na Câmara Municipal de Aracaju. Não nos confundiremos com as negociatas da velha política, tampouco nos misturaremos com a oposição de direita daquela casa parlamentar que protagonizou episódios lamentáveis nos últimos anos, que sempre votou contra a agenda do povo organizado. Não admitiremos qualquer ataque à nossa vereadora Linda Brasil, que foi alvo de discursos de ódio nas redes sociais logo após o resultado das eleições. Quem mexer com Linda, mexerá com todos e todas nós. Nosso compromisso é com os movimentos sociais, mulheres, LGBTQIA+, trabalhadores e trabalhadoras organizadas por uma Aracaju da Maioria.
Aracaju, 19 de novembro de 2020
Diretório Municipal do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL)
Fonte e foto: Ascom/PSOL