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Sertanejo comemora safra de algodão agroecológico

O algodão voltou a brotar e resgatar uma cultura adormecida há mais de 30 anos no semiárido. A celebração do acontecimento inédito reuniu em dezembro as famílias agricultoras durante a primeira Festa da Colheita do Alto Sertão Sergipano. Em apenas um ano, a colheita contabilizou mais de 6 toneladas de algodão em rama, além de 4 toneladas de milho, 1,5 tonelada de feijão e gergelim onde foi implantado o projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos, que é desenvolvido em sete territórios de seis estados nordestinos.

O encontro que celebrou a agrobiodiversidade local aconteceu na comunidade Esperança, município de Porto da Folha, e contou com as presenças de representantes da Universidade Federal de Sergipe, Governo do Estado, Embrapa Algodão, Diaconia (organização social de inspiração cristã e sem fins lucrativos), Centro Dom José Brandão de Castro, Cooperaterra (responsável pela comercialização do algodão no território), movimentos sociais (MST e MPA), além de representantes dos agricultores e agricultoras. São 130 famílias envolvidas, segundo o professor Felipe Jafilm, coordenador do projeto no Campus do Sertão, em Nossa Senhora da Glória.

Agora em fevereiro, mais um motivo para comemorar: a safra 2020 do algodão que está sendo produzido nos sete territórios de atuação do projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos já conta com a intenção de compra e venda pelas empresas do comércio justo. As famílias agricultoras comemoraram a assinatura dos contratos firmados pelo segundo ano consecutivo com o aumento de 5% no valor do quilo da pluma, passando dos atuais R$ 12,57 para R$ 13,20 (pluma certificada).

A novidade foi anunciada pela empresa compradora da pluma em seis dos sete territórios, a Vert Shoes (marca de tênis de origem francesa), durante a solenidade de renovação dos contratos, ocorrida no Recife, no último dia 13. O território do Sertão do Pajeú (PE) tem acordo pré-estabelecido de venda da safra com a espanhola Organic Cotton Colours. Além das empresas compradoras, estiveram presentes na assinatura dos contratos representantes de todos os Organismos Participativos de Avaliação da Conformidade (OPAC’s), Embrapa Algodão, UFS, a instituição financiadora Laudes Foundation e os novos parceiros do projeto, o Programa Mundial de Alimentação (WFP) e o Instituto Senai da Paraíba.

A Vert Shoes anunciou também premiações em dinheiro para os OPAC’s e famílias agricultoras. Cada associação receberá R$ 2,50 por quilo de pluma produzido por cada agricultora e agricultor, um crescimento de 150% comparado com o valor praticado em 2019. A medida visa ajudar essas associações a fortalecerem o Fundo de Incentivo à Autonomia Financeira (FIAF), e consequentemente, os processos administrativos, jurídicos, aquisição de insumos, infraestrutura, equipamentos e o que mais for necessário. As famílias também serão contempladas com mais R$ 2,00 por cada quilo de pluma produzido, além do novo valor anunciado, se atenderem a alguns critérios estabelecidos no contrato, como o preenchimento correto do caderno de campo.

No último dia 10 de fevereiro, a Diaconia visitou a unidade do Senai Indústria Têxtil e Confecções da Paraíba para conhecer as instalações do parque têxtil que deverá fiar toda a pluma produzida pelas famílias agricultoras. Ou seja, a próxima safra não será mais enviada às empresas compradoras em formato de pluma, mas em fios, agregando valor ao produto e proporcionando uma renda maior para as famílias no ato da venda.

Algodão tinha desaparecido

O coordenador do projeto pela Diaconia, Fábio Santiago, faz um resgate histórico do algodão na região e ressaltou a importância da retomada e, principalmente, da primeira safra colhida em um ano de execução do projeto. “Na década de 80, houve um desaparecimento de todo o algodão no semiárido nordestino por diversas razões. Após uma década e meia sem plantio, pequenos agricultores familiares do Ceará se reuniram para retomar a cultura, só que numa nova proposta, em bases agroecológicas, visando o empoderamento das famílias e o acesso ao mercado justo. E em 1998 houve a primeira safra desse algodão, aproximando empresas aos agricultores e agricultoras”.

O projeto deverá ser ampliado, segundo informa o secretário da Agricultura, André Bonfim. “O Governo de Sergipe vê com excelentes olhos esse projeto, tanto que convidamos a Diaconia para fechar uma proposta de ampliação do projeto do algodão por meio do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), que já atua em 15 municípios de Sergipe. Nossa contrapartida deverá ser na ordem de R$ 400 mil para potencializar a produção consorciada nesta região, visando a aquisição da primeira máquina descaroçadeira móvel de algodão, bem como tecnologias poupadoras de mão de obra (plantadeiras, colheitadeiras e roçadeiras)”, anunciou.

“Este projeto traz um simbolismo muito forte para a UFS. Momento onde a Universidade comemora ter aberto as portas para receber as famílias agricultoras e organizações para trabalharem juntamente conosco na execução desse projeto. Nosso compromisso é sempre ajudar na transformação para melhorar a realidade local”, garante o vice-reitor da UFS, Valter Joviniano de Santana Filho.

Elielma Vasconcelos, do Movimento dos Pequenos Agricultores do Alto Sertão Sergipano, destaca a participação das organizações para o sucesso do projeto. “Esse projeto é muito simbólico para nós dos movimentos sociais porque foi construído por organizações que fazem a história do alto sertão. As instituições de pesquisas também têm colaborado muito nesse processo. E o resultado disso é o que estamos vendo aqui. Todos e todas estão de parabéns”.

O agricultor Humberto Vieira dos Santos, presidente da Cooperaterra, chegou a colher quase 600 quilos de algodão. “Esse não é um momento só meu. É de todo mundo aqui”. A agricultora Sônia Maria da Silva também foi agraciada pelo seu desempenho na primeira safra e representou o público feminino dentro do recorte de gênero que é uma das premissas do projeto. Ela colheu quase 200 quilos de algodão. “Estou muito feliz e a palavra de ordem é continuar. Espero que mais mulheres produzam algodão assim como eu e que esse projeto nos traga muita coisa boa”.

Apoio da C&A

Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos é uma iniciativa coordenada por Diaconia, em parceria estratégica com a Embrapa Algodão e a UFS – Campus Sertão. O projeto conta com o apoio técnico e financeiro do Instituto C&A.

Para a execução do projeto nos territórios, a Diaconia estabeleceu parcerias com ONG’s locais com experiência em Agroecologia que serão responsáveis pelo assessoramento técnico para fortalecer os OPACS e a produção agroecológica.

No Sertão do Piauí, a Cáritas Diocesana de São Raimundo Nonato desenvolve as atividades na Serra da Capivara. No Sertão do Cariri, na Paraíba, o trabalho está sendo realizado pela Arribaçã. No Sertão do Araripe, em Pernambuco, as ONGS Caatinga e Chapada assumiram conjuntamente as ações do projeto. As atividades no Alto Sertão de Alagoas e no Alto Sertão de Sergipe estão a cargo do Instituto Palmas e do Centro Dom José Brandão de Castro, respectivamente.

No Sertão do Pajeú (PE) e no Oeste Potiguar (RN), territórios onde a Diaconia já mantém escritórios e atividades, ela mesma se encarrega da implementação das ações locais do projeto.

Marcos Cardoso, gabinete da Reitoria da UFS

Tádzio Estevam, comunicador da Diaconia

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