Por Maria Nely Santos Ribeiro*
Se estivesse conosco, estaria vivendo seus 100 anos de vida. E agora, em julho, marcando presença, em algum jornal, pra lembrar que na História de Sergipe “o 8 de julho significa sua data maior”. Sem dúvida um dia especial para sergipanas e sergipanos, merecedor de celebrações e reflexões. Razão porque presentifico o passado da Emancipação Política de Sergipe através de dois aspectos: como o assunto foi abordado ao longo tempo? Por que Thétis participa do título do artigo?
Felisbelo Freire, o pai da historiografia sergipana, é figura pioneira. Apoiado em fontes documentais, sua “História de Sergipe” (1891) registra a independência como uma retribuição do monarca à ajuda dos sergipanos às forças governistas por ocasião da Revolução Pernambucana de 1817. O argumento de Freire atravessou o “Centenário da Independência” (1920) sem discordâncias e contestações, mantendo-se inalterado durante oitenta anos. A historiadora Maria Thétis Nunes em “Sergipe no Processo da Independência do Brasil” (1972) interrompeu esta hegemonia. Sem descartar a opinião de Felisbelo, incorporou novos dados e argumentos, vendo no ato real da assinatura “uma justificação na prosperidade econômica que Sergipe vinha alcançando nos começos do século passado, especialmente ligada a produção açucareira, combinada a uma tentativa de reforma político-administrativa do governo real”. Thétis tem o mérito de destacar o papel das Câmaras Municipais na construção de um sentimento de autonomia local ajudando a compreender a participação nos acontecimentos que envolveram Sergipe no processo da Independência do Brasil. Ou seja, ao tratar da Independência do Brasil, buscou os motivos para a separação da Capitania de Sergipe del-Rei da Bahia. Verificando como tudo aconteceu, deduzo constatando outros acontecimentos que os fatos sobre a História de Sergipe passaram a despertar atenção. Claro, demorou um pouco. Três décadas da publicação de Maria Thétis, o tema emancipação, enquanto reflexão e história-problema, foi retomado no ambiente acadêmico. Isto se deve à influência da Nova História na Historiografia brasileira “contribuindo para o desenvolvimento de pesquisas marcadas pela ampliação de objetos, de problemas e de revigorados enfoques teórico-metodológicos” (EDNA MATOS ANTÔNIO, 2012).
Enfim, por que Thétis participa do titulo do artigo? Por que escreveu “O Sergipe no processo da independência do Brasil”, publicado em cadernos da UFS, nº 02, ano de 1973, foi AULA MAGNA proferida por Thétis, em abril do mesmo ano?
O ensaio da lavra da pesquisadora Maria Thétis datando de 1972 destinou-se às comemorações do “Sesquicentenário da Independência”. Logo, uma existência cinquentenária. Daí em diante, por ocasião da efeméride, Thétis passa a publicar, principalmente na Gazeta de Sergipe, uma síntese do ensaio-histórico com o titulo “O significado do 8 de julho na História de Sergipe”. Devo registrar que eu, ainda, não fazia parte do corpo docente da Universidade Federal de Sergipe, porém, tinha publicado “Sergipe pré-colonial e Colonial”, patrocinado pelo Departamento de Cultura e Patrimônio Histórico (DCPH), onde me encontrava atuando como pesquisadora. Por conta disto, Thétis me oferta um exemplar: “Nely para você que anda envolvida nas pesquisas sobre a História de Sergipe, oferece a ex-professora. (março de 1973)”
Em 1972, embalado pelo nacionalismo compulsório do tipo “Brasil ame-o ou deixe-o”, o país viveu as comemorações dos 150 anos da Independência do Brasil. Em Sergipe, o evento foi rememorado de diversas formas e maneiras. No caso da Universidade, o Reitor criou uma comissão para elaborar e coordenar as atividades. O fato originou o Festival de arte de São Cristóvão realizado entre 1º a 3 de setembro, evento que serviu para inaugurar a política de extensão cultural da UFS. Thétis integrou a comissão, como foi escolhida para escrever sobre o sesquicentenário da independência. Consequência da consequência: a produção do “Sergipe no processo da Independência” e, o mais importante, conduziu Thétis cada vez mais para pesquisas em Arquivos, influência dos professores Frederico Edelwisses, Thales de Azevedo e José Calazans Brandão e Silva. Deste modo, sem suprimir os artigos sobre a educação, passou a escrever sobre assuntos históricos. Nesta fase que se estendeu aos dias do ano 2009 identificamos a Thétis professora-historiadora e a Thétis articulista.
Em que pese a existência de bons historiadores e a chegada de outros da nova geração, há muito que escrever sobre o significado do nosso 8 de julho. Os tempos são outros, bem assim os historiadores, todavia, Maria Thétis Nunes sempre será referência
* É historiadora, professora aposentada da UFS.
PS. Neste sábado, às 9 horas, no Palácio Museu Olímpio Campos, o Governo do Estado comemora a Emancipação Política de Sergipe com a entrega da Medalha do Mérito Historiadora Maria Thétis Nunes. Uma das agraciadas será a professora Maria Nely Santos Ribeiro, que fará uma palestra sobre a vida e a obra da homenageada.