Por Marcos Cardoso *
Prioridade é uma condição que depende muito das circunstâncias. Suponhamos que você seja um jornalista num ano eleitoral e esteja correndo atrás da notícia sobre determinada candidatura. Sua prioridade é encontrar o tal suposto candidato para entrevistá-lo. Mas se você está no final da manhã e justo naquele dia combinou um almoço para comemorar aniversário de relacionamento com a pessoa que você ama, a prioridade naquele momento é o almoço.
Suponhamos que enquanto se planejava para conciliar as obrigações você receba um telefonema do gabinete do governador informando que naquele momento ele estará disponível para a entrevista que tinha prometido uma semana atrás. Sua prioridade agora será a entrevista com o governador.
Mas se, no caminho, pensando na pauta do dia, no almoço e na entrevista com o governador, você bata o carro e seja o culpado pelo acidente, a prioridade será chamar o seguro e fazer um acordo com o outro motorista envolvido. E se você se machucou, aí então a prioridade passará a ser correr para um hospital e consertar o machucado que sofreu.
Tudo é questão de prioridade.
Agora suponha que você é o prefeito de uma capital na quarta gestão, já governou a cidade por 12 anos, lidera as pesquisas para governador do estado, aguarda ter seu nome confirmado pelo grupo para poder realizar seu sonho, mas desiste da candidatura porque ainda tem mais dois anos e meio como prefeito e não quer renunciar ao cargo municipal. Mesmo sabendo que essa é uma oportunidade única. Qual a prioridade?
Pois o prefeito Edvaldo Nogueira (PDT) optou por não priorizar o sonho de ser governador. Ele tinha a preferência como candidato a governar Sergipe na eleição deste ano, mas decidiu priorizar a cadeira onde está sentado já há tanto tempo e lá deverá ficar até o final de 2024. Abre mão de arriscar-se numa candidatura para garantir o que já é seu por direito. O problema é que os políticos só crescem quando se ariscam e o próprio Edvaldo é um exemplo vivo e acabado dessa certeza.
Foi Edvaldo quem largou um carreira certa no mundo restrito da Medicina para se dedicar exclusivamente à política. Ele abandonou a universidade no sexto ano do curso para priorizar o partido político de quase toda sua vida, o PCdoB. E sua coragem rendeu frutos muito doces para ele e seu partido, onde se tornou a principal liderança no estado e um dos principais políticos locais da geração dos anos 80.
Mas Edvaldo se apegou demais ao cargo de prefeito e esqueceu de fazer política. Dizem que ele não deu prestígio aos aliados, que não saiu do gabinete para conversar com o povo do interior, que deu confiança demais a quem não merece.
Talvez tenha confiado demais no governador Belivaldo Chagas (PSD), que puxou para si a responsabilidade de comandar o processo sucessório do agrupamento governista, mas nunca demonstrou genuína simpatia pela justificada liderança de Edvaldo Nogueira, a ponto de menosprezar o que apontavam as pesquisas eleitorais.
Ora, como é notório, é mais forte numa disputa pré-eleitoral quem aparece liderando as pesquisas. Se não fosse assim Lula já estaria esquecido e Bolsonaro seria um peso morto nestas eleições. Mas pouco pesou na conta do grupo liderado por Belivaldo que o prefeito da principal cidade de Sergipe aparecesse sempre liderando as pesquisas.
Então o que pesa na conta desse grupo no qual são aliados qualificados os deputados federais Laércio Oliveira (Progressistas) e Fábio Reis (MDB), o ex-governador Jackson Barreto (MDB), o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Luciano Bispo (MDB), os ex-deputados federais André Moura (União Brasil) e Pastor Heleno (Republicanos) e o conselheiro do Tribunal de Contas Ulices Andrade? Será que é o belo sobrenome daquele que todos já previam ser o escolhido, o deputado federal Fábio Mitidieri (PSD)?
A verdade é que faltou a Edvaldo coragem para impor sua candidatura. Não é por acaso que está à frente nas pesquisas eleitorais, pois tem um nome consolidado e realizações a apresentar. Prefeito de Aracaju há 12 anos (31 de março de 2006 a 31 de dezembro de 2012 – 1º de janeiro de 2017 até a presente data), é lícito dizer que é líder político inconteste da mais importante cidade do estado, onde repete uma gestão expressiva e reconhecida pelos resultados.
Com esses argumentos, poderia ter batido na mesa no ano passado e afirmado que seria candidato a governador sim, quem quiser que o seguisse. Mas não, ficou esperando. Agora que perdeu o bonde está esperneando.
Quem corretamente perdeu a paciência foi o senador Rogério Carvalho (PT), que se desgrudou daquele grupo e lançou sua candidatura a governador, navegando livre, leve e solto, mirando no apoio imprescindível do candidato a presidente Lula, que poderá catapultá-la.
É certo que, por ser senador, Rogério pode se dar ao luxo de perder a eleição e retornar ao Senado. Já Edvaldo teme largar a Prefeitura de Aracaju e entregá-la a Belivaldo Chagas, já que a vice-prefeita Katarina Feitoza (PSD) é uma indicação do governador. Mas ele jamais encontrará uma situação tão favorável quanto a atual.
Em 2006, Marcelo Déda se desincompatibilizou da Prefeitura de Aracaju para realizar o sonho do governo do Estado sabendo que entregaria os destinos da cidade nas mãos do próprio Edvaldo Nogueira, um aliado leal. Mas Déda (PT) ousou disputar o governo enfrentando João Alves Filho (DEM), que era o governador e candidato à reeleição. Ousou e venceu. Por isso ele era Marcelo Déda.
Agora as condições seriam mais favoráveis, já que nenhum candidato terá que enfrentar um governador defendendo o próprio cargo. Questão de prioridade.
* É jornalista e escritor. Foi diretor de Redação do Jornal da Cidade, secretário de Comunicação da Prefeitura de Aracaju, diretor de Comunicação do Tribunal de Contas de Sergipe e é servidor de carreira da UFS. É autor dos livros “Sempre aos Domingos – Antologia de textos jornalísticos” e do romance “O Anofelino Solerte”.