Por Gilvan Manuel *
A década que termina no próximo dia 31 de dezembro não foi muito generosa com os sergipanos. O estado atravessou um longo período de crise econômica, o governo deixou de pagar em dia aos seus servidores, muitos fornecedores e prestadores de serviços quebraram sem o cumprimento dos contratos. E, como em todo o mundo, encerra a década com a pandemia de covid-19, que já atingiu quase 110 mil pessoas em Sergipe, com mais de 2.400 óbitos. E as perspectivas para o início da próxima década, em 1º de janeiro, ainda são sombrias, ao menos até a vacinação em massa da população.
Nesta década, o estado de Sergipe teve apenas três governadores: Marcelo Déda (PT), Jackson Barreto (MDB) e Belivaldo Chagas (PSD), no exercício do segundo mandato. Os três do mesmo grupo político. O período também foi pelo luto. Déda, aos 53 anos, morreu de câncer em 2013 no ápice de sua carreira política; João Alves Filho, governador por três mandatos, morreu no mês de novembro, aos 79 anos, depois de uma longa enfermidade iniciada na reta final de sua última gestão como prefeito de Aracaju (2013-2016), mal de alzheimer, que acabou provocando uma parada cardíaca.
Do ponto de vista econômico, a década 2011-2020 marcou a saída da Petrobras do estado de Sergipe. Em outubro, a companhia anunciou a etapa de divulgação de oportunidade (teaser) referente à venda da totalidade de suas participações no Polo Carmópolis, que inclui 11 concessões de campos terrestres localizados em Sergipe. Estão incluídos na oferta 3 mil poços de petróleo em produção, 17 estações de tratamento de óleo, uma estação de gás em Carmópolis, aproximadamente 350 km de gasodutos e oleodutos, o Terminal Aquaviário de Aracaju (Tecarmo), o oleoduto Bonsucesso-Atalaia, uma unidade de processamento de gás natural e uma estação de processamento de óleo.
No mês de julho, a Petrobras já havia anunciado o “descomissionamento” da FPSO Piranema na Bacia de Sergipe-Alagoas. FPSO significa Floating Production Storage and Offloading (unidade flutuante de produção, armazenamento e transferência). Instalada na Bacia Sergipe-Alagoas, litoral sul, na altura de Estância, a plataforma foi inaugurada em 2007 e tem capacidade de produção de até 30 mil barris por dia de óleo e estocagem de 300 mil barris.
A partir da década de 1970, a Petrobras foi responsável por transformar Aracaju no maior PIB per capita do Nordeste. Isso já vinha mudando há alguns anos e a desativação da companhia deverá ter reflexos já nos índices de 2020, que devem ser divulgados no início do próximo ano.
A pobreza do estado tem reflexos claros também na capital. O Anuário Socioeconômico de Sergipe, edição 2019, já mostrava que O IDH praticamente estagnou para o Nordeste e Sergipe, depois de crescer pouco entre 2000 e 2013. O de Sergipe esteve sempre muito próximo ao nordestino e os de ambos sempre abaixo do brasileiro.
Sergipe apresentou em 2017 o quinto pior IDH dentre os estados brasileiros. A melhora do IDH de Sergipe no comparativo entre 2000 e 2017 foi maior apenas do que a do Pará, comparados os estados de pior IDH em 2017. Com a covid-19 o quadro piorou.
Medida pelo Índice de Vulnerabilidade Social (IVS) calculado pelo IPEA, a pobreza em Sergipe também praticamente estagnou ao nível de 2013, depois de significativa queda entre 2000 e 2011. O desempenho do IVS de Sergipe se assemelha ao nordestino e ao brasileiro, sendo a desse último melhor.
No comparativo entre os estados brasileiros, Sergipe dividiu a sexta colocação com o estado da Bahia de pior Índice de Vulnerabilidade Social em 2017. Dentre esses sete de pior colocação, Sergipe foi o terceiro de pior diminuição do índice desde 2000.
O percentual de pessoas pobres em Sergipe seguiu, em 2018, a trajetória de crescimento iniciada em 2015, depois de uma sequência de queda desde, pelo menos, 2012. Enquanto o percentual de pobres em Sergipe em 2018 aumentou, o do Brasil e Nordeste diminuíram. Esse foi o primeiro ano quando os desempenhos desses percentuais não se acompanharam mutuamente.
Com o crescimento contínuo de seu percentual de pobres, Sergipe ocupou em 2018 sua pior colocação frente aos demais estados brasileiros (6º maior percentual de pobres), sendo um dos três desses seis estados de piores percentuais que cujo percentual aumentou no comparativo entre 2018 e 2012.
Sergipe foi o sexto estado com maior percentual de pessoas miseráveis em 2018. Dentre os seis estados com ele comparados, Sergipe foi o terceiro a apresentar maior crescimento daquele percentual.
A década 2011-2020 não foi generosa com os sergipanos. E as perspectivas ao menos para o início da próxima década também não são boas. Principalmente se a Petrobras retirar da lista de prioridade o projeto de produção em águas profundas na costa de Sergipe. Prevista para 2024 dentro do plano 2020-2024, a primeira plataforma do projeto em águas sergipanas é considerada no momento, nas apresentações institucionais da Petrobras, como “em estudo”.
* É editor do Jornal do Dia
(Texto publicado Originalmente no Jornal do Dia)
5 Comments
Argumentação sólida do jornalista Gilvan Manoel. Com dados inquestionáveis sobre o nosso Estado, ele faz uma séria advertência sobre a próxima década .Tomei como um alerta .Parabéns.
Parabéns meu contemporâneo Gilvan Manuel pelo artigo honesto e esclarecedor sobre Sergipe. Dentre vários jornalistas que se omitem em dar sua opinião sobre o estado de degradação de Sergipe durante os três governos da dita esquerda sergipana , existe um que abre os olhos dos conterrâneos de forma honesta e clara, apontando dados que escancaram a realidade da decadência do Estado de forma triste e assustadora . Realmente o estado entrou em um espiral de decadência própria das gestões esquerdistas ordinárias. Pena que os sergipanos ainda se deixem enganar com conversas e lorotas de políticos demagogos e mal intencionados.
Não foi bem a falta de generosidade de um ente impessoal denominado década, mas sim a incompetência e irresponsabilidade de gestores públicos que causaram o retrocesso e o degringolar das condições sócio-economicas do nosso estado.
Muito bom! Parabéns pela avaliação. Dificil ver um jornalista independente no nosso estado..
Excelentes as colocações do grande jornalista Gilvan Manoel. Será que essa plêiade de incompententes que governaram e governam Sergipe até hj, com a exceção de João Alves não observaram o estado vergonhoso da economia sergipana? Pra onde foram os recurso do proinvest que seria a redenção de Sergipe, segundo governadores do grupo de esquerda? Demonstrado se encontra a incompetência e a imbecilidade dos nossos governantes, os quais se preocupam em aumentar taxas e imposto pra extorquirem cada vez mais uma população economicamente miserável que habita este estado que é uma vergonha dentre os demais do nordeste.