Por Antônio Samarone *
Historicamente, Sergipe foi feudo político de meia dúzia de famílias. O Poder sempre esteve a serviço dos senhores de baraço e cutelo, os donos da capitania hereditária. Os senhores do cabau, do gado e da construção civil compõem a elite dirigente, diretamente, ou através de prepostos.
Com as chegadas de Jackson Barreto a Prefeitura de Aracaju, em 1986, e de Marcelo Déda em 2001, essa regra foi ameaçada. A primavera política rondou Sergipe tardiamente, mas não aconteceu. O sol não nasceu!
O grupo político formado em torno dessas “mudanças”, usou da astúcia lampedusiana (Tomasi di Lampedusa): “É preciso que tudo mude, para tudo continuar como estar”. Apropriaram-se do Estado e estão até hoje.
Sergipe perdeu o eixo do desenvolvimento econômico, empobreceu, por decisões políticas erradas. O documento da Fundação Dom Cabral, aponta esses erros. O documento é oficial, de responsabilidade da ALESE.
Segundo o documento, Sergipe tem 1% da população brasileira e o nosso PIB representa apenas 0,62% do PIB nacional. Entenderam? Somos 38% mais pobres que a média nacional. Esse dado é o atestado do fracasso.
Não deu certo!
Entretanto, esse grupo político que comandou a derrocada é muito forte.
A máquina pública sempre pesou nas disputas políticas em Sergipe. Quem estava no governo já entrava com 15% do eleitorado. Hoje essa máquina é absoluta: fora dela, não existe espaço político.
A máquina pública é uma grande sinecura, regiamente loteada.
A oposição em Sergipe é virtual e bem-comportada. O Senador Alessandro cuida dele, não lidera ninguém e não quer. Faz a sua política!
O bloco no Poder é soberano, quase imperial.
A força da máquina concentra-se em seu comandante, o Governador. Belivaldo Chagas pode bater no peito e repetir Luís XIV: “l’état c’est moi.”
Quem desejar disputar qualquer cargo nas eleições de 2022, precisa pedir a autorização do Governador. O Senador do PT, Rogério Carvalho, quebrou a regra, foi o maior bate boca.
Coragem Rogério, a oposição em Sergipe precisa de líderes, com projetos para o Estado.
Jackson Barreto quer ser candidato ao Senado. mas já foi alertado pelo Governador. “se for, vai sozinho”. JB ficou pensativo.
O Prefeito do Aracaju é um nome forte para o governo, sem dúvidas, mas não bota o pé na estrada, sem a ordem de Belivaldo. Ninguém bota!
Nenhum político em Sergipe concentrou tanto poder, como o Governador Belivaldo. Nem o doutor Leandro Maciel, em seu tempo. Não me perguntem os motivos. Eu não sei.
Essas disputas de bastidores são repercutidas pelos porta-vozes da Corte e se transforma em realidade virtual.
O povo luta para sobreviver, sem tempo nem vontade para acompanhar a peleja.
Sergipe é do Rei.
* É médico sanitarista