Por Gilvan Manuel *
A tragédia provocada pela pandemia da covid-19 em Sergipe apresenta números cada vez mais catastróficos. De outubro de 2020, quando o estado atingiu a marca de 2 mil mortes, a março de 2021 – 3 mil mortos – se passaram cinco meses. No dia 20 de abril, 45 dias depois, Sergipe alcançou a marca de 4 mil mortos pela covid. Na quinta-feira (27) foi ultrapassada a marca de 5 mil óbitos. Foram mais de mil mortes num intervalo ainda menor – 37 dias.
Sergipe exibe uma elevada taxa de mortes por milhão e o número de casos e óbitos em Sergipe superam em muito os registrados em Alagoas, estado com 1 milhão de habitantes a mais. Na quinta-feira, Sergipe registrava 232.255 casos e 5.032 mortos por covid-19, contra 191.354 casos e 4.697 óbitos no estado vizinho. A diferença entre Sergipe e Alagoas é que o governador Renan Filho adota rigoroso lockdown sempre que os casos avançam em seu estado, enquanto o governador de Sergipe teme contrariar aliados do setor empresarial e estabelece lockdown de fim de semana, um engodo, segundo especialistas, a exemplo do neurocientista e pesquisador brasileiro Miguel Nicolelis,
Apesar da marca dos 5 mil óbitos, o governador Belivaldo Chagas não se movimentou e manteve o calendário do Comitê Técnico-Científico e de Atividades Especiais (Ctcae), que tem reunião programada para três de junho, dia do feriado de Corpus Christi. Alagoas, no entanto, voltou a endurecer para continuar tentando controlar a pandemia, conforme decreto em vigor deste a sexta-feira (28):
“Todo o Estado de Alagoas permanece na Fase Vermelha e observará as seguintes regras a partir das 0h de 28/05/2021 até 23h59 do dia 10/06/2021:
Nenhum cidadão poderá circular após às 21h e até às 5h, salvo se em destino a uma atividade fundamental a sua família; Vedado o acesso às praias, rios e lagoas, aos sábados, domingos e feriados, assim como marinas e clubes náuticos; Lojas com autorização para funcionamento em horários flexibilizados:
(a) Centro de todas as cidades: das 9h às 17h, de terças às sextas-feiras (vedado o funcionamento às segundas-feiras, sábados, domingos e feriados); (b) Shoppings: das 11h às 20h, segundas-feiras e de quartas às sextas-feiras (vedado o funcionamento às terças-feiras, sábados e domingos); (c) Lojas de Rua e Galerias: das 10h às 18h, de terças às sextas-feiras (fechadas às segundas-feiras, sábados, domingos e feriados); (d) Bares, restaurantes e estabelecimentos congêneres, das 5h às 20h, de segundas às sextas-feiras, podendo funcionar após esses horários de término e em outros dias da semana, por serviços de entrega?e na modalidade “Pegue e Leve”; (e) Museus, cinemas e parques temáticos voltam a ter seu funcionamento interrompido”.
Ao contrário de Alagoas, na reunião do comitê de 20 de maio, o Ctcae fez foi abrandar as restrições no estado. Manteve o toque de recolher, de quinta-feira a sábado, das 5h às 21h, mas permitiu o funcionamento de bares e restaurantes de segunda a sábado. Também liberou, aos sábados, a circulação de pessoas e a realização de atividades econômicas nas praias, orlas fluviais, bem como a prática de atividades esportivas; os shoppings funcionam de terça a sábado, respeitando o limite estabelecido de 50% de ocupação.
No boletim divulgado na quinta-feira, a incidência de novos casos monitorada pelo Observatório Covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) aponta para um novo recrudescimento da pandemia nas próximas semanas. Segundo os pesquisadores, na semana encerrada em 22 de maio, houve aumento da taxa que mede a quantidade de novas infecções, o que se soma a altos patamares de testes positivos para o diagnóstico da doença e pode se refletir em crescimento dos óbitos em até duas semanas.
O cenário de alerta também se apresenta na análise da ocupação dos leitos de UTI, já que os pesquisadores identificaram que a tendência de queda no número de internados desde o segundo pico da pandemia foi interrompida. O boletim chama atenção para a situação preocupante da Região Nordeste, onde Sergipe aparece com taxas de ocupação perto de 100%. Ao todo, são taxas de 98% nas UTIs da rede pública e 90% nas da rede privada, segundo a Secretaria Estadual de Saúde.
Os números da pandemia não deixam dúvidas: Alagoas corrigiu os rumos depois de um início desastroso, enquanto o governo de Sergipe cede a pressões, coloca a população em risco e não agrada a ninguém.
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P.S. Alagoas vacinou, neste sábado (29), pessoas sem comorbidades com 55 anos; Sergipe parou nos 60 anos há 30 dias.
* É editor do Jornal do Dia
(Texto publicado Originalmente no Jornal do Dia)