Por Gilvan Manoel *
Dependendo de vacinas do governo federal e com uma aplicação muito lenta nos municípios, o governo de Sergipe segue protelando a adoção de medidas mais restritivas em combate a covid-19. Com hospitais lotados e poucas vagas de UTIs disponíveis, a maioria dos estados – inclusive a vizinha Bahia – adotou lockdown e toque de recolher, para evitar que o quadro fique ainda pior.
Alguns hospitais de Sergipe começam a apresentar superlotação tanto em leitos de enfermaria quanto de UTI para pacientes com covid. O quadro mais grave é entre os hospitais particulares. Há 10 dias todos eles estavam com lotação completa. Na sexta-feira, segundo boletim da Secretaria de Estado da Saúde, os hospitais Primavera e Unimed não possuíam leitos disponíveis. Há duas semanas, o Primavera chegou a fechar a emergência porque não tinha mais como atender ninguém.
Semana passada, o cientista Miguel Nicolelis, que deixou a coordenação científica do Consórcio de Governadores do Nordeste porque eles não seguem as recomendações técnicas, advertiu, em entrevista concedida à jornalista Constança Tatsch, no Globo, que o Brasil corre o risco de colapsar em razão da covid-19. “Eu estou vendo a grande chance de um colapso nacional. Não é que todo canto vá colapsar, mas boa parte das capitais pode colapsar ao mesmo tempo, nunca estivemos perto disso. Se eliminar o genocídio indígena e a escravidão, é a maior tragédia do Brasil. A ausência de comando do governo federal é danosa. Isso é uma guerra. Em outros países essa é a mensagem que foi dada, veja a China”, diz ele.
“O Brasil precisaria de um lockdown nacional, com uma campanha de comunicação, porque a gente precisa da colaboração da população. A população precisa acordar para a dimensão da nossa tragédia. Nessa altura, essas medidas de restrição de horário não têm efeito, porque o grau de espalhamento é tão enorme que se compensa durante o dia, quando as pessoas vão aos restaurantes, shoppings, pegam transporte lotado, não funciona”, aponta.
Na quinta-feira, o governador Belivaldo Chagas participou de uma reunião com o Comitê Técnico-Científico e de Atividades Especiais (Ctcae), que discutiu os últimos dados da pandemia e expressou preocupação com dois fatos principais: a alta ocupação de leitos destinados ao coronavírus, com alguns hospitais particulares à beira da superlotação; e a detecção de pelo menos três novas variantes do coronavírus em circulação no estado da Bahia: a do Amazonas, a da Inglaterra e uma terceira originária do Peru.
Na reunião, pesquisadores pediram que o governo do Estado instalasse barreiras sanitárias nas cidades sergipanas que fazem divisa com a Bahia, numa tentativa de controlar a entrada de pessoas com suspeita da doença. O governador disse que essa medida não seria necessária agora, mas recomendou que as prefeituras das cidades de divisa façam esse controle. “Nós não vamos fechar barreiras. Não há razão para fechar barreiras e impedir o direito de ir e vir. Agora, é prudente que os municípios coloquem barreiras sanitárias para abordar as pessoas que estejam transitando da Bahia para cá. A cepa que apareceu na Bahia, também apareceu aqui e a gente tem que ter essa preocupação”, disse ele. Só que da mesma forma que as prefeituras não conseguem vacinar quatro gatos pingados, também não adotaram medidas de proteção nos municípios de Canindé de São Francisco, Poço Redondo, Monte Alegre, Carira, Nossa Senhora da Glória; Simão Dias e Poço Verde, divisas com a Bahia.
Ficou decidido ainda que os integrantes do Ctcae farão suas reuniões de semana a semana, e não quinzenalmente, como vinha ocorrendo. Essa mudança é por conta da evolução dos novos casos de coronavírus e do impacto causado pelas aglomerações e festas clandestinas que aconteceram durante o feriadão de Carnaval, mesmo com o cancelamento do ponto facultativo para os servidores públicos. Mas por enquanto estão descartadas qualquer medida que possa garantir um maior isolamento social, mas avalia a possibilidade do toque de recolher. “Neste ano, tivemos uma diminuição de ocupação de leitos e chegamos a 317 leitos ocupados, mas voltamos para 386. Se tivermos um crescimento desses números, indiscutivelmente, estaremos decretando o toque de recolher, mas essa decisão só será anunciada na próxima quinta-feira”, reafirmou.
Com isso, Sergipe segue sem vacina e sem medidas mais restritivas para a proteção da população.
* É editor do Jornal do Dia (Artigo publicado originalmente no Jornal do Dia)