Por Agnaldo dos Santos *
Perdemos um ícone do Rock brasileiro; antes de adentrarmos um pouco na sua história, gostaria de mencionar a psicanálise e a arte no contexto do artista; o artista é uma pessoa idealista, que está há anos luz a nossa frente, que pensa, que vive, internaliza e externaliza tudo, de maneira muito intensa, diferentemente de todos nós; a arte pode ser uma expressão de conteúdos inconsciente adormecidos, recalcados, pode ser uma expressão de insights privilegiados da consciência, e, também, surgir, através do artista como um alerta, uma crítica, e sugestões para situações que podem melhorar o sistema; a sua expressão pode vir, através da escrita, da pintura, da escultura, da fotografia, do teatro, e, da música; a voz do artista é a voz do povo, e, a voz do povo, é a voz de Deus; nesse contexto, cito a obra do fotógrafo Sebastião Salgado, que, nas suas fotos expostas para o mundo, trouxe a tona, a miserabilidade humana, a questão do trabalho insalubre, a resiliência do ser humano em situações sub humanas e estressante, a fome e outras; ainda, nesse contexto cito a música de Beto Lee, filho de Rita Lee, e, cantada por ela mesma, “O gosto do Azedo” e a música de Chico Buarque, “Flôr da Idade”, que, muito poderiam ser aproveitadas pela mídia como prevenção do vírus HIV no homem; claro, que, estou citando aqui, poucos exemplos.
Quanto a Rita Lee, sabemos o quanto não é fácil falar sobre essa pessoa, ímpar, que rompeu tabus sexuais, preconceitos diversos, que repercutiram na emancipação e o impoderamento feminino; atualmente, quase não se constata clinicamente, casos de histeria, que, na antiguidade era motivada pela descriminação e repressão feminina; mulheres escritoras, muitas vezes, tiveram que usar pseudônimos, para não ser descoberta o seu gênero, e, não “incomodar” a casta literária patriarcal; Freud e Lacan, se convivesse contemporâneamente com ela, ficariam perplexos, boquiabertos, e, inevitavelmente, teriam que refazer seus conceitos psicanalitico sobre a mulher. Com um inconsciente quase a céu aberto (como, o inconsciente da criança), ela, nas suas músicas, de modo muito peculiar fala da vida, da finitude da vida, da loucura, amor, sexo, sexualidade feminina, da emancipação na adolescência, e, em geral, fala da natureza, do amor aos animais, da natureza dos povos originarios, de estrangeiros, extraterrestres, faz críticas construtivas ao sistema, e, dá, também, uma “pitada” de loucura (“sadia”), desestresante, para que não adoeçamos, na impossibilidade de vê as coisas melhorar; como já dizia Caetano Velozo: “De longe, todos somos normais”.
Acho que, Rita Lee, priorizou o pequeno “Outro” ( considerado, a mãe, na psicanálise), em detrimento do grande “Outro” (a sociedade, a cultura), porque, ela, pouco estava “se lixando” para o que estavam pensando sobre ela.
Esteban Levin, PHD em fisioterapia e psicanálise, no seu livro, A Função do Filho (espelhos e labirintos da infância), fala sobre a “criança adormecida e recalcada” que encontra-se no nosso inconsciente, quando adultos; claro que, numa infância em que se brinca muito, esse adulto, tem muito a transmitir para os filhos, ainda criança, e, aos netos, toda essa vivência passada, alegre e feliz; isso revigora, vivifica, as almas do infante e do adulto; o brilho interno do adulto se entrelaça com o brilho externo da criança, e, aí, a alquimia acontece; Rita Lee provavelmente deve ter tido uma infância feliz; deve ter brincado muito; vê-se, pela sua energia contagiante nos palcos, mantendo-se sempre alegre e feliz, como, se estivesse a deixar emergir esses conteúdos do inconsciente, ainda da infância.
A música é entretenimento, é lazer, é terapia para o corpo e alma, euritmia; nos transporta ao passado e atualiza momentos inesquecíveis… também, gera renda para o Estado, através de shows, turismo pontual, e, empregos indiretos.
A propósito, o nosso Estado teve a honra de recebê-la por duas vezes; a primeira vez , há alguns anos, estava me preparando para uma prova, e, escutei Rita Lee, a distância, pela reverberação do som que se propagava, na época, do espaço de eventos, Constâncio Vieira; pela segunda vez, juntamente com a família, tivemos a oportunidade de assistila no município de Barra dos Coqueiros, considerado o seu último show, infelizmente, com alguns incidentes, em que a mesma, conseguiu, como na gíria, “tirar de letra”.
Assim, como os Beatles se eternizaram no mundo com os seus talentos musicais que chegaram a envolver três gerações, como, pais, filhos e, até os netos (a minha neta já foi embalada e ninada com música instrumental dos Beatles para crianças dormir), a nossa querida Rita Lee, também, será eternizada no Brasil, pela sua musicalidade inédita, que ficará “blindada” e atualíssima no tempo, a qual, reverberar sempre, nos corações desta, e, das futuras gerações”.
” E, Viva Rita Lee”!!!
* É médico homeopata.