O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou a LEI Nº 14.712 que inscreve o nome da intelectual sergipana de Maria Beatriz Nascimento no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, depositado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em Brasília. O Projeto de Lei concedendo a honraria à esta filha de Aracaju é de autoria do senador gaúcho Paulo Paim (PT). Ressalte-se que o legado de Beatriz Nascimento continua repercutindo na luta da comunidade negra no país.
Nascida em Aracaju, Sergipe, em 1942, Beatriz era filha do pedreiro Francisco Xavier do Nascimento com a dona de casa Rubina Pereira. Em 1949, se mudou para o Rio de Janeiro com a família, onde se formou em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 1971 e se tornou professora, pesquisadora e ativista pela comunidade negra. A intelectual também fez mestrado em Comunicação Social pela UFRJ.
Beatriz realizou estágio no Arquivo Nacional, sob orientação do historiador José Honório Rodrigues e, após formada, lecionou na rede estadual do Rio de Janeiro. Em 1974, ajudou a criar o Grupo de Trabalho André Rebouças na Universidade Federal Fluminense (UFF). A pesquisadora se incomodava com a forma como a história de pessoas negras era contada no ambiente universitário, como se tivessem participado apenas como mão-de-obra compulsória. Em 1975, fundou o Instituto de Pesquisa das Culturas Negras, também na UFF.
Conceito dos quilombos
A intelectual fazia pesquisas, especificamente, sobre a formação e o conceito dos quilombos e o poder de resistência desses territórios, sob um viés científico para além do ativismo. Ela defendia o reconhecimento e a titulação das terras quilombolas, o que viria a acontecer em 1995, ano de sua morte.
Em 1977, participou da Quinzena do Negro, na Universidade de São Paulo (USP), apresentando um trabalho sobre esses locais. Também marcou presença em diversas outras conferências e esteve duas vezes na África para conhecer a história do continente. Em Angola, se debruçou sobre o estudo dos antigos quilombos angolanos.
Um de seus principais trabalhos reconhecidos é o documentário Orí, que significa “cabeça” em yorubá. Lançado em 1989, o longa conta a história dos movimentos negros que emergiram no Brasil entre 1977 e 1988, tendo os quilombos como fio condutor. Foi dirigido por Raquel Gerber a partir dos textos e da narração de Beatriz.
Ela foi assassinada em 1995 ao defender uma amiga que sofria violência doméstica. O companheiro, Antônio Jorge Amorim Viana, deu cinco tiros em Beatriz. Ele já tinha passagem pela polícia por acusações de homicídio, tentativa de estupro e uso de drogas, pelas quais já cumpria pena de 11 anos e seis meses. Ele foi preso e condenado a 17 anos de prisão pela morte de Maria Beatriz.