O Brasil vai inaugurar a safra dos primeiros projetos com tratamento de gás natural integral no offshore, dispensando assim, pela primeira vez, a demanda atrelada por investimentos em UPGNs em terra. Em iniciativas inéditas, Petrobras e Equinor irão tratar, nos próprios FPSOs, todo o gás produzido nos projetos de Sergipe Águas Profundas e de Pão de Açúcar, enviando para a costa o gás já especificado.
Baseado em um conceito inovador no Brasil, os dois projetos permitirão que a Petrobras, em Sergipe, e a Equinor, em Pão de Açúcar, consigam produzir, processar e especificar o gás nas unidades de produção direto para a venda. Sob esse formato, as duas petroleiras reduzirão o capex de seus projetos e grande parte da complexidade da fase de execução/implantação, além de assegurarem simplificação da logística na fase de operação
Vistos como marcos, os novos sistemas assegurarão volumes expressivos de gás ao mercado e, de quebra, ainda marcarão a implantação de dois novos polos de produção no offshore, um em águas ultraprofundas da Bacia de Campos, a 2,9 m de lâmina d´água e a cerca de 200 km da costa, e outro em águas profundas de Sergipe.
Mais de 20 milhões de m3/dia de gás
Juntos, os dois projetos terão capacidade de disponibilizar ao mercado um volume total de até 34 milhões de m3/dia de gás tratado. Desse total, até 18 milhões m3/dia de gás poderão ser disponibilizados pelo projeto de Sergipe Águas Profundas, quando os dois módulos de produção do sistema estiverem em operação, cabendo os outros 16 milhões de m3/dia de gás ao sistema de Pão de Açúcar.
Para colocar o gás na malha já especificado, Petrobras e Equinor terão que garantir um gás sem as frações mais pesadas, o mais seco possível, já sem contaminantes. As duas companhias enviarão para a costa apenas C1 e C2, já especificado para consumo de indústrias e residências, enquanto C3 e C3+ serão reinjetados e utilizados na geração de energia para os FPSOs.
Refrigeração mecânica
No caso do projeto de Sergipe Águas Profundas, a decisão por fazer o tratamento do gás no FPSO trouxe melhor resultado econômico ao projeto. Além da questão econômica, o modelo permite também assegurar maior velocidade de implantação do sistema. No projeto de Sergipe, a Petrobras adotará a metodologia de refrigeração mecânica. O mecanismo utilizará um fluido refrigerante para resfriar o gás e assim tirar as frações mais pesadas.
O sistema prevê a injeção de monoetilenoglicol tanto na cabeça dos poços, que produzem gás, quanto no equipamento de topside dos FPSOs, o wapo, responsável por controlar a umidade do gás. A pressão de operação do sistema de separação em Sergipe será de 13 BAR. As frações mais leves serão exportadas para uma estação de recebimento, que será instalada em Sergipe, funcionando como um ponto de distribuição.
Voltado a atender as áreas de Cavala, Palombeta, Agulhinha e Agulhinha Oeste, Budião, Budião NW e Budião SE, o projeto de Sergipe terá dois módulos, cada um com um FPSO capacitado para produzir 120 mil barris/dia de óleo e processar 10 milhões de m3/dia de gás. No módulo 1, a Petrobras prevê exportar 8 milhões de m3/dia de gás, ante os 10 milhões de exportação programados para o módulo 2.
Gás exportado para a costa
Todo o gás produzido no projeto de Sergipe será exportado para a costa através de um gasoduto de 120 km e 16” de diâmetro. O bid para construção da rede só deverá ser lançado entre o final de 2023 e o início de 2024.
A linha terá capacidade para escoar até 18 milhões de m3 de gás, o que irá assegurar ao Nordeste um volume próximo das grandes rotas do pré-sal, como o Rota 3, cuja capacidade totaliza 21 milhões de m3, e muito expressivo até mesmo em relação ao consumo total do Brasil que gira em torno de 100 milhões de m3/dia.
Entre os desafios do projeto de Sergipe, a Petrobras destaca o volume expressivo de exportação de gás para ser produzido em uma área de nova fronteira, sem a logística e a infraestrutura disponíveis das bacias de Santos e de Campos. Em Búzios (RJ), por exemplo, já existe toda uma infraestrutura funcionando, mas Sergipe é uma nova fronteira. Outros desafios do projeto estão relacionados à lâmina d´água de 2,5 mil metros e à classe de pressão dos equipamentos submarinos, mais alta que a dos sistemas do pré-sal.
Fonte: site Brasil Energia (Foto:GS)